sexta-feira, 31 de outubro de 2025
Nossas Histórias
Quando penso em escrever sobre minhas histórias, sinto-me um tanto quanto egoísta, pois inevitavelmente ela passa pelas histórias de muitas pessoas, começando pela de meus pais, o apoio, o afeto, o conselho, o carinho, depois tem os professores, mestres inesquecíveis, os colegas de escola, as brincadeiras do recreio, a espera interminável pela sineta, e todos saíamos correndo para casa. O antigo casarão de madeira, a estrada de chão onde brincávamos, minha enferrujada bicicleta, agora abandonada ao lado do velho chalé. Minha infância, uma parte da minha história.
E a vida vai passando, tem gente que parte, mas não sem antes deixar sua história, assim como tem gente chegando, e trazendo sua história para fazer parte da minha. É como um baile de máscaras, onde rodamos pelo salão trocando de par a cada nova volta, com a melodia da vida que nos empurra para mais uma dança, mais um novo giro no salão. E lá vamos nós, mesmo quando choramos sozinhos, sorrindo para a multidão. Histórias que se cruzam, e deixam marcas para a vida toda.
Minha história, formada pelas histórias de muitas pessoas, colegas, amigos que não vejo mais, amores não correspondidos, abraços que em alguns momentos alegravam, em outros consolavam, tudo tão normal, e a vida segue a contar nossa história. Pessoas normais, pessoas como eu, como você, cada uma delas com seus problemas, seus sonhos, seus objetivos, e suas histórias.
quarta-feira, 29 de outubro de 2025
O Conforto de Vitimismo.
O conforto do vitimismo.
Criar e estreitar laços com as pessoas é saudável para todas as relações. No entanto, é preciso sempre ter cautela para que isso não se torne uma dependência emocional.
Algumas pessoas não querem se curar, apenas buscam um pouco de atenção, o sofrimento se torna uma situação de conforto, e a realidade se transforma em um enorme palco, onde representar sofrimento traz atenção. Alguns terapeutas afirmam que o sofrimento psíquico existe por falta de apego, de alguém por perto para atender, satisfazer alguma vontade momentaneamente.
Quando alguém está confortável no papel de vítima, não quer a cura, não procura a libertação. O acolhimento quando acontece, cria uma dependência do sofrimento, pois se não existir a dor, poderemos ficar sozinhos.
Freud explica o sentimento de dependência em uma relação passional e sua ligação com a diminuição da autoestima e o medo do desamparo. Segundo ele, o indivíduo tem sua autoestima reduzida quando ocorre uma atenção exagerada e quase obsessiva. O cuidado deve existir, mas nunca com o sentimento de superproteção.
domingo, 26 de outubro de 2025
Sou senhor de minhas escolhas?
Sigmund Freud ( 1856/1939) acreditava que a mente seria a responsável pelas decisões conscientes e inconscientes e que possuem como origem os impulsos psicológicos. O id, o ego e o superego são os três aspectos da mente que Freud acreditava que fossem as camadas da personalidade de uma pessoa. O que chamamos de realidade externa não está isento a interferências internas.
Cada um de nós caminha dentro de uma versão particular de mundo, filtrada e ordenada por lembranças, crenças e emoções guardadas que vivenciamos durante nossa vida.
A neurociência já demonstrou através de pesquisas, que mais de 90% da atividade cerebral acontece fora da consciência. Em nosso inconsciente já temos uma estrutura psíquica de reações pré determinadas, tendo como base nossas experiências anteriores e aquilo que julgamos serem nossas preferencias. Ou seja, mesmo quando acreditamos escolher livremente, nossas decisões são atreladas por padrões que atuam em silêncio. É por isso que tantas situações parecem se repetir, mais e mais, e não conseguimos evitar. Relações que voltam com outros rostos, medos que insistem em aparecer de maneiras diferentes, com outras máscaras. Desde o seu texto de 1914, Recordar, repetir e elaborar, Freud anuncia que “o que não se pode recordar (o que ele buscava no trabalho de transferência), repete-se. Ele nomeou essa repetição de Agieren. O que interessava à Freud nessa época era, acima de tudo, a relação da compulsão à repetição com o trabalho do inconsciente na transferência do psiquico para uma realidade externa. Não é o destino nos punindo, é o nosso inconsciente pedindo luz, tentando novamente, buscando quem sabe, um final diferente. E nós nem nos damos conta disto.
Quando passamos a observar esses movimentos internos, algo muda externamente. O mundo fora começa a responder de outra maneira. Conseguimos observar fora da visão pré concebida pelo inconsciente. Não porque a realidade muda de uma hora para outra, mas porque nossos olhos aprenderam a ver o externo de uma maneira diferente.
quarta-feira, 22 de outubro de 2025
Filosofia do Neocriticismo
O neocriticismo é uma doutrina das correntes filosóficas que se caracteriza em retornar a filosofia crítica kantiana para fundamentar seus conceitos. Iniciado na Alemanha em meados do século XIX , deu origem a algumas das mais importantes manifestações da filosofia contemporânea. A partir do neocriticismo a filosofia passou a dedicar-se à reflexão crítica sobre ciência para, então, poder encontrar condições que a tornem válidas.
O neocriticismo deixa a metafísica da matéria e a do espírito, opondo-se aos positivistas. É contrário a metafísica idealista e a ciência empírica. As principais escolas foram a Escola de Baden, que tendia a ressaltar a lógica e a ciência. Além da Escola de Marburgo, que influenciaram boa parte da filosofia alemã posterior como Historicismo e a Fenomenologia.
Podemos afirmar que o Criticismo é uma doutrina filosófica que nega todo o conhecimento cujos fundamentos não tenham sido analisados criticamente. Elaborada pelo filósofo iluminista Immanuel Kant (1724-1804), por isto, também é conhecida por Criticismo Kantiano.
Insatisfeito com ambas doutrinas e inspirado nas ideias do empirista David Hume(1711-1776) outro filósofo da época do iluminismo, Kant propõe uma abordagem que se contrapõe ao empirismo e ao racionalismo.
Para Kant, o conhecimento é adquirido por meio da interação entre o objeto e o sujeito, e tem como ponto de partida o interesse do indivíduo em aprender sobre o objeto, ou seja, Kant coloca o sujeito como peça principal em uma relação cognitiva.
Kant critica o racionalismo e o empirismo, pois defende que ambas as doutrinas não consideram o papel ativo da pessoa no processo de aquisição do conhecimento. Dessa forma, Kant estabelece limites para o intelecto humano em relação ao conhecimento. Diferente de uma perspectiva ceticista, Kant acredita na possibilidade do conhecimento, mas defende que o indivíduo tem um conteúdo sensível a partir do qual ele capta e interpreta informações.
O criticismo construiu-se como uma opção metodológica ao racionalismo e ao empirismo, duas doutrinas que há séculos dividiam os estudiosos sobre a maneira pela qual o conhecimento é adquirido. Kant defendia que o conhecimento é resultado da interação entre o objeto de estudo e o sujeito. Para ele, os indivíduos possuem um conjunto de conhecimentos "a priori", que são anteriores às experiências e conhecimentos resultantes de experiências, chamados de "a posteriori".
segunda-feira, 20 de outubro de 2025
A Alma no Espelho
Como escreveu Machado de Assis em seu conto “O Espelho,” publicado originalmente em 8 de setembro de 1882 no jornal Gazeta de Notícias , expondo que a nossa “alma externa”, ligada ao status e prestígio social, à imagem que os outros fazem de nós, é muito mais importante do que a nossa “alma interna”, ou seja, a nossa real personalidade.
A alma interna: silenciosa, pessoal, sensível — aquilo que somos no íntimo, quando ninguém está olhando.
A Alma Externa; visível, construída, social — aquilo que os outros veem em nós, aquilo que vestimos, mostramos, representamos.
Uma das causas fundamentais dos vários problemas que o mundo enfrenta hoje é resultante da disseminação da perspectiva materialista que enfatiza o que é visível ou palpável. Desconsiderando a conexão existente entre a alma interior e exterior, perdendo a noção do verdadeiro valor interno, e buscando o reconhecimento social. E quando isto acontece, encontramos pessoas financeiramente bem sucedidas, com uma visibilidade muito grande, mas extremamente depressivas, amargas, e até mesmo com pensamentos suicidas.
É preciso entender que alma (Atman) é a essência eterna e imutável de um ser. Ela é considerada pura consciência, além de pensamentos, sentimentos e ações, que geralmente estão associados à mente. A mente (Manas), por outro lado, é considerada parte do corpo sutil e é responsável por pensamentos, emoções e decisões. A alma é íntima, cheia de vida, vitalidade e energia. Parece querer constantemente mais vida e vitalidade e, portanto, pode ser uma ameaça para o status externo. Quando você cuida de sua alma, pode descobrir que suas necessidades podem não combinar com seus próprios desejos externos. Isto acontece quando você quer representar algo, ou alguém, a qual sua alma interna não está adaptada.
Quando estamos sós, e olhamos no espelho, qual alma estamos vendo?
A alma interna, como nossos verdadeiros sentimentos e desejos?
Ou alma externa, com a máscara daquilo que a sociedade quer ver em nós?
sexta-feira, 10 de outubro de 2025
Solidão Freudiana
Viver só, ter consigo o comando daquilo que faz, onde vai, sem precisar justificar-se com ninguém, alguns podem chamar isto de liberdade, outros chamam de solidão. Um tema por muitos escritores abordado, mas que até hoje nos coloca em uma posição de interpretação, afinal, seria bom viver só?
Sigmund Freud, um médico neurologista e importante psicanalista austríaco, aborda com muita propriedade este assunto, para Freud, a solidão é uma condição estrutural e ineliminável da existência humana, que se manifesta como a ausência do outro e pode ser uma fonte de sofrimento psíquico, como no caso da melancolia. Ele também reconheceu uma forma positiva de estar só, a solitude, essencial para o trabalho intelectual e as descobertas, e o "isolamento esplêndido" quando ele é quase como uma clausura,
No livro Psiclogia das massas (editora Civilização/2022), o escritor Ricardo Goldemberg faz uma análise sobre a solidão, pela ótica do psicalista Sigmund Freud. Para Freud, a solidão tem uma participação direta quando se fala em sofrimento silencioso, angustiante e depressivo.
Desconexão e isolamento:
A solidão pode ser um sentimento de desconexão e isolamento do mundo e dos outros, um estado que se diferencia do isolamento voluntário (solitude), de acordo com a psicanálise.
Melancolia e perda:
Para Freud, a solidão pode se vincular à melancolia, uma psiconeurose narcísica que envolve o afeto do luto pela perda de algo, como a perda de uma parte do corpo ou de um objeto amado.
Conflito e falta:
A solidão pode simbolizar a falta, revelando a posição desejante do sujeito diante de um vazio que não pode ser completamente preenchido, mesmo em uma sociedade que preza a autonomia.
A solitude, estar só por opção, é como um estado positivo:
Descobertas e criação:
Freud destacou que as grandes decisões no campo do pensamento e as descobertas só são possíveis para o indivíduo que trabalha em solidão, em uma condição de "isolamento esplêndido".
Desenvolvimento do Self:
Autores inspirados em Freud, como D.W. Winnicott, defendem que a capacidade de estar só, ou solitude, é um sinal de maturidade emocional.
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