sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Ninguém Irá Dizer

Como insano a vagar Perguntando em todo lugar Se minha amada por ali passou, mas se a viram não vou saber, a mim, ninguém irá dizer. Procuro nos mais belos jardins em vão teu meigo olhar, entre os lírios a balançar. Como minhas lágrimas conter? A mim, ninguém irá dizer. Oceano de azul infinito lembra nosso sonho mais bonito, de amor sublime se enternecer. Mas como evitar de amor morrer? A mim, ninguém irá dizer. Planícies com seu encanto natural, onde crescem as flores do oriente, Imensidão de tristeza constante. Mas como de solidão não perecer? A mim, ninguém irá dizer. Porque minhas mãos vazias Procuram as tuas sem as ter? Meus olhos cobrem-se de lágrimas quando os teus não consigo ver. Porque sofro tanto com tua ausência? A mim, ninguém irá dizer. Questiono então ao céu Como um anjo podes por lá estar, se estiveres, poderás me escutar, então me diz, sem tempo a perder Aurora, para ver-te o que devo fazer? Pois a mim, ninguém irá dizer.

domingo, 23 de outubro de 2011

Ciência, Deuses e Crenças

Antes da exploração do espaço, da lua e dos planetas, o homem acreditava que os céus eram o lar e a província de deuses poderosos, que controlavam não só o firmamento mas também o destino dos habitantes terrenos. E que este panteão de entidades guerreiras eram causa e razão da condição humana no passado, com certeza seriam também no futuro, consequentemente grandes monumentos para eles seriam criados, Assim na terra como no céu. Mas o homem substituiu estes deuses por novos deuses, e por novas crenças que também não forneceram aos crédulos mais certezas do que as fornecidas pelos gregos, romanos ou egípcios. Hoje escolhemos nosso deus monolítico e benevolente, mas ainda encontramos nossas certezas na ciência, mesmo assim todos os religiosos mais fervorosos ainda esperam por um sinal, uma revelação divina para mostrar-lhes o caminho da salvação. Nossos olhos voltam-se para os céus prontos a creditar no inacreditável, naquilo que não podemos ver, procurando encontrar nosso destino nas estrelas, O filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) dizia com frequência que ele era um inimigo de qualquer religião intolerante, fanática, com base numa frase da sua autoria na qual afirmava que a religião cega era o ópio do povo, que era necessário entorpecer com crendices, seja elas quais forem, para termos a certeza de sermos ouvidos por alguém que esta acima de nossa compreensão. Apesar da origem dessa comparação não ser de autoria dele, o filósofo quis dizer que a religião fanática servia como alívio ilusório ao sofrimento dos pobres, como vemos na citação do seu texto: "A religião é o suspiro do oprimido, o coração de um mundo insensível, a alma de situações desalmadas. É o ópio do povo. Creio eu, que a servidão voluntária, acrescida de um credo irracional afasta-nos da verdade. Mas afinal qual a melhor forma de buscar a verdade? esteja ela no céu ou na terra? Como compreender de onde viemos? Quem somos afinal? e para onde vamos? Será que devemos olhar com novos olhos? Buscando na ciência uma resposta? Ou com os olhos mais conservadores? Sempre a espera de um sinal? Esta dúvida nada mais é do que a legitima manifestação de nossa curiosidade, uma prova mais explícita, se é que existe esta prova, para nossos credos e pontos de vista. Quantas descobertas na ciência foram devidas a curiosidade que inspirou o coração dos homens, as grandes descobertas, as invenções notáveis que outra coisa não são senão frutos da curiosidade humana. A linha entre a visão mais elevada do espírito e o frenesi religioso é muito tênue. A crença que um poder maior e impalpável existe não pode de forma nenhuma tirar nossos pés do chão, pois além de concreto e manifesto, nosso mundo esta aí, e a cada dia se apresenta com novos desafios. A fé cega que nega a ciência não leva a salvação, mas a submissão.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Pequenos Espíritos

Oslo – Noruega – 1861 - Permaneci no mesmo lugar, imóvel,ainda que minha vida dependesse de uma única palavra, eu não teria conseguido pronunciá-la. Estava perplexo. Um acontecimento horrível e indescritível, beirando o inacreditável. Naquele momento os pássaros certamente se recusaram a cantar e a temperatura caiu repentinamente, como se o próprio Deus tivesse sem fôlego com o que via. Ninguém naquele lugar se atrevia a falar em voz alta, tanto pelo espanto ou simplesmente por lamentação. Aos poucos foram retirando os pequenos corpos, um a um a medida que os escombros eram removidos, e pequenas mãos e pernas ainda podiam ser vistos. Mas já sem vida. Em vão, o meu cérebro inventava os mais absurdos expedientes para conseguir manter-me lúcido, expedientes análogos aos que um homem mergulhado no sono tremulo do medo teria imaginado para uma cena tão assustadora. Os olhos das crianças mortas estavam fechados, como se esperassem permissão para abri-los, ou talvez para não presenciarem seu próprio fim. Ainda era como se estivessem ainda sonhando com sorvetes, pular corda, brincar de bonecas, ou alguma outra coisa que pudesse trazer-lhes alguma alegria. E nada além de esperar amanhecer para correr na rua e brincar. Nunca, por mais que eu viva, poderei esquecer a intensa agonia de terror que senti naquele momento. Arrepiaram-se os cabelos, senti o sangue gelar-me nas veias, o meu coração quase deixou de bater ,agachei-me e Ajoelhado junto aos pedaços destroçados do orfanato Akersveien que se espalhavam pela rua, permaneci imóvel, paralisado pelo imenso pavor e tristeza daquele momento. Será que suas inocências foram levadas junto com suas vidas? Soterradas na terra fria? Inocentes com destinos extremamente cruéis. Porque Deus permite tais atrocidades? Terá a maldade o poder de surpreender até o próprio Deus? Será que voltarão, felizes e novamente inocentes, em outras vidas? Eu quero acreditar muito em uma verdade que esta além da nossa própria, que esta oculta, escondida de tudo, exceto dos mais sensíveis olhos. No interminável processo das almas, que não pode e não será destruído. Eu quero crer que ainda não temos o pleno conhecimento da eterna recompensa de Deus, e também de suas tristezas. Penso que ainda não conseguimos ver claramente a verdade dele. Mas acredito que a inocência que nasce ainda vive, e não some na terra fria. Apenas espera para surgir novamente, na contemplação de Deus, no mesmo ou em outro local, para que os pequenos olhos possam em fim abrirem-se.

O Homem e seu tempo

Lúcio Aneu Séneca, um dos mais célebres filósofos estoicos do Império Romano, escreveu em sua obra ``A brevidade da vida´´ que o homem de...