segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

coche 128

Quando rapidamente desci a escadaria buscando a porta de saída do velho prédio em que residia a alguns anos, e confesso são cinco  longos anos de subir e descer escada, percebi que havia chovido e que a rua estava totalmente coberta pela lama que se espalhava cada vez mais ao passar constante dos coches e seus cavalos. Saí esgueirando-me pelas vielas até chegar a rua principal pois não poderia me dar ao luxo de ficar em meus aposentos visto que deveria entregar o material escrito ao redator do jornal matutino e rogar a ele que publicasse na edição de amanhã. Minha urgência se dava ao fato de que no momento me via desprovido financeiramente, situação esta que além de comprometer minha estadia em tal aposento ainda não suficientemente cobria minhas necessidades de manutenção. E é claro estava por acabar o fumo para meu cachimbo. Assim disposto adentrei ao coche de numero 128 passando de imediato ao condutor o local de meu destino. Sentado ao coche revisei novamente o material a ser entregue e por um momento chamou-me a atenção, ao passar os olhos sobre minhas vestes, as marcas que o impiedoso tempo deixara em minhas já não tão novas roupas, e em minha vida confusa que até em alguns momentos sem significado parecia-me. Situação que não posso vos negar me deixara um tanto quanto preocupado. Sentia o tempo passar a cada batida de meu coração, os segundos pulsam em meu peito como num relógio de pêndulo. Os mistérios inefáveis que pareciam tão absurdamente distantes e irreais até poucos minutos, ameaçavam se aclamar e desvendarem-se na presença de uma verdade tão pessoal e que até então ficara escondida em minha sombria e medíocre vida. Verdade esta que já me vem sendo apresentada a mim desde a infância e que por desejo meu permanecia equivocadamente adormecida no íntimo de meu ser. Enquanto o coche segue seu trajeto pelo imenso lamaçal sinto como se este entendimento tirasse de mim o peso de uma vida sem valores. Meu fardo de agruras será compartilhado com meus leitores, pois a ninguém mais confio meus mais secretos segredos por mais insanos que possam ser. Aquele que por deveras se aventurar a acompanhar-me pelos caminhos da leitura terá como júbilo conhecer meu coração, e olhando no fundo de meus sentimentos encontrará a memória e a experiência de um escritor que entre e debilidade e a genialidade busca um incentivo para não ver perdida por completo suas forças e sua esperança. Se é que alguma delas ainda lhe resta. Quando olhamos para trás percebemos que somos os escritores da nossa própria história, é bem provável que não possamos controlar todo o desenrolar dela mas certamente poderemos escolher qual caminho seguir e que personagem queremos ser, e certamente esta escolha vai traçar o próximo passo. Então certo é que devo seguir em frente pois considero mais nobre enfrentar uma batalha por dia do que viver na ociosidade de uma ilusão. Nenhum esforço será em vão pois sei que o custo do sucesso é o trabalho e o custo da excelência será sempre o máximo esforço.

O Homem e seu tempo

Lúcio Aneu Séneca, um dos mais célebres filósofos estoicos do Império Romano, escreveu em sua obra ``A brevidade da vida´´ que o homem de...