quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Mademoiselle Verônica

Era uma fria tarde de Dezembro, início do inverno parisiense, Já a quase quarenta minutos observava por entre a cortina da janela. A suave neblina e o passar das carruagens com suas belas damas tornava os minutos mais agradáveis,esperava ansiosamente, em uma mesa do luxuoso Le Dome Café, na área central da cidade, a chegada de minha convidada. A oito longos anos não via mademoiselle Verônica, uma dama da alta sociedade inglesa, que por algum tempo dividiu comigo maravilhosos momentos. A minha espera era tomada por lembranças de dias inesquecíveis em Baltimore, em nossa plena e irreverente juventude. Então o tilintar dos cascos do cavalo chamou-me a atenção, era a carruagem que trazia minha convidada. Ela desceu majestosa e belíssima como sempre, cabelos crespos escuros caídos graciosamente sobre um longo vestido branco, luvas na mesma cor, um gracioso chapéu no mais fino estilo londrino. Os olhos como os que conheci no passado, castanhos brilhantes. Ao ver-me logo aproximou-se da mesa, um breve sorriso e um leve aperto de mão foi o que recebi de mademoiselle, que realmente estava ainda mais encantadora. Entre uma taça e outra de chá, nossa conversa, ao contrário do que eu havia previsto, foi tornado-se entediante, e aos poucos sentimo-nos desconfortáveis. Ficou evidente para mim que o que mantém a beleza de seus traços físicos, de forma alguma consegue manter a beleza de seus sentimentos. E mesmo quase imperceptível, a hipocrisia sentava-se ao nosso lado naquele local. Já convencido que o tão esperado convite havia se transformado em um melancólico e cruciante reencontro, onde evidentes ficaram algumas verdades a muito contidas em nosso íntimo mas nunca aceitas por nós mesmos. Percebi de imediato que a visão mais traiçoeira do ser humano é feita com os olhos do coração. Existem momentos em que onda e partícula, matéria e mente, corpo e alma, todos se confundem e mergulham no desconhecido sentimento do subconsciente que os poetas denominaram de amor. Assemelha-se a um perigoso mergulho nas profundezas de um oceano, sem saber ao certo,o que nele irá encontrar. Mas com o passar do tempo, este oceano chamado de amor, ou paixão, torna suas águas mais cristalinas, e só então podemos observar que as mãos se tocam mas nada demonstram, os olhares se encontram mas são vagos, perdidos em um infinito longínquo, os lábios ensaiam um tímido sorriso, tétrico e desajeitado. Poucas palavras são ditas, meras sílabas jogadas ao vento sem a menor preocupação de serem elas, sinceras ou não. Despedi-me gentilmente de mademoiselle Verônica e fui a procura de um coche que me levaria ao hotel onde estava hospedado,na Av. Christian Dewet. Certo estou, de que existem períodos em nossas vidas, em que nosso melhor amigo é o silêncio e nossa melhor companhia é a solidão.

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Lúcio Aneu Séneca, um dos mais célebres filósofos estoicos do Império Romano, escreveu em sua obra ``A brevidade da vida´´ que o homem de...