terça-feira, 23 de agosto de 2016

A Carta de Edgar


Em fevereiro de 1851 recebi em minha residência na rua St.. Tooley 123,uma carta escrita por meu amigo e escritor Edgar A. Relatando em detalhes o infortúnio de ver o chalé em Boston,onde tinha sua biblioteca ser consumido totalmente pelas chamas.
Após tomar conhecimento do lamentável acontecimento, descrevo com muito pesar,palavra por palavra o seu conteúdo:

Prezado amigo Lawford...
Depois de restabelecido do calamitoso incêndio que transformou em cinzas minha moradia,escrevo-lhe retratando neste compêndio minha imensa aflição.
Já era madrugada de terça feira quando o coche  conduzia-me de retorno a minha casa no número 103 da rua Dorchestes,em Boston,após uma noite de frivolidades e bebidas no Le Chat Blanc Club.
O clarão que iluminava quase todo o quarteirão,e os estalidos das madeiras do chalé já denunciavam que algo de muito terrível estava acontecendo.Ao aproximar-me percebi o local que onde tinha,por algum tempo,escolhido para ser meu domicílio,estava sendo engolido pelas labaredas.
Tal foi minha tão grande angústia que esmorecido,sente-me ao chão, do lado oposto da rua.Ainda sob o efeito do que havia consumido durante a noite e tomado de grande aflição pelo que presenciava,veio-me um riso débil,uma hilaridade descontrolada,minhas pernas infirmes não  deixavam erguer-me.As árvores,a rua,o céu escuro,os bombeiros que corriam desordenadamente,tudo estava diferente,tremeluzindo em imagens difusas.Minha mente estava extremamente perturbada,e o  riso inadequado em um trágico momento,transformou-me em pândego em meio ao caos.
Perder tudo nos dá um certo censo de liberação.No início lamentamos,depois sentimo-nos desnorteados,mais tarde faze-se um inventário das perdas e imaginamos como a vida será empobrecida daí em diante.Passamos então a lastimar pelas coisas que foram repentinamente tiradas  de nós,e sabemos que muitas delas jamais as teremos novamente.Sem mais ter o que sempre tivemos tornamo-nos outra pessoa,tornamo-nos qualquer pessoa.É a máscara da liberdade escondendo a face do abandono.
Aos pouco a Dorchester foi ficando vazia,apenas a fumaça acinzentada que vinha dos escombros e entrava em minhas narinas como fogo,e uma gaiola que milagrosamente foi salva das chamas,faziam-me companhia naquele cenário de desolação .
Restava-me agora uma gaiola com um pequeno pássaro e um grande alívio,por não mais precisar preocupar-me com nada a não ser escrever.
Um abraço.. Edgar A.    




         





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