sexta-feira, 10 de maio de 2019
Manicômio do Terror
Clínica Psiquiátrica Real
Derbyshire-1890 -
A insanidade, o desespero, a fúria incontrolável, a loucura violenta que deteriora a mente, a deformação do ser humano. O fogo que lacera a carne, a lama que congela os pés, a fuga de uma lucidez sem rumo.
O abandono absoluto da realidade, os trapos encardidos que cobrem as minúsculas janelas, a angustia e a agonia incontida da alma. A luz precária, a chama trêmula, o ruído amedrontador das correntes, o odor ferruginoso das grades.
Deus chora por nós, pelos desequilibrados, pelos alienistas, por onde o cavaleiro das sombras cavalga, onde a espada do inferno nos ataca barbaramente. O maligno infiltrando-se em nossa alma, e a constante inconsciência que nos atormenta. Transborda o cálice do demônio escorrendo seu néctar de terror pelas fétidas paredes de pedras.
O caos extremo do espírito, a degradação humana, a razão refém da bestialidade, a alienação devastadora da alma.
A revelar-se o animal adormecido dentro de cada ser humano, delirante, enfurecido, bizarro. A cruz que não alimenta a fé, a luz que não dissipa as trevas, a crença que desmorona como as pilastras de um templo em ruínas.
E o mal se propaga promiscuo e voraz a dominar as criaturas que a debilidade recrutou.
Convulsões, histeria, gritos, tudo para ser estudado em uma ciência imprecisa, experimentos vão ao limiar da inconsciência e só então o choque elétrico libertara o espírito do hediondo sofrimento. Amarre-se aquele que está com o maligno, deixe debater-se pois vamos estudá-lo. Tudo pela evolução da ciência, tudo pelo bem do conhecimento .
Na sombra tirânica da cruz a violência está a brotar pelos escuros e sujos corredores, pelas celas úmidas, nos colchões esfarrapados onde ficam aqueles que a irmandade chama de escória. O cheiro de éter se espalha pelo mórbido ambiente. A cabeça a bater na parede, mostrando a violência do instinto incontrolável, é mais um delirante a escorrer seu sangue pela parede pútrida da cela, aí vem a morfina, e o sono profundo.
O lunático com o olhar estático como se pudesse atravessar paredes, ver o infinito, as mãos trêmulas, os pulsos esqueléticos, as cicatrizes na alma, uma fuga da vida em vão, sem propósito. Do outro lado das grades estão as freiras, o hábito, o rosário, mas também o chicote, o ferro em brasa a transpor a carne, o castigo divino em forma de fogo.
O tilintar dos cascos dos cavalos, é o carroção fechado, o cadeado a bater na grossa porta de ferro, alguém a espreitar pela ventana, é mais uma remessa de miseráveis indesejados pela confraria mesquinha.
Somente Deus pode lançar uma praga como punição por nossos possíveis pecados, mas nem toda praga é obra de Deus, existem homens que acreditam terem o imenso poder de Deus.
Já é noite, pelos sujos e pequenos vidros da minha janela a luz da lua invade o acanhado cômodo realçando a precariedade do mobiliário, ouço gritos de desespero e gemidos vindos das imensas alas do manicômio.
Tento não sucumbir naquele mar de insanidade e tortura, cobrirei
meu rosto com as mãos e chorarei de remorso por ver no que me transformei, e então farei como faço todas as noites, uma dose de ópio e adormecer até o próximo dia.
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