domingo, 23 de setembro de 2018

O Livro do Sr. Drock

Esta narrativa data do ano de 1856. Da janela de seu quarto, na belíssima casa onde morava, na pequena cidade de Rotbav, no distrito de Brasov, Romênia, o jovem Dimitry, filho do respeitável  banqueiro, Sr. Samuel Breton observava ainda meio atônito o amontoado de escombros fumegantes que estavam expostos no que restara da casa enfrente a sua. Resultado de um desfecho bastante cruel e até mesmo aterrador que deixara o jovem assustado, mas também muito curioso. Em seus inquietos quatorze anos, Dimitry não tinha dúvidas que deveria dar vazão a sua curiosidade e desbravar os destroços do local onde a dois dias atrás morava aquele que era conhecido como o velho Sr. Drock. Não podia o jovem Dimitry deixar de pensar, como poderiam  imaginar que alguém tão enfraquecido pela idade, com dificuldades para se locomover, seria o responsável por atrocidades tão terríveis. Deveriam estar todos loucos, pensou o menino. Para melhor entendimento desta narrativa, vamos voltar um pouco no tempo e contar o desenrolar fatídico deste, que até hoje é considerado o assassinato mais aterrador daquela pequena cidade de camponeses. O Sr. Drock, linha um velho chalé de madeira, no número 23 da Estrada Postavarul, frenteando a casa da família Breton,já com idade bastante avançada, o pacato morador sobrevivia de consertos em relógios, profissão que herdara de seu pai e que não lhe trazia muitos proventos, passando ele, por inúmeras dificuldades financeiras, que só não eram mais graves devido a ajuda do pai de Dimitry, que sempre auxiliava o desafortunado relojoeiro. Durante o início do inverno daquele ano, algo muito sombrio  aconteceu em Robtav, Crianças misteriosamente desapareciam, sem deixar pistas, fato este que causou pânico geral na cidade, as escolas pensavam em suspender suas aulas, e o medo tomou conta de todos, não havia suspeitos, o que gerou uma onda de desconfiança e fúria entre os moradores do local. O xerife de Brasov, autoridade maior naquele distrito, imediatamente veio com seus homens e teve início uma minuciosa investigação para saber o que realmente havia acontecido aquelas inocentes criaturas. Duas semanas se passaram, e após exaustivas buscas, interrogatórios, e testemunhos, o xerife de Brasov indicou o Sr. Drock como possível suspeito, tendo em vista que sempre era o velho motivo de brincadeiras de mau gosto por parte dos jovens,que quebravam as vidraças do chalé jogando pedras, mas a notícia que deveria ser sigilosa se espalhou como uma praga por toda pequena cidade,e antes que as autoridades pudessem tomar qualquer providência, a população resolveu ela mesma agir em nome da justiça. Quando a policia chegou ao local,o velho chalé de madeira já ardia entre as mais altas chamas,provocadas por tochas arremessadas furiosamente pelas janelas. O velho Sr. Drock ,com uma corda envolta ao seu pescoço,já balançava no galho mais alto do Carvalho, que estava plantado em sua propriedade,sem nem mais um suspiro de vida. Um enforcamento,ou justiça, para os moradores,foi realizado raivosamente por débeis e incontáveis mãos,uma morte cruel e irresponsável tirou a vida do ancião. Porque nada fora encontrado na velha casa de madeira,a não ser pedaços de velhos relógios. Agora, além de jovens desaparecidos, havia um crime de assassinato para o xerife resolver, que teria que prender e interrogar um vilarejo inteiro. Ou, pelo menos, tentar. Pois bem, conhecidos os fatos passamos novamente a nossa narrativa. Sem vacilar o jovem filho do banqueiro atravessou a rua, já deserta, pois era quase noite, e adentrou ao local da execução. Após caminhar cuidadosamente entre os destroços de madeira, Dimitry encontrou uma pequena caixa de metal  que sobrevivera  ao incêndio, em um formato de uma pequena maleta, apenas um simples trinco, já quase aberto mantinha a caixa fechada. Logo, o corajoso menino pensou: que segredos terríveis ficariam protegidos, para que somente ele pudesse desvendar. Sem excitação o jovem desbravador de escombros tratou de abrir a tão inesperada descoberta, e deparou-se com um pequeno livro, muito surrado, em sua capa escura tinha o símbolo de uma espada com duas pontas, na parte inferior do velho livro estava gravado a seguinte frase: DULCETI-I IN INTUNERIC (em Romeno: levado para a escuridão). Após examinar as velhas páginas, um tremor tomou conta de todo seu corpo, em suas curiosas, e nervosas  mãos estava um livro com centenas de nomes, alguns quase já ilegíveis devido ao longo tempo em que  foram escritos. Mas o que causou maior surpresa ao incrédulo leitor, é que todos os nomes dos jovens desaparecidos, ali estavam sem faltar nenhum. Porque aqueles nomes estavam no livro do velho Drock? O que aquele velho livro tinha de tão misterioso, que precisava ficar oculto naquela pequena caixa de metal? Poderia o  livro do velho relojoeiro ser um amuleto,um portal sabe-se lá o que, diabolicamente usado para livrarmo-nos daqueles que nos são indesejáveis. Um caminho sem volta ,direto para as ardentes chamas do inferno. Para a escuridão, para o que de mais horrendo possa haver além de nossa imaginação. Seria ele uma vingança silenciosa. Dimitry ficou imediatamente tomado por um terrível sensação de medo, mas também de curiosidade. Teria ele usado o livro como sórdida maneira de afastar de uma vez por todas  aqueles  que lhe causavam tanta tristeza ao jogarem pedras em sua velha casa  chamado-o de velho louco? Se isto realmente é possível, o que ele tinha nas mão era algo de um poder sem limites, em suas mãos poderia estar a sentença mortal de quem assim ele desejasse. Atrever-me-ei a dizer, que naquele momento, o filho do Banqueiro alimentava consigo um desejo intenso e devorador de poder  controlar a morte. O elemento-chave em nossa civilização são os limites, não apenas se referindo ao desejo do jovem Dimitry, em particular, mas ao próprio indivíduo, tanto para o bem, quanto para o mal. Mas o jovem não estava preocupado com isto. Para ele não existiria mais limites. Dimitry estudava em uma instituição particular, mesmo sendo uma escola dirigida por  religiosos, sofria com as brincadeiras dos colegas porque usava óculos com grossas lentes, para compensar a falta de visão devido a problemas nas córneas. Porem este sofrimento ficava em sigilo, e nunca falara com seus pais ou professores, sobre o assunto. Mas o mau espírito, até então adormecido, falou do fundo dos abismos da sua alma quando, nas cinzas escuras daquele devastador local, o jovem de aparência ingênua foi tomado por pensamentos terrivelmente sombrios, cada vez mais essas sombras e semelhanças se tornavam mais espessas, mais cheias, mais definidas, mais inquietantes e mais assustadoramente terríveis e de aspectos maléficos na mente de Dimitry. Principalmente ao lembrar todo sofrimento que passava na escola. Mas para ele, tudo estava por terminar. Para o aluno humilhado pelos colegas aquela foi uma noite para pôr fim a  dor que atormentava sua alma, e após escolher detalhadamente quem deveria estar mortalmente registrado no maldito livro, sorriu, e adormeceu, aliviado e feliz. Sua vida nunca mais seria a mesma. O livro da Morte seguia seu curso de horror. Ao chegar na escola na manhã seguinte, Dimitry imediatamente viu que alguns professores conversavam nervosamente, com alguns pais de alunos na sala da direção, e em sua sala três lugares estavam vazios, e ele sabia, assim ficariam.

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