quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

A Essência do Eu

Como conhecer-nos a pleno, se vagas e duvidosas, devo admitir, são as maneiras que dispomos para entrarmos no centro do nosso eu, e decifrar os mistérios de nossa criação. Como reconhecer a missão que a nós foi dada pelo criador, e principalmente, como saber se servimos ao bem, ou se enveredamos pelos nebulosos caminhos da mal, se não podermos compreender Deus nas suas obras visíveis, como então compreendê-lo nos seus inconcebíveis pensamentos que dão vida às suas obras? Se não podemos compreendê-lo nas suas criaturas objetivas, como compreendê-lo então nas suas disposições de ânimo substantivas e nas suas fases de criação? Este, talvez incrédulo, pensamento teria levado a frenologia a admitir, como um princípio inato e primitivo da ação humana, existir algo de paradoxal que podemos chamar de essência da maldade, na falta de termo mais característico. No sentido que deu é, de fato, um mestre de fantoches. Sob sua influência agimos sem objetivo compreensível, ou, se isto for entendido como uma contradição nos termos, podemos modificar a tal ponto a conclusão que digamos que sob sua influência nós agimos,por livre arbítrio , pelo motivo que não devermos agir. Fazendo o que verdadeiramente não deveríamos fazer. Sabemos que cada pessoa carrega consigo o peso de sua consciência, sempre acompanhada de pensamentos, é precisamente essa consciência o que nos faz a todos sermos nós mesmos, distinguindo-nos assim dos outros seres pensantes e conferindo-nos uma identidade pessoal. Que carregamos conosco até o dia de nossa morte. Tenho certeza de que respiro, do que a de ser, muitas vezes, o engano ou o erro de qualquer ação, sentindo seus motivos e suas consequências, a força inconquistável que nos empurra, e quem vem a ser a única que nos impele a continuar a trilhar as agruras da existência. Sendo ela qual for. Mesmo estando plenamente sabedores que estamos errando. Será que errar consciente do erro diminui nossa culpa? Será que, se por muitas vezes fazer o bem não traga-nos a devida recompensa, isto deixa-nos livres da culpa de fazer o mal. O desejo do bem agir deve ser buscado, simultaneamente, com qualquer princípio que seja simplesmente um modo de combatividade ao mal, mas, no caso da tão cruel e devastadora maldade dominar nosso pensamento, não somente o desejo de bem agir não é buscado, mas existe um sentimento fortemente antagônico. Uma barreira que não deixa-nos chegar no que há de mais puro em nós mesmos. Impelidos que somos a errar continuamente, cada vez mais,sem controle. E usando nossa total ignorância como ferrenho escudo, deixamos em nossa existência um rastro de intolerância, arrogância, e promiscuidade. Afinal, um apelo ao próprio coração será a melhor resposta ao sofisma que traz a névoa da dúvida em nós. Ninguém que confiantemente consulte e amplamente interrogue sua própria alma sentir-se-á disposto a negar a completa radicalidade da tendência maléfica que cada um carrega, assim como existe o bem, existe o mal, e cabe a cada um dar vida ao sentimento que esta no âmago de seu ser. Assim sendo o impulso converte-se em desejo, o desejo em vontade, a vontade numa ânsia incontrolável, e esta ânsia sem limites(para profundo remorso, ou satisfação deste escritor, e num desafio a todas as consequências)é satisfeita, seja para o bem, seja para o mal. Tememos mortalmente à violência do conflito que se trava dentro de nós, entre o definido e o indefinido, entre a substância mais palpável e a sombra. Mas ela existe, porém se a contenda se prolonga em nosso âmago, somos vencidos pelo cansaço, é a sombra maléfica quem prevalece. Foi então em vão a nossa tão grande luta. É como se toda nossa crença, nossos sonhos e verdades, estivessem à borda de um precipício. Perscrutamos o abismo e imediatamente nos vem, a náusea e a vertigem. Nosso primeiro impulso é fugir ao perigo. Inexplicavelmente, porém, ficamos. E pouco a pouco, a nossa náusea, a nossa vertigem, o nosso horror confundem-se numa nuvem de sensações indefiníveis. Não há na natureza paixão mais diabolicamente impaciente e perigosa, como a daquele que, tremendo apavoradamente à beira de um precipício, pensa na melhor forma de nele se lançar. Talvez alguém possa afirmar que isto nada mais é do que um transtorno momentâneo de consciência, traumas vindos de uma infância de sofrimentos, ou outra interpretação, seja qual for ela, acreditando ser a mente humana um escuro vale repleto de inúmeras armadilhas, apenas afirmo, e disto tenho absoluta certeza, que a mão que afaga carinhosamente nossa face, tem o mesmo poder de tirar-nos cruelmente a vida.

domingo, 23 de agosto de 2015

Janela da Alma



Uma janela umedecida pela fina chuva de inverno,por onde observo a deserta rua,é minha única companhia nesta fria madrugada de inverno.Ao meu redor,muitos livros,papeis espalhados sobre uma mesa,como se o vento,descuidado, os tivesse ali espalhado.
Minha consciência,teimosa que é,insiste em fazer-me voltar ,mesmo que por breves instantes,a impiedosa realidade que bate a minha porta todos os dias.Um silêncio tirânico se faz presente,é algo que te abraça,te envolve,mas ao mesmo tempo te faz sentir uma imensa agonia,uma sensação de proteção,mas que te deixa totalmente indefeso.Não tenho medo da morte,mas seria desumano,estar sozinho quando ela chegar.

Busco sem sucesso,uma inspiração para escrever,não consigo em nada pensar,e isto é a mais aterrorizante sensação,pois deixa-me a mercê de minha própria mente,e certamente ela pode criar os mais terríveis horrores que possa imaginar.Entregue as mais inconcebíveis inquietações humanas.Atormentado pela mais básica das emoções ,o medo.

Creio que é preciso mergulhar em sua própria lama,para conhecermos os medos que nos aterrorizam por toda vida.Se perdermos nossas vaidades,nossas ilusões,vamos ver quem realmente somos. Bem sei,que desperdiçar a vida com coisas sem sentido,sem uma plausível razão para continuar, seguramente, é um pecado.

Minha tão protetora janela.Tudo que está fora do nosso mundo parece-nos estranho e perigoso.Talvez a solidão da rua,em sua imensidão,seja menos desoladora.A intenção pode ser boa,mas parece vazia e inútil,pois esta destituída de qualquer emoção.

Apenas uma certeza existe,é este sentimento que aos poucos vai consumindo-me,a infelicidade. que vem e vai, como uma sombra.

Um suspiro profundo ,lamentoso.
Talvez esteja eu, morrendo!
Uma curta e devastadora frase,que ninguém deveria dizer,e que ninguém deveria ouvir.
Mas existe uma consciência de mortalidade na vida de cada  autor.
Criativo,talvez um tanto louco,mas imensamente triste.










segunda-feira, 6 de julho de 2015

Aurora e o Jardim

Bela e encantadora Aurora, quando danças exala graça e beleza quase indescritível por todo salão, teu formoso vestido rosa, tão deslumbrante como quem o veste, é como a pétala que cobre a essência da mais rara flor. A todos seduz ao dançar com tanta leveza, iluminada tão somente pela trêmula claridade dos magníficos lustres em cristal, tua beleza resplandece mesmo nos fracos fachos de luz que chegam ao seu rosto, é a graciosidade de uma Deusa, a encantar com sua magia os olhos deste modesto admirador. Outorga-me o incalculável prazer de ver-te oscilar graciosamente, por entre os demais casais, és a formosura mais plena em forma de mulher, dama dona de meus sonhos, razão de meus mais íntimos desejos. Conceda-me sonhar com teu beijo, com o calor de teu abraço, com a quimera de teu olhar, permita-me sentir a utopia de amar-te. A intrepidez de aproximar-me de ti, jamais terei, mas mesmo a distância, me basta contemplar tua singeleza, o charme de teus negros cabelos, caindo em cachos sobre teus finos ombros, a leveza dos traços que ornamentam teu rosto, a ternura de teu olhar, e a candura de teu sorriso por entre teus angelicais lábios. Em meu coração existe um jardim, ao qual tu és a flor mais bela, a rosa mais cobiçada, o perfume mais inebriante. Tu és meu infinito, e irrevelado amor. Lawford - Londres 1866

segunda-feira, 23 de março de 2015

Nove Minutos

O relógio pendurado a parede do solitário local, mostra que são vinte horas e cinquenta e um minutos, sozinho, aguardo na sala de espera do consultório do Dr. Richmon, meu psicanalista. Faltam apenas nove minutos para sentar-me em seu divã, e deixá-lo tentar desvendar em minha mente, coisas que nem eu posso afirmar serem reais. Devo dizer que, o que aqui escrevo, enquanto aguardo o momento da minha consulta, são pontos de vista aos quais estou plenamente convencido, mas em nenhum momento busco convencer. Já se passaram dois anos da minha primeira visita ao Dr. Richmon, e posso afirmar que neste período, deparei-me com interrogações nas profundezas de meu âmago, que até então estiveram incógnitas. Certo é, que somos manipulados diariamente por nossas próprias mentes, meros fantoches inconscientes, ou até mesmos conscientes, sonâmbulos despertos a perambular a mercê de nossos desejos, pois no fundo de nossa consciência, existem coisas que ocultamos até de nós mesmos. O princípio do inconsciente na psicanálise dá a oportunidade de explorar um território de incógnitas e mistérios, dentro de nós mesmos. Porem é lancinante percorrer uma trilha de reminiscências que compilamos durante os anos. Se torna penoso demais reviver aquilo que nos deixa triste. Mas como podemos coadjuvar situações com aqueles que buscam em nós elucidações de seus mais profundos sentimentos, quando, ás vezes, não conhecemos o nosso verdadeiro íntimo. Como elucidar desconsolos e ansiedades de quem procura deslindar seus infortúnios, se acobertamos no sumidouro de nossa alma, secretos e nebulosos sentimentos. Torna-se muito inteligível ao psicanalista identificar um enigma, quando ele provem de um processo ordenado, de uma racionalidade previsível. Mas como estabelecer alguma coerência, quando a causa e consequência estão em meio ao caos, envolto em espessa nuvem de temores e ressentimentos. Para isto, creio eu, busca o psicanalista elucidações através do grau de  inteligência congênita, e capacidade colaborativa do paciente, mas como exercitar esta inteligência nata, se não sabemos ao certo de onde ela vem. Os Egípcios pensavam que a inteligência ficava no coração, depois Platão rebateu afirmando que o cérebro era a parte inteligente e racional da alma, Aristóteles concluiu, dizendo que o coração é o centro da nossa inteligência, e que o cérebro servia apenas emissor de sentimento. Como disse anteriormente, de algumas coisas estou completamente convencido, mas não tento a ninguém convencer. E uma delas, é que neste exato momento, nesta massa cinzenta que tenho dentro de minha cabeça, uma tempestade elétrica gera um movimento caótico de sinais em meus neurônios, isto produz pensamentos, e neste magnífico momento, surge o que chamamos de inteligência. Durante nossa existência terrena buscamos a felicidade plena, mas a infelicidade tem o dom de multiplicar-se vertiginosamente, e com isto a incerteza se alastra rapidamente, espraiando-se por completo em nossa alma, este fato nos leva, muitas vezes, a pensar que ser infeliz é muitíssimo normal, aceitamos o mal como parte incrustada em nosso ser. Mas o gênero humano nos diz que o mal é a consequência do bem, pressupomos então, que o pesar nasce do júbilo, ou seja, como já escrevi em outra ocasião, a mão que afaga é a mesma que fere. Não seria exagero pensarmos que a alegria do passado, é a origem pura e simples das angustias vividas no presente. Quando estamos solitários, circundados por nossas efêmeras certezas, assumimos o papel de ouvinte e orador, a questionar a nós mesmos, sobre circunstancias que não ousamos falar, e negamos veementemente existir, apesar de estarem elas enraizadas dentro de nós. É deveras necessário passarmos por esta intrínseca autoanálise. Pois a única maneira de entender as aflições alheias é primeiramente conhecermos a fundo nossas próprias perturbações. Encoberto em nosso subconsciente existem disfarces quase imperceptíveis, nossas máscaras invisíveis, que a cada cenário assumem um papel diferente. Mas nenhuma máscara é tão terrivelmente perigosa quanto a da virtude, pois ela tem a chave para expor todos os nossos mais íntimos conflitos. Uma linha tênue e impalpável é a ligação entre quem fala, e aquele,que por consequência, deveria ouvir e analisar, o envolvimento entre as duas partes deve ser profundamente cuidadoso. Sem perceber, perdemos o foco no objetivo em si, para adentrar em um emaranhado de deduções por nós provocadas, até que ao fim do desnorteado devaneio, perdeu-se por completo o estimulo para buscar a causa principal, que fica esquecida por completo. Nossa consciência, ou razão, ou como o leitor assim descrever, assemelha-se aos penhascos oceânicos, citados na obra de Ptolomeu, que resistem bravamente a violência humana, a fúria dos ventos e dos mares, mas estremece suas bases ao toque de uma pequena criatura, chamada Abrótea. São agora, vinte horas e cinquenta e nove minutos, em instantes o dr Richmon vai abrir a pesada porta de madeira de sua sala, que eu denominei como sala dos segredos, e aos seus setenta e dois anos, com seu charuto entre os dentes, dizer com sua voz rouca e quase imperceptível.... ---Boa noite, pode entrar Sr. Lawford.

O Homem e seu tempo

Lúcio Aneu Séneca, um dos mais célebres filósofos estoicos do Império Romano, escreveu em sua obra ``A brevidade da vida´´ que o homem de...