segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

As Moedas do Rei Eledur

Pessoa alguma que me conheça colocará dúvida que para executar essa missão que me impus, eu não desenvolva todo o talento de que disponho com a rígida imparcialidade, o escrupuloso testemunho que habitualmente se exigem daquele que deseja ganhar os louros de historiador. Pois este reconhecimento pouco me é desejado, Porem quero em meu relato, mostrar minha visão do acontecido. Em um Local muito distante daqui,existia um rei chamado Eledur, seu reinado era com braço de ferro e com tamanha crueldade, que enquanto seu povo penava por fome e péssimas condições de vida, seu reino era de soberba e luxo. Seu povo deveria todo mês lhe entregar tributos no palácio, sob pena de serem levados as masmorras se nada lhe fosse entregue. Neste mesmo palácio morava Farfan, o bobo da corte, homenzinho de apenas um metro e vinte centímetros  de altura, que com sua roupa multicolorida, seu chapéu de cinco pontas e seus sapatos de tecido com longos bicos, trazia entretenimento ao rei e sua débil corte de beberrões. Farfan fora levado ao palácio quando tinha apenas 5 anos, retirado da tenda de uma trupe de anões atuadores que passava pelo povoado, seus pais não tiveram escolha, pois seria deixar o menino ou assistirem sua morte pela mão do próprio rei. O pequeno palhaço, com suas curtas pernas arqueadas, não tinha motivos para admirar seu rei, e com imensa tristeza aguardava o momento de poder por fim aquela vida de humilhação e desonra. Certa noite, sentado em uma das pilastras do palácio, enquanto costurava os retalhos com os quais fazia suas vestes, Farfan viu passar dois guardas palacianos com uma enorme sacola de couro, extremamente pesada, acompanhados pelo rei, e depositaram a sua carga nos aposentos reais e voltaram todos para o salão. Naquela noite havia uma grande festa e todos os seus conselheiros e nobres amigos do soberano se regozijavam do melhor vinho e de belas mulheres que vendiam seus carinhos por comida e míseras moedas. O maquiavélico pequenino não pensou duas vezes, adentrou ao quarto real e foi direto averiguar a pesada carga, seus pequenos olhos brilharam ao contemplar tamanha quantidade de moedas de ouro, seria o suficiente para viver o resto de sua vida sem precisar mendigar favores de um rei tirano, e quem sabe até reencontrar sua família. Tirando rapidamente seu gorro de cinco pontas da cabeça, tratou de enchê-lo com algumas moedas e furtivamente, pelos escuros corredores do gigantesco palácio, correu, se é que posso assim definir, até a torre do Sino na praça central do povoado. Esta torre tinha,aproximadamente 30 metros de altura, nela existia quatro lados, cada um dos lados tinha um antigo relógio, todos perfeitamente funcionando, porem o mais assombroso é que cada um dos sete relógios marcava um horário diferente. Fato este, que devo admitir, era um tanto quanto curioso, e até mesmo um pouco perturbador. Aproveitando o desenrolar da grande festa palaciana, Farfan fez incontáveis idas e vindas a torre, até ver concluído seu intento por completo, deixando totalmente vazia a sacola do tão desejado tesouro. Já preparava-se Farfan para deixar a torre antes que sua falta fosse sentida pelo malvado rei, quando escutou passos na escada que levava a torre, imediatamente olhou em direção a pequena porta do campanário e o que viu o fez gelar até os ossos. Parado em sua frente, alguém exatamente como ele, sua própria imagem, parecia ao confuso anão que estava a ver-se em um enorme espelho. Os pequenos olhos arregalados e as tremulas e tortuosas pernas demonstravam quão perplexo ficou o  ladrãozinho real . Aquela diabólica imagem se aproximou, e falou sussurrando ao assustado e paralisado ouvinte:  – O que fizeste não esta  certo, devolva o que não lhe pertence. Sem saber o porquê, sem mesmo entender o que estava acontecendo, Farfan respondeu; – Ele já tem muito, e eu fui muito humilhado, esta é minha passagem para liberdade. Respondeu ele, sentindo-se como um insano a falar com a própria imagem.. – Sua família teria vergonha de você. Disse o estranho visitante, enquanto pulava como um macaco ao redor do monte de moedas. – Mas que é você? Perguntou ainda confuso Farfan. --Sou você mesmo, seu idiota, sua  consciência, o íntimo do seu ser. Respondeu o intruso. – Ainda tem tempo, devolva o que roubou e ninguém ficará sabendo. Completou o estranho homenzinho. Farfan pensou delirar, tinha que fazer algo, e rápido --isto só pode ser coisa da minha mente. Pensou o bobo larápio. Chegou então bem próximo a sua própria imagem, pois era ainda incrédulo do que se passava naquela velha torre. Se olharmos com muita convicção, veremos qualquer coisa que estivermos procurando, seja ela o que for, mas para que isto possa acontecer, teremos que ignorar uma infinidade de outras coisas, e uma destas coisas pode ser a verdadeira resposta, mas a ignoramos. Mas para ele não havia outra realidade, aquilo não podia estar acontecendo, era loucura. Talvez não seja real, seja um pesadelo diabolicamente vivido em plena lucidez. Mas a maldade do palhaço real iria muito além. Dizem que não morremos quando estamos sonhando, que nossa alma é imortal, e ele estava a ponto de comprovar a veracidade desta tese. Instintivamente Farfan, jogando-se sobre seu terrível algoz, empurrou o seu inimigo espiritual da alta torre do sino, mas enquanto fazia isto, o pequenino homem sentiu esvaírem-se suas forças, e um breu, como a mais escura nuvem do fundo das trevas cobriu por completo sua visão, sentiu então a terrível dor de seus ossos partindo-se em pedaços, sua respiração aos poucos foi ficando mais escassa.   Naquela mesma  manhã, após o final da grande festa palaciana, o rei foi comunicado pelo capitão de sua guarda, que o bobo da corte havia caído da torre do relógio, que ele havia salvado o tesouro que estava sendo roubado, Farfan estava morto, e as moedas de ouro no sino do campanário.   

sábado, 23 de novembro de 2013

Um Conto Árabe

Conta-se que na província de Asir, nas terras áridas da Arábia,havia um rei de nome Alfar, ele tinha o respeito e admiração de seu povo, pois seu reinado era de justiça e benevolência. Certo dia, o rei foi informado pelo seu conselheiro Kandir, que Tenir, seu cozinheiro real, furtava durante a escuras horas da noite, alimentos da cozinha do palácio para levá-los aos enfermos excluídos do povoado, pelo contagio da praga que devastava a região. Estes desvalidos moravam em cavernas, nas tortuosas montanhas de Jabal. Sem retardamento, mandou o monarca, que fosse imediatamente levado a casa de seu serviçal, acompanhado de seus oito conselheiros e sua guarda real. Onde faria ele, justiça pela pilhagem descoberta.  O que de pronto foi feito, seguindo o cortejo até o local de destino. Ao ver o grande soberano frente a casa de Tenir, foi logo formando-se uma multidão de curiosos. Tomados de viva curiosidade. ---Tenir. Gritou o capitão da guarda real. ---Sua Majestade, o grande Alfar quer falar-te. Completou. O cozinheiro era um homem de estatura pequena e roupas modestas, saiu a porta de sua envelhecida casa e reverenciou o grande governante. ---Em que posso servi-lo ? Meu rei ! Disse o homem. ---Trais-te minha confiança, enganou-me o tempo todo, perdeste por certo a luz da razão. Disse o rei. ---Ó grandioso soberano, se falhei, por Alá peço-te perdão. Mas o rei era justo e severo. ---Por este motivo perderas a vida na forca, e tua casa será queimada, não há,dentro do razoável, possibilidade qualquer de perdão. Sentenciou! Neste momento a esposa de Tenir, de nome Gladis, saiu de dentro da velha  casa e aproximou-se respeitosamente de vossa majestade. – Senhor..Disse ela. Nada tenho a não ser esta casa, se meu marido errou, deixa-me levar comigo pelo menos o que meus humildes braços poderem carregar. A justiça e benevolência sempre andavam juntas, nas decisões de Alfar, e na sua imperturbável calma, sua palavra jamais era contestada ou revogada nem por ele mesmo. ---Minha senhora. Disse o Rei. Nada tens a ver com os logros de teu marido, então entra e pega o que puderes carregar, pois o que tirares da casa estará livre de minha punição.. Após ouvir tão sábia sentença de justiça,Tenir e sua esposa adentraram na moradia novamente, e após alguns segundos, para grande assombro da multidão que ali estava, Gladis saiu de sua velha casa carregando nos ombros seu marido Tenir. Fazendo-se cumprir a palavra do soberano, de que o que ela carregasse em seus braços seria livre de punição. livrando-o assim dos suplícios indizíveis do fogo do inferno.        

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A Morte de Thomas

Para relatar com a mais pura veracidade o ocorrido no início do inverno de Janeiro de 1928, no Vale de Yorkshire, Inglaterra, devo eu, transporta-me para a pessoa a qual me refiro nesta narrativa, o novelista, poeta e grande amigo,Thomas H. homem que dedicou boa parte de sua vida a restauração de velhas igrejas, e somente depois de uma idade já avançada deixou fluir seu talento literário. O estilo um tanto prosaico e bastante objetivo da sua linguagem, cuja temática sempre voltava-se para as agruras da velhice, o amor e irremediavelmente a morte, influiu na reação anti-romântica daquele período. Por tudo isso, foi considerado  pelos críticos como " o último dos grandes vitorianos". Segue um trecho de sua última escrita, encontrada em sua cabana, onde passou seus derradeiros dias. Eu,Thomas H. Por muito tempo permaneci recluso neste chalé, na parte mais distante do vale, talvez tomado pela angustiante saudade de minha falecida esposa Emma, ou quem sabe pela impiedosa velhice que enfraquece-me a cada interminável dia, tirando-me  o que havia de mais pertinente em meu cérebro, a imaginação, a capacidade de escrever e colocar em meus poemas os sentimentos mais puros e verdadeiros de minha alma. Amargurado, vejo, mesmo que com muita dificuldade, pela janela deste solitário refúgio, o passar fantasmagórico de uma vida, e a neblina que envolve a imensidão esverdeada das montanhas, parece invadir este fúnebre local, trazendo consigo um ar de desalento e inércia. Já sem forças e entregue a mercê do meu  algoz destino, em meu leito, percebo que a doença leva-me a um desfecho inevitável, desfecho este, que a algum tempo aguardo ansiosamente, pois estaria a livrar-me de meus tormentos, dos fantasmas do passado que me assombram a cada noite, fazendo-me penar a cada dia em um tormento sem fim.  Ouço o ruído dos passos que se aproximam de meu leito, não posso saber quem chega a minha velha cabana, tento identificar o vulto que de mim se aproxima, mas é em vão, maldita visão, que diminuiu demasiadamente  com o tempo, e me deixa  impotente, sem saber o que esta a acontecer. Seria a própria morte, que diabolicamente estava a bater a minha porta? Seria um anjo, que veio buscar-me, e conduzir-me sei lá pra onde? Ou talvez, Henry, o filho que com 14 anos, partiu logo após o enterro de sua mãe? Mas agora já não faz a menor diferença quem esteja a rodear meu leito de morte, meus cansados olhos, como a névoa mais profunda das florestas, já não distinguem com facilidade a fisionomia de quem quer que seja, nada tenho de valor, que possa interessar a qualquer pessoa. Mas os passos ficam mais próximos, até não acreditar nas palavras ,que pronunciadas em voz baixa e lentamente, chegaram aos meus ouvidos. ---Papai, sou eu....Henry! Pronunciou o visitante. Não sei dizer ao certo, se fui tomado pela alegria do retorno de meu filho, ou pela imensa tristeza pelo tempo em que por ele fui abandonado, pelas marcas que este abandono deixou em minha alma, mas agora isto já não importa, de meus velhos olhos deixam precipitarem-se algumas lágrimas, pois o passado me era desagradável. No momento final de minha existência, Henry estava ali, no meu lado. Pude perceber quando sentou-se ao lado do meu debilitado corpo, segurou carinhosamente minha mão entre as suas. Era o momento da redenção de todos os infindáveis dias de tristeza. – Sei que estás muito doente, meu pai! Sussurrou ele. – E quero ficar contigo neste momento! Completou.   Naquele anoitecer no Vale de Yorkshire, a névoa cobria a terra, sobre as águas flutuavam, ondas fluentes e o esplendor do intenso inverno, o fundo branco do gelo na relva, era como um arco-íris caído do firmamento, mas trazendo também uma tristeza, que é a mais duradoura das impressões, tão duradoura quanto o fardo desta melancolia que vem amargamente me perseguindo pela vida toda. As horas da minha felicidade com certeza a muito já se foram, e o prazer não se colhe duas vezes na mesma vida, como as rosas de Possidônio, que não brotam duas vezes por ano. Quando vemos a vida se esvair de nós, como fino líquido por entre os dedos, tentamos esquecer aquilo que nos faz mal, porem,esquecer é um ato involuntário, pois quanto mais se quer deixar algo para trás, mais isso nos persegue. É quase débil crer que Deus possa dar a alguém um toque de talento, mas completar o restante de sua vida com sofrimento e miséria. Uma terrível sombra caía sobre a minha alma naquele momento, fazendo-a empalidecer e estremecer mortalmente a cada minuto que passava, justamente agora, quando eu mais queria ficar ao lado daquele que foi fruto de um amor divinal, que traz em seus mais simples traços a imagem encantadora de sua mãe.  Mas o cavaleiro da morte se aproximava a galope, podia sentir o vento gélido e aterrador tocar todo meu corpo, o momento de deixar este horrendo mundo estava por chegar. Juntando todas as forças em um último e derradeiro esforço, balbuciei em tom muito baixo…. – Tens então, meu amado filho...Disse eu,em um sopro de voz... – Que registrar em tua memória este último momento comigo. Meu olhar direcionou-se para o lado, como se a procurar algo, ou alguém, as lágrimas escorreram sem controle pelo meu pálido rosto. O medo vem causar-me arrepios, juntamente com a paz que a morte irremediavelmente traz, o limbo das trevas já toma conta de minhas mãos, dos meus braços, minhas pernas, de todo o  interior do meu gélido corpo. Um silêncio tomou conta da velha cabana, que envolveu-se em uma nebulosa escuridão. E inexplicavelmente, meus olhos puderam ver, ao lado daquele leito mortal, a figura linda, divinal, de Emma, mãe de Henry, sorrindo docemente, com o mesmo manto lilás com o qual a cobri seu caixão no dia de sua morte. Como um triunfo final aos meus miseráveis dias.  Então, não mais ouço, nada mais vejo, creio eu, já estar morto.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A Dualidade do Espírito

A dualidade do espírito esta em todos nós, anjo e demônio em luta constante no íntimo de nosso ser, no fundo de nossa alma. Por isto a inconstância de nossas atitudes. Porque o bem sempre procura a luz, e o mal regozija-se nas trevas. muitas vezes é necessário completarmos o ciclo todo de uma vida para só então chegarmos a verdadeira resposta, mas não acontece da noite para o dia, pode demorar uma vida inteira, e o tempo passa a ser nosso confidente, sabendo coisas que só nós sabemos, porem quando guardamos segredos por muito tempo, ficamos dependentes deles, vivemos na intenção de guardá-los custe o que custar, mesmo que ninguém mais queira sabê-los. Com o passar dos anos a dualidade nos traz perdas e ganhos, tudo a seu tempo, tudo como uma  forma troca, não necessariamente com nossa concordância, nosso espírito pode ser benevolente em certas situações, mas também poderá ser tirânico em outras, tudo ao seu tempo. Por ser nosso algoz, e mensageiro cruel da dualidade, o tempo nos leva a beleza, porem recebemos em troca a sabedoria, destrói nossos mais fervorosos sonhos, mas deixa-nos lembranças de valor incalculável. Pelo turbulento caminho entre o bem e o mal, muitas marcas profundas vão encravando-se,como a ferro e fogo em nosso passado, e tentamos cicatrizá-las, mas existem feridas que não podem ser curadas, suas cicatrizes, por mais dolorosas que possam ser, é que nos fazem sermos o que somos, sem elas não seriamos ninguém. Nossas mais profundas recordações nada mais são que uma enorme colcha de retalhos, cerzida com nosso sonhos, medos e decepções. Pensar sobre isto pode ser limitador para algumas pessoas, e enfraquecer o ânimo, a auto estima, e criar um um espírito de derrota, é o mal superando o bem em nosso íntimo. Muitas pessoas  sofrem demasiadamente e temem por coisas que talvez nunca aconteçam, pois só estão em suas mentes. Existe uma grande diferença em viver como em seu mundo real, e viver em um mundo imaginário. Em um mundo imaginário você não tem limites, mas pode ser levado pelo mal a vagar pela escuridão, viverá angustiado pelas suas limitações. Em seu mundo real, guiado pela luz que o bem traz consigo, você também dá asas a imaginação, mas até o limite que seu mundo coloca, evitando a angústia. Dois indivíduos no mesmo corpo, dois espíritos, uma só mente.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A Noite da Caça

Ao chegar a porta de saída do Le Grand Café, senti o ar gelado da noite bater-me ao rosto, e uma neblina cobria, como de costume, toda a extensão da Avenida dos Capucines, neblina esta, apenas cortada pelas fracas luzes dos lampiões de rua. Sentia-me agraciado naquela noite, pois através do convite feito a mim pelos irmãos Lumière, tive a inesquecível oportunidade de assistir a uma exibição de seu mais novo invento ,o cinematógrafo, onde podemos reproduzir algo do passado em uma tela, ou pelo menos é assim que me parece. Já me dirigia para a rua principal a procura de um coche que me levaria a minha aquecedora residência, quando notei que do lado oposto da deserta avenida alguém me acenava impacientemente, em meio a fraca iluminação e aos transeuntes que circulavam após o término da exibição, identifiquei meu velho amigo e comissário de polícia de whitechapel ,George Lusk! E o encontro foi de imediato logo que atravessei a St. Mary Street, após um caloroso aperto de mão, perguntei a George oque fazia na área central de Londres, tão distante de sua jurisdição, e a resposta deixou-me aterrorizado. – Estou em busca do assassino de minha noiva. Disse ele, e continuou – Minha noiva Anne Chapman foi morta a noite passada, e não é a primeira mulher a perder a vida nas mãos deste cruel assassino. Sem ter muito o que dizer, e ainda meio chocado com que ouvira do amigo, perguntei se havia pistas. --Nada, ainda Lawford, apenas que se tornou conhecido como ¨O carniceiro¨ e que circula durante a noite a procura de suas vítimas, sempre mulheres. Perguntei se podia ajudar de alguma forma. – Sim. Respondeu ele, e acrescentou.. – estamos reunindo pessoas para ajudar em uma busca, pois perece-nos que ele foi visto nesta área da cidade, e gostaria que fosses conosco. Nada seria mais penoso a mim do que uma caça a um assassino na escura noite londrina, porem ficava eu impossibilitado de negar o pedido, devido as inúmeras ocasiões em que meu velho amigo me tirara de confusões em tabernas, pelo meu gosto desmedido de absinto. E aceitando o estranho convite dirigimo-nos a casa do Sr. Malcon Thonei, homem da alta sociedade parisiense, que dedicava seu tempo viajando pelo mundo em caçadas e expedições, pois tinha uma predileção por animais, desde que estivessem mortos. Após poucos minutos de caminhada em meio a nebulosa Londres, chegamos a casa de Thonei, que em sua frente já demonstrava a riqueza de detalhes, dois bustos altaneiros com a figura de leões, um de cada lado do gigantesco portão, mostrava a admiração do proprietário por animais, e ao chegar, presa a belíssima porta de carvalho, uma aldrava recoberta com o mais puro ouro servia para que através de uma pesada batida anunciassemos nossa chagada. Ao adentrarmos na luxuosa casa, podemos visualizar algumas pessoas sentadas no entorno de uma grande mesa de grossa madeira, com entalhes simbológicos em suas laterais, e sobre a mesa duas lamparinas acesas com seus vidros na cor verde, deixando um sombreado confortante em todo ambiente. Entre os convidados de sir Thonei, pude identificar a linda acompanhante do anfitrião, Srta. Vanessa Vennes, que se dizia possuir conhecimento profundo de magia negra, também presente o Dr. Victor, que tornou-se conhecido por defender a tese da reanimação humana, Sr. Helsing, exímio caçador de criaturas que ainda não cremos realmente existir. Nos foi apresentado o Sr. Stevenson, escritor escocês, que faria o relato descritivo de nossa busca, e o Sr. Volteire, conhecido escritor que norteia seus trabalho a criticas ao clero católico e aos poderes supremos, que estava apenas de visita ao sir Thonei, mas nos faria companhia. Feitas as apresentações, a estranha trupe de aventureiros saíu sem rumo, noite a dentro, buscando alguém que tampouco sabíamos como era fisicamente, tendo como referência apenas a informação que trajava uma capa escura e usava um chapéu tipicamente usado pela nobreza londrina, e que suas atrocidades eram de uma violência descomunal, buscando sempre o sexo feminino e usando um instrumento afiado para retalhar suas vítimas. Em certo momento, ao me ver aprofundado em pensamentos, que devo confessar nada tinham a ver com aquele momento, o Sr. Volteire, colocando calmamente sua mão sobre meu ombro esquerdo, disse-me: – Uma coletânea de pensamentos, meu nobre amigo, é uma farmácia moral, onde se encontram remédios para todos os males. Creio que esta frase seja o único proveito por mim tirado da infrutífera e congelante busca, pois além de não ter a menor ideia de onde o Carniceiro estaria, ainda ficou muito claro a todos que somos deveras indesejados nas ruelas e locais obscuros da cidade. Ao retornarmos, apressei-me nas despedidas, depois de uma noite fatídica onde perambulamos como insanos por becos e vielas, os primeiros raios de sol já apontavam por sobre as altaneiras chaminés das fábricas, estava por demais ansioso para chegar em meus aposentos e jogar-me em minha cama para um merecido descanso. Ainda estava por concluir a leitura do conto que me foi passado as mãos pelo amigo John Shelter,escritor e filósofo, referia-se ao esboço feito por sua filha Mary Shelter, uma linda jovem de apenas dezenove anos,que queria seguir a linhagem de escritores da família. Seu conto era um tanto irracional, e de um terror quase indescritível, não saberia eu dizer como uma mente tão nova e cheia de vida poderia estar tomada por inspirações tão sombrias, traduzindo através das palavras um exacerbado, ou até então somente desejado, conhecimento do desconhecido, misturando tragicamente a ousadia com o interesse pelo mundo que esta além de nossa compreensão. Como é possível que doces mãos tão pequenas possam transcrever em detalhes, experiências tão terríveis e aterradoras, que incluíam entre outras barbáries, trazer a vida quem dela já se foi. Como também de forma alguma consigo concluir o motivo pelo qual a bela jovem intitulou seu livro com o nome de um tradicional médico Londrino: Frankestein

terça-feira, 23 de julho de 2013

Pensamento Vazio

Sobre a pesada mesa de carvalho descansa uma folha de papel em branco, sentado inquietamente seguro a pena e levo-a até o tinteiro, umedecendo na grossa tinta azul-escuro. Tenho a intenção fervorosa de colocar nesta folha, os sentimentos mais profundos que minha alma puder transmitir neste momento, observo com certa paciência, que a pena ao ser levada sobre o papel, se permite gotejar a escura tinta sobre a lividez ternurante da folha, que aguarda para relatar minha imaginação. Colocando um dos braços sobre a pomposa mesa, que o tempo levou-lhe o brilho, mas deixou-lhe a robustez, coloco minha face sobre a palma da mão, buscando quem sabe lampejos de memórias quase já esquecidas, para saciar em parte esta angustia, este desalento que invade meu peito, talvez se a imaginação permitir, eu consiga um alento a esta efêmera solidão que domina por completo toda esta casa, todos os meus dias. Um pequeno relógio de pêndulo, colocado na parede, sobre a lareira, parece mostrar que apesar das avançadas horas da noite, naquela tórrida sala, o tempo parou, como se negando a acompanhar o infortúnio de uma alma quase perdida. Uma pequena lâmpada colocada sobre a mesa, tenta, porém sem sucesso, com sua branda luminosidade, apascentar o sentimento de desespero que me domina, por nada ter a escrever, seu fraco brilho ameniza nas sombras o tremor, que já a algum tempo, se apossa de minhas mãos. Ao meu redor uma casa vazia, sobre a mesa uma folha de papel em branco, dentro de mim uma alma fúnebre, imersa em uma sufocante névoa de abandono. Como transferir para a ponta da pena, que pinga pausadamente ferindo a candura do papel, algum sentimento, seja ele qual for? Como transformar em palavras o sentimento de coisa alguma?

O Homem e seu tempo

Lúcio Aneu Séneca, um dos mais célebres filósofos estoicos do Império Romano, escreveu em sua obra ``A brevidade da vida´´ que o homem de...