segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Depois dos 50

A vida passa muito rápida, e depois dos 50 anos parece ser mais rápida ainda. Ela se torna muito curta para que se tenha uma existência medíocre, para que vivamos em uma família que não amamos, para que se tenha um emprego que eu não goste, para exercer uma profissão a qual não nos dediquemos. O filósofo grego Sênega dizia que os tolos têm em comum é que eles sempre estão se preparando para viver, mas nunca entram na vida de verdade. O que estamos fazendo de resto dos nosso dias? De todas as coisas de valor que buscamos, o nosso querer deve estar em primeiro lugar. Valorize-se sempre. Quem não nos procura, não escuta-nos, certamente não sente nossa falta. O destino pode colocar uma pessoa em nosso caminho, mas quem decide se ela fica ou não, somos nós. A cada novo dia procuramos fazer de tudo para que este dia seja excelente, não o tudo do mundo, mas o nosso tudo, na nossa capacidade, na nossa condição. Sei que para isto temos que ter coragem, que não é a ausência do medo, mas a decisão de enfrentá-lo. Mas para isto é necessário que tenhamos convicção de quem somos e até onde nosso limites podem levar-nos. Ser realista é um atributo, mas sempre devemos cultivar a esperança na busca pelo nosso objetivo, pois uma vez passada a esperança a mente fica a mercê de ideias das mais variadas e perigosas. Talles de Mileto, o fundador da filosofia ocidental disse: Conheça e seja você mesmo, e será um homem feliz.

terça-feira, 2 de novembro de 2021

A Ética

Procuremos no dia seguinte ser melhor do que fomos hoje, mas saibamos sem vaidade quem realmente somos, para que mais adiante o mundo não precise lembrar-nos disto. Quando atravessamos épocas difíceis se faz imprescindível preservar uma qualidade fundamental em nossa vida. Algo abstrato que lançado ao fogo não queima, passado ao fio da lâmina não rasga. É um dom ofertado pelos deuses e nada, jamais, deverá destruí-lo. Aquilo que o filósofo francês Renê Sennê (1882/1954), em seu livro" O Tratado" chamou de caráter. Hoje no caminho para o trabalho encontrei um amigo de longa data, e quando me viu abriu um sorriso e disse:" Que bom ver que você está bem". Fiquei feliz pelo seu comentário pois amigos são poucos, escassos ao longa da nossa vida. Temos dezenas de conhecidos e poucos amigos de verdade. Creio que por isto devemos cultivar nossas virtudes e controlar nossos defeitos. Como ser humano temos inúmeros defeitos, porém eles não precisam ser evidenciados em nossas atitudes. Para controlá-los precisamos tomar uma postura ética, a vida com ética fica mais fácil de ser vivida. O filósofo francês Etiene de la Boetie, em seu livro " A Servidão Voluntária"(1563) afirma que " Só pessoas éticas têm amigos, pessoas não éticas tem apenas cúmplices". Uma vida sem amigos é uma vida vazia, sem amigos verdadeiros desperdiçamos nossa vida com momentos fúteis. Os maus não tem amigos, eles apenas temem uns aos outros. Somente pessoas boas tem amizades verdadeiras. O poeta e romancista Mário de Andrade (1893/1945) dizia que Quando agimos certo servimos de exemplo, quando agimos errado servimos de lição. Um dos pontos principais para sermos éticos é exercitar a empatia, pois as pessoas sempre tem alguma coisa que dói, mesmo que não seja perceptível aos nossos olhos. Devemos entender que só será um bom professor aquele que tiver competência para aprender. O historiador inglês Bertrand Russel (1872/1960) escreveu em seu livro ¨Mundo Moderno¨, os estúpidos são presunçosos, enquanto os inteligentes estão cheios de dúvidas.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Fazer o Certo da Maneira Certa

Existem pessoas que não pensam como eu, mas nem por isto estão erradas, mas também existem pessoas que não pensam como eu e nem por isto estão certas. Existem pessoas que não fazem como eu faço e quando aprendo a fazer do jeito delas faço melhor, como também existem pessoas que não fazem como eu faço e por isto não fazem como deveria ser feito. Existem mais de uma maneira de se fazer as coisas de forma certa, mas também existem mais de uma maneira de fazermos as coisas de forma errada. Não basta apenas mudarmos a maneira de realizar uma tarefa para garantirmos um resultado diferente. A vida modifica-se a cada instante, E temos que ter calma quando não conseguimos deixar as coisas como eram anteriormente, isto ocorre porque elas já não são mais assim, não são mais como eram quando as conhecemos. Elas até poderão voltar a serem como eram antes, mas para que isto aconteça, se por ventura acontecer, teremos que ter paciência e muita serenidade. Não devemos fantasiar que ainda são como eram antes, mas também não devemos permitir que a mudança diminua nosso poder de controlar nossas ações, não podemos perder o foco. Estamos falando naquela paciência não é lerdeza, paciência e dar o tempo necessário para as coisas se realizarem por completo. Lerdeza é a incompetência, a falta de vontade de fazer. A cada novo dia devemos examinar nossa rotina, rotina esta que não é monotonia. Rotina é ordenar, organizar tudo aquilo que considero imprescindível para que possa alcançar meu objetivo final. Monotonia é quando uma mesma rotina, por ser repetitiva acaba fazendo com que eu perca o foco, o interesse, e acaba fazendo simplesmente por fazer. E neste momento eu estou sujeito ao erro pela minha displicência. Todo resultado depende do noco esforço, dede que ele esteja concentrado de maneira correta. O esforço de maneira correta gera apenas cansaço, o esforço sem sentido acabada gerando estresse, depressão, esgotamento.

segunda-feira, 31 de maio de 2021

O escritor Sid Fontoura participa da antologia "Histórias para ler e morrer de medo" com o conto O Mistério de Baztan..

A data era 17 de Janeiro de 1887,a muitos dias deixando a Inglaterra bordo da fragata Jesebell, atravessamos lentamente o Oceano Atlântico até a França, continuando minha longa jornada, cruzando a Europa, agora através da ferrovia,pela estrada de ferro Stokton &; Darlington, até chegar ao meu desejado destino. E a partir deste ponto que começo minha narrativa, sobre mais esta incrível experiência a qual presenciei, e que tenho o dever de relatar. Durante a maior parte da tarde, com meu cachimbo na boca e um jornal em cima dos joelhos, diverti-me ora a ver os anúncios, ora a olhar para a rua através dos vidros embaçados pela densa chuva, permitindo tão somente uma visão brumada da rua. À medida que a noite se aprofundava, aprofundava-se também o meu interesse pelas diversas situações que presenciava, porque não só se ia alterando o caráter geral da multidão, saindo das ruas aqueles que dela se utilizavam para ir e vir em seus afazeres diários, e tornava-se mais notório a presença daqueles que a usavam para buscar diversão, à medida que o adiantamento da hora tirava da toca novas espécies de boêmios e andarilhos. As centelhas dos bicos de gás, fracos primeiro, enquanto lutavam com o crepúsculo da tarde, tinham agora vencido e derramavam sobre todos os objetos uma luz brilhante e agitada. Com a fronte encostada aos vidros, ocupava-me assim a examinar o movimento despretensioso dos transeuntes, quando vi atravessar a rua meu esperado amigo Estebam Ramon, uma figura extremamente magra, de sessenta e cinco anos,uma fisionomia que chamava a atenção pela sua absoluta idiossincrasia, deixando pender a barba sobre o peito, que me fez lembrar de imediato a figura de Galileu. A noite chegara e com ela a chuva, que caía grossa, o ar resfriava, cada um tratava de se recolher apressadamente, a rua esvaziava-se. O gás dos revérberos continuava a brilhar, mas a chuva a cada minuto caía mais copiosamente e apenas de vez em quando se viam alguns transeuntes. No quarto onde estava,no Hotel Trinkete, uma antiga mansão no Vale de Baztan, na calma cidade de Elizondo, Espanha, tinha paredes brancas e sacadas com madeira rústica escura. Uma legitima obra de arte da arquitetura espanhola. Seus aposentos guardavam o estilo provincial, com véus de fina seda cobrindo as pomposas camas de madeira. A capital do Valle de Baztan reúne sob seus domínios locais que são distribuídos por colinas verdes nas cordilheiras do Atlântico, em ambos os lados do rio Baztán, que atravessa Elizondo, abundam edificações nobres, como casas e palácios. Onde o mais representativo é o Arizkunenea Palace, além do charmoso bairro de Beartzu. Fortalezas com enormes; torres são comuns no vale, que serviam como proteção durante a Idade Média, onde havia muitos conflitos fronteiriços. Meu amigo Estebam demorou-se por algum tempo até chegar ao meu aposento, um pouco pelo fato de estar no terceiro e último, andar do hotel, mas também, creio eu, pela debilidade do seu estado físico. Por fim, ao adentrar ao local onde eu o aguardava, pude ver que meu velho amigo estava deveras envelhecido, além da barba que lhe cobria o rosto e caia sobre o peito, sua fisionomia era de alguém extremamente enfraquecido. Um abraço prolongado foi o inicio para que ficasse a par do motivo pelo qual Estebam me pedira para vir da Inglaterra até Elizondo ao seu encontro. A Espanha entrava no período que se chamava a Era do Século de Ouro, entende-se a época clássica e apogeu da cultura espanhola. E Estebam, como escritor, dedicou-se a literatura investigativa, buscando desvendar mistérios até então ocultos naquele pais. Sentado em uma poltrona ao lado da minha, tratou imediatamente de tirar de dentro de um envelope,que trazia devidamente protegido na parte interna do seu paletó várias folhas com anotações escritas em completo desalinho,e feitas certamente, já a algum tempo. Apressadamente passou-me as mãos os papéis. ---Leia...para que depois entendas o motivo pelo qual chamei-te. Disse ele enquanto eu curiosamente começava a leitura das amassadas escrituras, e ao passo que fazia a leitura minha aguçada curiosidade ficava evidente. Os rascunhos referiam-se a existência de uma criatura que no local era conhecida como Basajaun, este monstro, se é que existe, seria um ser antigo de tamanho desproporcional e cabelo por todo o corpo, responsável por proteger a paz que reina na floresta, e as pessoas que por ela passam. Pouco se sabe ainda sobre a aparência do ser mitológico da floresta Basco navarra, mas existem depoimentos de moradores que garantem a existência de tal teratismo. Não tive a menor dúvida, que meu nervoso amigo, pois estava a balançar inquietantemente as pernas,havia dedicado seu tempo a desvendar este mistério. ---Que queres que eu faça? Perguntei a ele, apesar de já imaginar a resposta. E ela veio de imediato. ---Que me acompanhe na floresta...disse ele. ---Vamos encontrar o Basajaun.... Devo admitir que não fiquei muito tentado a aceitar o convite, mesmo vindo de muito longe para atender a um pedido de um velho amigo. Agora podia eu, entender a causa do estado catastrófico físico e mental em que Estebam encontrava-se, dedicando todo seu tempo a busca de algo que tampouco sabia da real existência. Outro fato que me fazia declinar do convite, era saber que meu velho amigo já a muito sofria da Síndrome de Dostoiévski, enfermidade que causa transes psíquicos que levam a sonhos, revelando acontecimentos ocultos em nossa consciência, que por isto poderiam transformar em realidade fictícia, aquilo que esta em nossa mente, no campo do inexplicável. A visão cadavérica de meu amigo e a sua inquietação exacerbada deixava notório o efeito que a busca desmedida e quase que obcecada pelo Basajaun havia feito. --Vamos...minha carruagem está lá fora...venha. Disse ele. E concluiu. ---Vamos descobrir isto juntos..se algo me acontecer..tu escreverá. Enquanto falava, levantou-se e caminhou até a porta, e realmente não sei por que motivo, mas com esta afirmativa me ergui em um salto de meu assento, e pegando minha capa, pois a chuva continuava a cair fortemente, acompanhei o tão entusiasmado escritor. Subimos em coche que estava na frente do hotel e por alguns minutos, em meio a intensa chuva, cruzamos por inúmeros vilarejos, estávamos agora creio eu,no bairro mais insalubre de Elizondo, onde todos os objetos têm o estigma horrível da pobreza misérrima e do vício incurável. À luz acidental de um revérbero sombrio apercebiam-se as casas de pau, altas, antigas, carunchosas, ameaçando ruína e em direções tão variadas e numerosas que mal se podia identificar, no meio delas, a existência de uma passagem que sabe-se lá onde iria levar-nos. Mas por ela adentramos. A trilha levou-nos até um imenso bosque, lá descemos da carruagem e penetramos a pé na escuridão gélida do local, a chuva ainda a cair fortemente não deteve nem por um segundo o meu determinado amigo, que seguia a minha frente como se certeza tivesse de encontrar a tão procurada criatura. A floresta estava em um silencio assustador, somente os pingos da chuva podiam ser ouvidos, além é claro de nosso passos. Após caminharmos por algum tempo paramos, Estebam agachou-se e fez sinal com sua mão para que eu fizesse o mesmo, a floresta fazia-me sentir um ar peçonhento, danoso, no breu da noite e com as roupas completamente ensopadas, totalmente congelado, já não tinha plena certeza de poder controlar meus pensamentos, e o medo trouxe um tétrico arrepio por todo meu corpo. Meu companheiro de aventura, com os joelhos encostados ao chão, ergueu seu braço esquerdo apontando para a escuridão sepulcral da floresta. ---Ele está lá...eu sei...ele está lá! Disse ele em voz muito baixa. Talvez tomado pelo devaneio do empirismo, uma teoria do conhecimento que afirma que o entendimento vem apenas, ou principalmente, a partir da experiência sensorial onde o imaginativo pode ser real, meu amigo tenha explicitamente tentado contatar algo que particularmente eu não havia visto. O vento se fazia cada vez mais forte, as árvores do bosque balançavam em um pernicioso balé macabro, a chuva que já era deveras forte agora vinha acompanhada de trovões. Os raios que se precipitavam no escuro céu jogavam fachos de luz no sombrio vale, estávamos em meio a uma nefasta tempestade. Mas nada abalava de Estebam sua convicção. ---Eu sei...eu já vi...ele está nos observando! Dizia ele. Aquela situação me deixava aflito, quantos morrem com o desespero na alma, convulsionados pelo horror dos mistérios que não querem ser revelados. Algumas vezes a consciência humana geme sob o peso de um horror tão profundo que só a morte pode aliviá-la desse macabro fardo, livrar-lhe deste maléfico destino. Creio que o pavor que tomara conta de minha alma fazia-me imaginar o lôbrego negrume do horrendo vale ainda maior. E aos archotes dos relâmpagos, imaginava eu, criaturas da escuridão a movimentar-se por entre as descomunais árvores. Era como o mais diabólico dos pesadelos. Estebam estava indiferente ao que se passava ao seu redor, parecia estar conectado espiritualmente com aquele ao qual buscava, tão forte era sua convicção que havia algo ali, fato este que eu já estava também quase a crer. Estaríamos nós passando por uma experiência espiritual? Que poder sobrenatural estaria oculto naquele vale? Seria talvez o momento em que o espírito eletrizado ultrapassa tão prodigiosamente as suas faculdades ordinárias que a ingênua e sedutora divisa de realidade e fantasia torna-se tênue e frágil. Segurei o velho amigo pelo braço na intenção de tirá-lo daquele tenebroso local, mas foi em vão, seu corpo tombou para trás deitando-se na molhada relva sem que seu braço deixasse de mostrar a escuridão a frente. Senti como se o espírito do velho amigo estivesse a enfraquecer, como a luz de um candeeiro prestes a extinguir-se. Deitado ao chão sobre as folhas molhadas pela chuva que ainda caía, seu braço esquerdo erguido seguia apontando para o fundo da mata. ---Não....não estou sonhando..esta ali....ele existe! Dizia ele. Seu decrépito corpo foi lentamente ficando sem movimento em meio as folhas soltas que voavam ao intenso vendaval, a vida se esvaiu como um sopro ao vento. Sem saber o que fazer, saí desesperadamente a correr para longe do vale, estarrecido e sem olhar para trás, mesmo podendo com infabibilidade dizer que talvez algo apavorante me seguia. Ainda assim retorno a Londres sem poder afirmar ser Basajaun uma lenda ou uma misteriosa criatura.

O Homem e seu tempo

Lúcio Aneu Séneca, um dos mais célebres filósofos estoicos do Império Romano, escreveu em sua obra ``A brevidade da vida´´ que o homem de...