domingo, 10 de fevereiro de 2019

A Violinista Cega


Os Finais de tarde do St. James Parks’s na Picadilly Street, durante o Outono londrino eram o ambiente ideal para um passeio, principalmente para quem busca no cotidiano de Paris uma inspiração para escrever. Figuras de todos os tipos circulavam por ali.
Foi em um destes belíssimos entardecer que conheci mademoiselle Ninna, uma encantadora jovem de origem polonesa, doce e meiga como as mais belas flores que embelezam o St. James’s. Eu havia saído da Real Academia Londrina após assistir a uma audição de piano de Madame Margot Challen quando vi aquela bela jovem sentada solitária em um banco do Park. Sentei-me ao seu lado e em poucos instantes a conversa adveio naturalmente. Apesar de sua inegável beleza, as adversidades que a vida traz levou Ninna até o Le Blanc Club, onde na condição de acompanhante buscava na noite o dinheiro para seu sustento.
Contou-me que morava sozinha, falou-me de sua família e sobre a morte de seu irmão marinheiro assassinado em um bar do cais. Após algum tempo convidou-me para caminhar e disse que gostaria de apresentar-me alguém, então passamos por alguns caminhos entre os coloridos jardins até chegarmos a magestosa fonte que situava-se na parte central do lugar. Um chafariz em forma de pássaro lançava suavemente jatos de água ao centro da belíssima fonte construida certamente no periodo vitoriano.
Sentada ao lado da fonte uma jovem tocava com extrema habilidade um violino, tinha cabelos loiros e encaracolados, cobertos por um belíssimo chapéu com plumas e uma rosa no centro, no mais nobre estilo londrino.   
---Venha. Disse ela; quero que conheça Clarett !
Ninna segurou minha mão conduzindo-me até a bela violinista que tocava com maestria e sorria.
Ao aproximar-me pude observar pela maneira como a jovem musicalista se movimentava que ele era completamente cega.
---Oí Ninna.
Disse ela notando nossa chegada mesmo que não tivéssemos pronunciado uma só palavra.
---Estas acompanhada hoje? Completou ela.
---Sim amiga Clarett, quero que conheça meu amigo Lawford. Respondeu Ninna.
Aquela apresentação foi o suficiente para que pudéssemos conversar alegremente, até minha tão linda acompanhante pedir licença para sair pois já estava na hora de dirigir-se para o Le Blanc, mas não sem antes colocar uma generosa gorjeta no estojo do violino da instrumentista cega.
E assim sucedeu-se por incontáveis tardes, nossos encontros tinham inicio nos jardins do parque e findavam nos aconchegantes aposentos do Le Blanc Club.
Até que em uma fria tarde de inverno londrino minha linda polonesa não apareceu, a neblina era intensa, pessoas pareciam emergir da bruma, de início cinzentas como fantasmas e depois pouco a pouco e com muito custo tornavam-se reconhecíveis. Sem saber o motivo de Ninna não aparecer imediatamente procurei sua amiga Clarett.
---Ela passou aqui mais cedo que o de costume Sr. Lawford, estava com outro cavalheiro, discutiam muito e ela chorava a soluçar.    
---Ela disse o nome dele ? Perguntei
Teria ela encontrado outro amigo tão chegado quanto eu?
estes pensamentos e outros igualmente terríveis atravessaram-me o espírito com uma rapidez extraordinária.

---Não, ela não falou comigo, apenas deixou algumas moedas no meu estojo e saiu.
Aquelas palavras caíram pesadas e geladas nas profundas trevas das escuras regiões mais recônditas da minha alma, fiquei muito decepcionado, mas esperar demonstrações de fidelidade de uma mulher que busca na noite londrina sua sobrevivência seria totalmente irracional.
Por três dias consecutivos ela não apareceu nos jardins do parque tampouco esteve a noite no clube. Sem saber ao certo onde procurar fui ao encontro de um velho amigo,o inspetor Thormann.Com certeza ele poderia dar-me alguma orientação de como encontrar minha desaparecida amiga.

---Primeiramente meu amigo Lawford, deverias procurar no necrotério da cidade.Pois você sabe tão bem quanto eu que prostituas estão exposta a todo tipo de perigo.

A afirmação de Thormann levou-me a um desfecho irremediavelmente terrível e nunca por mim imaginado. No necrotério municipal, mesmo com a fraca luz dos pequenos lampiões não foi difícil identificar o corpo de Ninna. Uma perfuração embaixo do seio esquerdo foi certeiramente mortal atingindo o coração da jovem. Segundo o esculápio que examinou o corpo,podia afirmar que o golpe foi feito por alguém que sabia onde fazer a incisão, pois não havia outros ferimento no corpo.

A morte da Ninna abalou-me de tal maneira que por alguns dias permaneci trancado em meu chalé na St. Tooley 123. Abrandava na bebida minhas lembranças da linda jovem que por alguns dias fez-me sentir novamente a utópica felicidade. Até que em uma tarde retornei ao St. James’s e fui direto ao local onde Clarett, como fazia em todas as tardes, enchia o local com os sons melodiosos de seu Violino em troca de algumas moedas.     

---Aproxime-se Sr. Lawford ! Disse ela.
---Como sabia que era eu Clarett? Perguntei intrigado
---Quando Deus tira-nos um dom deixa os outros sentidos mais aguçados, meu olfato e minha audição são previlegiados. Respondeu ela

Sentei-me ao seu lado na esperança de buscar alguma informação.
---Sinto muita falta de Ninna. Comentei em voz baixa.
---Havia um homem com ela a três dias atrás, mas nenhum do dois retornou ao parque.
---Como sabe que não voltaram? 

Meu coração apressou-se de maneira desordenada.

---O perfume que ele usava eu reconheceria se o sentisse novamente, e ela não iria embora sem se despedir de mim. Algo de muito ruim aconteceu.
Aquele comentário ascendeu uma chama de esperança de saber onde e com quem Ninna estivera antes de morrer.
---poderia identificar a pessoa somente pelo perfume? Perguntei .
E a resposta deixou-me ainda mais esperançoso.
---Não só pelo perfume Sr. Lawford, mas também pela voz, ele tinha uma voz rouca e sotaque carregado. Como os Irlandeses.
Saí imadietamente,quase a correr até o distrito policial pois lá o meu velho amigo e também Irlandês inspetor Thormann com certeza poderia ajudar.

---Meu bom amigo Lawford,quantos irlandeses vivem em Londres ? você esta procurando uma agulha em um palheiro. Respondeu Thormann sorrindo.
---E porque preocupar-se tanto com uma prostituta? a cada esquina tem uma sujando a cidade, é como uma praga.e esqueça esta moça, ela não merece sua preocupação.

Mas eu não estava disposto a abdicar da busca pelo assassino.
---Por favor Thormann, um crime foi cometido e você é policial, pelo menos vamos investigar.
---Lawford, você diz ter uma testemunha cega, que loucura é esta ?

Thormann zombava de minha afirmação, não acreditava ele que uma deficiente visual poderia identificar um criminoso apenas pelo olfato. Após muito persistir o inspetor concordou em ir até o parque interrogar a testemunha.

---Devo avisa-lo Lawford. Disse Thormann; estás perdendo seu tempo e o meu, mas vamos lá e depois vamos degustar uma deliciosa xícara de chá com torradas no Café Blanchê.

E assim foo feito, ao chegarmos no parque fomos diretamente onde estava Clarett.

---É esta a testemunha. Disse eu apontado para a jovem violinista que permanecia sentada ao lado da fonte. Thormann agachou-se bem Próximo da jovem e falou-lha baixo e calmamente.
---Senhorira, meu nome é Thormann e sou da policia londrina, meu amigo Lawford disse-me que podes ajudar na identificação de um homem que esteve neste parque com a jovem de nome Ninna, isto é verdade?

Ouve um breve silêncio e a violinista parecia-me assustada, suas mãos tremiam como se sentisse medo de algo, ou de alguém.

---Senhores! Disse ela; aqui no parque existem muitos ruídos e o perfume das flores se misturam com outros odores dos jardins. Conheço Ninna, é minha amiga, mas não posso ajudá-los.

 Aquela declaração de Clarett deixou-me sem palavras, eu não entendia porque ela havia mudado tão repentinamente sua opinião.
Porque não queria ajudar?
Thormann ergueu-se calmamente e colocou algumas moedas no estojo do violino.

---Estou esperando você no Blanchê para o chá, não demore.
  Disse ele saindo calmamente do local em direção a cafeteria.

  A atmosfera fria da noite em breve tinha produzido o seu efeito habitual a energia                  mental tinha cedido espaço  à  influência e a percepção confusa. Era quase impossível imaginar toda a extensão do meu nervosismo, que vem juntamente com o sentimento de decepção deixando-me bastante inquieto sem ter a menor idéia do que deveria fazer

---Porque mudou de idéia?
porque não quer ajudar a encontrar quem matou sua amiga?
Perguntei em tom mais áspero quase a gritar. Clarett chorava em silêncio, sentei-me ao seu lado pois sabia que havia sido muito brusco com minhas palavras.

--- Desculpe.Disse a ela; não tinha a intenção de magoá-la, sei que sente tanto quanto eu a falta de Ninna.

Porém o que ela, entre soluços falou-me deixou-me perplexo e ainda mais confuso.

---Sr Lawford. Se eu identificar o possível assassino de Ninna talvéz também serei morta, pois o homem que trocava palavras ríspidas como nossa amiga Ninna levando-a as lágrimas era o inspetor Thormann.  












O Homem e seu tempo

Lúcio Aneu Séneca, um dos mais célebres filósofos estoicos do Império Romano, escreveu em sua obra ``A brevidade da vida´´ que o homem de...