quinta-feira, 22 de março de 2018

O Caso da Família Hoster

Uma cidade pequena, chamada Swuan Valley, Por ela passa uma estrada, cortando ao meio o que deveria ser um próspero local para morar, parece-me mais um local onde o tempo passa vagarosamente, nela existe alguns comércios, uma cafeteria, uma minúscula igreja, uma loja de ferramentas, o escritório do xerife, o hotel Chickerien, e todos os tipos de pessoas, andarilhos, jovens, fugitivos, fanáticos religioso, e aposentados. Pois foi neste acolhedor local, se assim posso dizer, que me encontrava em fevereiro de 1893 vindo a convite de meu amigo de muito tempo,o Dr. Rosenwood. Ele tinha um instituto psiquiátrico em Baltimore, que levava o seu nome e teria vindo a Swuan Valley a fim de conhecer a Srta. Caterine Roster, uma jovem que segundo dizia seu irmão Robert na carta  que escreveu  para meu amigo passava por terríveis distúrbios mentais. De chegada fomos diretamente ao hotel Chickerian, ficando com o aposento de número 23, ao lado, no 24,estava Rosenwood. Deveríamos descansar da longa viagem de quase três horas, pois no final da tarde iríamos conhecer a família Roste, ou o que restou dela visto que os pais morreram em um terrível acidente. A comodidade do estabelecimento é que faz escolhermos este ou aquele local, mas será que o objetivo não é tornar os lugares mais comuns? pois o senso prosaico faz-nos sentir em casa. No quarto do hotel havia um velho sofá com tecido de gosto duvidoso, certamente quando novo deveria ser de cor alaranjada, uma escrivaninha de clara madeira com puxadores em cobre escuro e as paredes eram recobertas por antigo papel de parede floral em tons amarelados. Cobrindo quase todo o chão tinha um tapete, também bastante velho e o que chamou a atenção era uma mancha bem próximo a porta. No canto do quarto apenas uma pequena lamparina que com certeza seria minha única luz quando irremediavelmente a noite chegar. Não sei bem porque mas os hotéis das pequenas cidades me parecem um tanto quanto misteriosos. Quantas  pessoas já passaram por aqui? Quantos segredos se revelaram entre estas paredes? quantos ainda podem estar ocultos? Acho que minha imaginação criativa esta a passar dos limites, como sempre. Tratamos de acomodar-nos de acordo com o que havia de disponível e aguardamos o horário das dezenove horas, o qual tinha  o Sr. Robert marcado para receber-nos em sua fazenda ao norte de Swuan Valley. Com a carruagem disponibilizada pelo hotel, chegamos no horário marcada a fazenda dos Roster, a casa principal ficava a poucos metros do portão de entrada, Era uma construção no estilo vitoriano, uma vigorosa porta em madeira trabalhada com entalhes em forma de animais chamava a atenção de quem se aproximava da mansão, a fachada, que tinha três andares era coberta por inúmeras janelas, todas com cortinas em renda branca, e bem acima, uma pequena janela que presumi ser o sótão. Recebeu-nos a porta uma senhora com cabelos grisalhos amarrados para trás, usava  um uniforme preto com bordados azuis claro na gola e nas longas mangas, fomos por ela então encaminhados a biblioteca onde seriamos recebidos por Robert, fato que aconteceu poucos minutos após nossa chegada. A informação que tinha sobre o Jovem fazendeiro era por intermédio do Dr. Rosenwood, segundo o médico o proeminente jovem tinha aproximadamente 25 anos, era ex- aluno da Faculdade de Medicina de Baltimore, onde o doutor fez inúmeras apresentações, fato este que fez  tornarem-se amigos. Sua irmã Caterine era mais nova, e juntamente com o irmão administravam a fazenda após a morte dos pais. Confesso que por alguns segundos fiquei paralisado ao perceber a discreta entrada de Robert na luxuosa sala. Contrastando com o glamour do local onde estávamos, o jovem adentrou a biblioteca em passos lentos, suas roupas mesmo sendo confeccionadas em tecido da mais alta qualidade, demonstravam desleixo, o paletó de puro linho em tom marrom escuro, cobria uma camisa de seda branca, que totalmente para fora das calças do mesmo tecido do paletó, estava completamente amassada e desabotoada em seus três últimos botões. Pude perceber que Rosenwood também teve um sentimento de estranheza, pois sua testa franziu-se ao contemplar aquela figura, que mais parecia um andarilho do que um poderoso dono de terras de Swuan Valley. Após breves apertos de mão tratou o desalinhado jovem em dizer o motivo pelo qual trouxe-nos de tão longe, afirmando em sua carta que precisava falar sobre sua irmã. – Dr. Rosenwood, disse o jovem --  preciso muito de sua ajuda! E acrescentou. ---Por  várias vezes presenciei suas experiências com a mente humana, e preciso do seu diagnóstico sobre o que esta acontecendo. – Tem a ver com sua irmã?  Perguntou o médico. Neste momento o nosso anfitrião já demonstrava um certo desconforto, suas mãos pareciam-me um tanto trêmulas e sua fisionomia mudara completamente, deixando transparecer um olhar que beirava o terror, o medo. --- Sim. É sobre ela. Tem algo que quero mostra-lhes! Disse o jovem.    Meu amigo, sentado na poltrona ao lado da minha, levando a boca o cachimbo que acabara de ascender, perguntou ao Jovem…. – Quando poderemos vê-la? Levantando-se lentamente, Robert caminhou até a porta, seu estado de calmaria havia voltado e virando-se para nós disse em voz baixa…. ---Minha governanta vai mostrar-lhes seus aposentos. Descansem e quando for o momento certo eu mandarei chamá-los para ver Caterine. Imediatamente a mesma senhora, com seu uniforme preto levou-nos até nossos quartos que ficavam no segundo piso, na parte frontal da mansão. Lá havia um bule com chá de algum sabor que não pude distinguir qual e uma bandeja  com frutas e biscoitos. Posicionei uma cadeira frente a enorme janela que privilegiava uma bela visão da frente da propriedade, pois a noite havia chegado e a luz da lua trazia um espetáculo magistral sobre os campos que se perdiam ao longe. Pouco tempo foi nossa espera, a mesma senhora veio avisar-nos que éramos aguardados na varanda, um local que ficava na lateral da casa e que tinha algumas poltronas feitas em Vime, luz muito baixa, e tínhamos dali uma ampla visão da plantação de algodão. Um dos cultivos da fazenda. Ao chegarmos ao local, logo sentamo-nos cada um em uma poltrona individual, ao lado de Robert, que já estava devidamente acomodado. – Agora os senhores saberão o motivo de sua visita! Disse, e continuou... ---Após a morte de nosso pai, eu e Caterine ficamos com o dever de tocar os negócios da fazenda. Por diversas vezes disse a ela que não tínhamos conhecimento para administrar, e aconselhei vendermos as terras, assim eu poderia voltar a morar em Baltimore, e ela poderia viver no conforto com sua parte da venda. Mas ela sempre foi contra. Meu amigo Rosenwood tentou dizer algo mas antes mesmo de pronunciar uma só palavra, erguendo a mão o jovem pediu que ficássemos em silêncio para ouvir seu relato. --- Comecei a introduzir pequenas doses de Láudano em suas refeições,  para acalmar seus sentimentos pela perda de nosso pai, mas na verdade, queria eu tirar dela a lucidez deixando somente a mim e decisão de vender a propriedade. Enquanto falava sua expressão foi mudando dramaticamente, um tom de desespero foi tomando conta de sua voz, durante boa parte do relato seu rosto ficara entre suas mãos. Nós, os dois ouvintes, estávamos perplexos com o que  presenciávamos. Não podíamos crer que o irmão, sendo ele conhecedor dos métodos da medicina infringisse um tormento psicológico tão grande a própria irmã. Mas o mais inacreditável estava por vir.    A mente humana é sem dúvida um órgão incrível, o corpo ao sentir qualquer reação externa manda imediatamente sinais para o cérebro, Mas a maneira como o cérebro vai interpretar estas mensagens é uma questão muito delicada. É mais uma arte interpretativa do que uma ciência, eu creio. Pois é a partir desta interpretação que sabemos, ou pensamos que sabemos, o que esta a  acontecer. Esta flexibilidade de interpretação é que nos faz, em alguns momentos, pensar que algo não existe, quando na verdade temos plena certeza desta existência. Esta negativa vem, certamente do medo que temos de admitir algo ao qual não temos total, ou nenhum domínio. Antes que qualquer outra palavra fosse ouvida, os três sentados como estávamos, vimos sair da imensa plantação de algodão uma jovem belíssima com um vestido de cor rosa e um xale branco sobre os ombros, pés descalços, cabelo louro da cor de ouro, um sorriso que demonstrava uma alegria contagiante, com as mãos segurava as laterais do vestido, e assim rodopiava  mais e mais, freneticamente, como se estivesse a ouvir a mais bela canção já executada. Por alguns momentos ficamos todos a contemplar tamanha beleza, até que o jovem Robert interveio…. – Esta é minha irmã Caterine.  Imediatamente Rosenwood tratou de acrescentar…. – É muito bela, e parece-me muito bem. O jovem levantou-se e lentamente caminhou pela varanda que levava aos fundos da mansão…. – Sigam-me e entenderão tudo!  Disse ele. Após caminhar alguns metros, descemos as escadas da varanda e adentramos em meio a plantação até chegarmos próximo de uma área mais aberta, onde havia um grande carvalho, o tronco totalmente rodeado de flores das mais diversas cores e aromas. Era um local de beleza impar, e pelos seus detalhes demonstrava ser cuidado diariamente. – A seis meses marquei uma reunião na fazenda com alguns interessados na compra! Disse o Jovem --- E não querendo a participação de Caterine, administrei a ela uma dose de Láudano maior que o de costume, sua interferência inibiria qualquer negociação. O que aconteceu depois? Perguntei ---Fui ao seu quarto após a reunião para ver como estava! Disse Robert – Mas ao chegar lá,vi que havia exagerado na dose, minha irmã estava morta. Naquele momento uma confusão de pensamentos tomou conta de minha mente, estava eu delirante ao ver aquela jovem dançando entre a plantação?Seriamos os três loucos a ponto de deixar a imaginação dominar nossa razão? Estariam os dois irmão a brincar conosco, como crianças? – Mas e aquela que vimos a pouco? Perguntou Rosenwood. ---Aqui é o túmulo de minha irmã! Disse Robert enquanto prostrava seus joelhos ao chão...e acrescentou – O que vimos a pouco é o que me atormenta todas as noites, durante seis meses, deixando-me enlouquecido, aquela que dançava frente a nossa varanda, é o espírito de Caterine. Estas simples palavras, clara e friamente distintas, caíram no ouvido e como um liquido quente foi infiltrando-se imediatamente no cérebro. – Não pode ser, nós também a vimos. Falei ainda meio confuso. Já era impossível à minha alma negar, por mais tempo, a certeza de que qualquer coisa de terrível e de inquietante se tinha introduzido no meu espírito e que todos os meus pensamentos estavam influenciados pelos estranhos acontecimentos. Espíritos dançantes era demasiadamente forçado para minha compreensão. O jovem ajoelhado entre as flores que adornavam o túmulo de Caterine, a qual ele teria tirado a vida, estava a confessar o crime horrendo quer havia cometido.  A minha imaginação, desde o primeiro momento incendiou-se com um fogo desconhecido. O meu espírito foi desde logo atormentado pela convicção crescente de que nunca poderia definir a espectral aparição a qual presenciamos, e certamente jamais seria por mim esquecida.   Robert, em  voz muito baixa revelou o objetivo de nossa fantasmagórica missão.   ---Quero ser internado em sua clinica Dr. Rosemwood, ou levado a prisão, devo estar louco, preciso que acabe este tormento, mas se realmente a viram também, somos os três completamente loucos.    

O Homem e seu tempo

Lúcio Aneu Séneca, um dos mais célebres filósofos estoicos do Império Romano, escreveu em sua obra ``A brevidade da vida´´ que o homem de...