sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

O Estranho Passageiro

O movimento dos demais passageiro que subiam apressadamente, e quase lotavam o luxuoso vagão do trem, que pelas próximas três horas, me conduziria a Baltimore, cidade que há muito não visitara, fazia a ansiedade da viagem ser felizmente trocada por uma breve euforia. Estava me dirigindo a terra de meus ancestrais, lembro que quando da minha última estada por lá, era um local um pouco solitário, mas pacífico, o que não deixa de ser convidativo, comparado a correria desenfreada das cidades em acelerado desenvolvimento, como era o caso de Londres. Ao sentir-me devidamente alojado,observei ao meu lado um cavalheiro, que pela aparência facial deveria estar na casa de seus trinta anos,trajava um sobretudo bastante pesado,o que era natural nesta época do ano, devido a queda relevante da temperatura. Apressava-se em abrir o jornal matutino,exemplar igual também tinha eu adquirido antes do embarque. Foi ao tentar acomodar-me, mais uma vez, na poltrona para iniciar a leitura do jornal, que fui surpreendido por um leve solavanco, e olhando pela janela, logo pude verificar que finalmente estávamos a caminho, e enquanto o trem deslocava-se lentamente pela estação, já quase encoberta pela neblina do final de tarde, ainda pude ver ao longe a figura dos lanterneiros com seus bastões de citronela, há acender os pomposos lampiões de rua. Pela janela, podia ver ao longe, a fumaça escura das chaminés das fábricas, era a evolução chegando através da máquina a vapor, trazida até nós por James Watts, que chamou seu invento de máquina de Newcomen. Durante o trajeto da viagem, pude apreciar as inigualáveis belezas da natureza, a relva que parece não ter fim, mesmo coberta por fina camada de gelo, nos remete a pensar onde começa e onde termina o universo. As pequenas janelas do vagão estavam todas fechadas, devido ao forte vento que soprara lá fora, causando um leve embaçamento nos vidros, fato este que já a muito tempo não presenciara, e que confesso, deixou-me um pequeno sentimento de nostalgia. A jornada se tornara agradável, visto que uma das minhas predileções é viajar, para buscar inspiração para meus textos, e compelido a revisar os rascunhos, que por mim seriam entregues ao editor do jornal, fui então interrompido pelo cabineiro, homem de elevada estatura, com um surrado uniforme azul escuro, que nem tão escuro era, devido ao tempo de uso, e me solicitou o bilhete de passagem, ao qual passei-lhe as mão de imediato. Após fazer um pequeno furo no canto do bilhete, estendeu a mão devolvendo-o, e em voz baixa e rouca desejou-me uma boa viagem. Notei uma certa inquietude em meu nobre companheiro ao lado ao lhe ser solicitado seu bilhete de viagem, colocando ao lado da poltrona o jornal, que pelo fato de tê-lo manuseado tanto e tão repetidamente, já estava em um estado de completo amassamento. O homem vasculhou cuidadosamente e por mais de uma vez todos os bolsas do grosso sobretudo, mas sem sucesso, então percebi então que meu companheiro de viagem, passava por um momento delicado e constrangedor. Tomado pelo impulso e sensibilizado com o fato, perguntei ao nervoso passageiro para onde se dirigia? ---Sant Merie – respondeu ele, e acrescentou ---Estou deveras envergonhado, parece que perdi meu bilhete. Olhando atentamente para mim, creio eu, esperando uma reação favorável, com certeza. Perguntei ao cabineiro a valor da passagem até o destino de meu inesperado amigo, e após obter a resposta, efetuei o pagamento, passando o tão desejado bilhete as mãos de seu dono por direito. ---Sou muito grato, senhor. Disse o estrango passageiro. Um silêncio marcou uma longa parte do restante do caminho, até que o homem levantou-se, e erguendo as mãos buscou uma pequena maleta que colocara no porta bagagem, na parte superior do vagão. Retornando ao assento, retirou da maleta um pequeno livreto, e estendendo sua mão ofereceu-me o exemplar. ---Descerei na próxima estação disse ele, e concluiu ---Como o senhor pode ver, estou temporariamente com dificuldades financeiras, agradeço a gentileza de pagar meu bilhete, e deixo-lhe o primeiro exemplar de meu livreto de contos e poemas. Colocando o livro sobre a velha maleta, pela primeira vez durante o percurso o homem sorriu brevemente, para depois entregá-lo a mim. Disse seu nome, e logo após fazer isto desceu rapidamente em seu destino. Por alguns momentos fique sem saber o que fazer, se observava o estranho viajante que se afastava rapidamente, ou me dedicava a conhecer suas qualidades literárias, visto que estou com seu trabalho em minhas mão. Resolvi então fazer da leitura meu próximo companheiro de viagem, já que minha estação de destino estava aproximando-se, o escrito que recebera estava em capa com gravuras e numa cor escura que aproximava-se muito do cobalto, e havia apenas a figura de um pássaro que assemelhava-se a um corvo, ou algo assim, sem nenhuma inscrição como título principal. Apenas na parte inferior da capa o nome de seu autor, meu inesperado e ainda desconhecido amigo de viagem. Edgar Allan poe

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

paris, Meu Amor

 

Um final de tarde chuvoso

Um frio agradável.

Minha atenção vacila

entre a xícara de chá

e o som suave do piano.

 

Uma apaixonante canção

“13 jours La France”.

Um ambiente convidativo

“ Le Blanc Café.”

Na Champs Elisees.

 

É fascinante observar o movimento.

Transeuntes com seus coloridos guarda chuvas.

Mas sem nenhuma pressa

Como a contemplar o entardecer

naquela fria tarde de inverno.

 

Paris transmite tranqüilidade

Paris é inigualável

Paris encanta

Paris,  reduto dos amantes

Âmago das paixões.

Paris, meu inesquecível amor.

 

 

 

 

 

 

 


terça-feira, 23 de agosto de 2016

A Carta de Edgar


Em fevereiro de 1851 recebi em minha residência na rua St.. Tooley 123,uma carta escrita por meu amigo e escritor Edgar A. Relatando em detalhes o infortúnio de ver o chalé em Boston,onde tinha sua biblioteca ser consumido totalmente pelas chamas.
Após tomar conhecimento do lamentável acontecimento, descrevo com muito pesar,palavra por palavra o seu conteúdo:

Prezado amigo Lawford...
Depois de restabelecido do calamitoso incêndio que transformou em cinzas minha moradia,escrevo-lhe retratando neste compêndio minha imensa aflição.
Já era madrugada de terça feira quando o coche  conduzia-me de retorno a minha casa no número 103 da rua Dorchestes,em Boston,após uma noite de frivolidades e bebidas no Le Chat Blanc Club.
O clarão que iluminava quase todo o quarteirão,e os estalidos das madeiras do chalé já denunciavam que algo de muito terrível estava acontecendo.Ao aproximar-me percebi o local que onde tinha,por algum tempo,escolhido para ser meu domicílio,estava sendo engolido pelas labaredas.
Tal foi minha tão grande angústia que esmorecido,sente-me ao chão, do lado oposto da rua.Ainda sob o efeito do que havia consumido durante a noite e tomado de grande aflição pelo que presenciava,veio-me um riso débil,uma hilaridade descontrolada,minhas pernas infirmes não  deixavam erguer-me.As árvores,a rua,o céu escuro,os bombeiros que corriam desordenadamente,tudo estava diferente,tremeluzindo em imagens difusas.Minha mente estava extremamente perturbada,e o  riso inadequado em um trágico momento,transformou-me em pândego em meio ao caos.
Perder tudo nos dá um certo censo de liberação.No início lamentamos,depois sentimo-nos desnorteados,mais tarde faze-se um inventário das perdas e imaginamos como a vida será empobrecida daí em diante.Passamos então a lastimar pelas coisas que foram repentinamente tiradas  de nós,e sabemos que muitas delas jamais as teremos novamente.Sem mais ter o que sempre tivemos tornamo-nos outra pessoa,tornamo-nos qualquer pessoa.É a máscara da liberdade escondendo a face do abandono.
Aos pouco a Dorchester foi ficando vazia,apenas a fumaça acinzentada que vinha dos escombros e entrava em minhas narinas como fogo,e uma gaiola que milagrosamente foi salva das chamas,faziam-me companhia naquele cenário de desolação .
Restava-me agora uma gaiola com um pequeno pássaro e um grande alívio,por não mais precisar preocupar-me com nada a não ser escrever.
Um abraço.. Edgar A.    




         





O Homem e seu tempo

Lúcio Aneu Séneca, um dos mais célebres filósofos estoicos do Império Romano, escreveu em sua obra ``A brevidade da vida´´ que o homem de...