quarta-feira, 10 de abril de 2019

O relógio de Ouro

Para esclarecimento ao leitor parece-me oportuno entrar em alguns detalhes deveras necessária a esta explicação pois é feita com o intuito de narrar com a mais pura veracidade possível a terrível cena de que foi teatro o local a que irei me referir. Já era noite alta e a taverna O Gato Azul, na verdade nunca consegui entender porque este nome nem tampouco teria visto alguma vez um animal com tal cor, mas emfim o local estava como sempre lotado, entre marinheiros e trabalhadores do cais londrino misturavam-se escritores, filósofos, médicos, e o mais variado tipo de clientela. Pelo exame comparativo de suas dependências e mobiliário posso afirmar que o local desde a sua origem teve o mesmo aspecto que atualmente conserva. Quanto a data desta origem sinto não ter conhecimento, e se assim posso considerar em face a antiguidade seriam dos primórdios da área portuária londrina. O taberneiro Edmondo acabara de trazer-me uma caneca com a mais pura bebida destilada da região quando chamou-me a atenção um marinheiro que descobri chamar-se Aron Kominski. Gabava-se de façanhas no mar e em terra, e é claro, pelas suas narrativas nunca teria perdido uma briga. Naquela noite Kominski estava a pagar rodadas de bebidas aos acompanhantes que o rodeavam, fato que era de se estranhar, pois sua condição financeira era sempre muito precária, já embriagado falava com muita fluência e balançava em sua mão direita um relógio de bolso, aparentemente pelo seu brilho do objeto em sua mão coberto com uma camada de ouro, com um brasão em sua parte frontal e seguro por grossa corrente, provavelmente do mesmo material. Em sua alegria desmedida o marinheiro gritava enquanto era abraçado pelos seus colegas de infortúnio de beira do cais: --Hoje eu bebo e pago, estou com meus amigos e ninguém vai me colocar pra fora desta espelunca. Fato que por diversas vezes já acontecera quando o beberrão marinheiro não pagava o que consumia e Edmondo o colocava para fora da taverna. Mas o inimaginável ainda estava por vir. Em meio a fraca iluminação que vinha dos lampiões colocados nas paredes laterais ergueu-se de uma mesa ao fundo do estabelecimento um jovem que aparentava estar entre os seus vinte e cinco e trinta anos e lentamente se aproximou do balcão onde estava nosso alegre marinheiro. Tinha o vem a cabeça altiva e os cabelos bem penteados, seu traje compunha-se de uma capa preta ajustada típica da burguesia londrina e de e um dos bolsos saíra a ponta de um lenço aparentemente de fina seda vermelha. Calças de nanquim preto, sapatos pretos com saltos elevados a carregava debaixo do braço esquerdo um chapéu pequeno de abas estreitas no mesmo tecido da capa. Mesmo sendo discreto o indivíduo apesar do aspecto muito nobre tinha qualquer coisa na fisionomia que nada de bom pressagiava. Sua maneira de olhar me dizia que nenhum pensamento positivo vociferava em sua mente naquele momento. Aproximou-se do balcão da taverna e se postou a frente de Kominski falando em voz clara e solene. – Gostaria de comprar seu relógio, será que posso vê-lo? Já imaginado uma vantagem financeira o marinheiro passou de imediato o objeto a ser negociado as mãos do jovem comprador e acrescentou. – Seu antigo dono era um nobre cavalheiro de londrino e por isto não posso vendê-lo barato. ---Realmente pelo brasão que esta gravado nele posso ver que se trata de um objeto de uma tradicional família. Retornou o jovem. – O sr. poderia me dizer como este relógio chegou em suas mãos? Marinheiro mostrou-se incomodado com a pergunta. – Se não quer comprá-lo não tem problema, eu o venderei para outra pessoa. Então o jovem colocando seu chapéu sobre o balcão levou sua mão esquerda no bolso de sua capa, sua mão direita pousou no ombro do falastrão negociador e disse-lhe. – Sei que este relógio pertenceu a um nobre homem e também sei como chegou a suas sujas mãos.! E continuou --Este homem era meu pai e você o matou para roubar-lhe esta joia e o dinheiro com o qual esta bebendo hoje. Sem que alguém pudesse pensar em alguma reação o jovem retirou do bolso um punhal enfiando-o totalmente no peito de Kominski que foi empurrado violentamente contra a parede da taverna. Por breves instantes um silencio mortal tomou conta do local enquanto o velho falastrão esparramava-se ao chão, já sem vida, e segui-se um burburinho ao redor do morto. Tempo este em que o jovem chegara até a porta de saída da taverna para fugir, mas não sem antes virar-se aos olhares perplexos de todos que ali estavam e dizer-lhes; – Nada fazeis que fique oculto pois isto abreviará tua morte. Pela pequena janela da taverna pude ver o cavalo em desabalada carreira passar levando em seu dorso o jovem justiceiro.

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