quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A Morte de Thomas

Para relatar com a mais pura veracidade o ocorrido no início do inverno de Janeiro de 1928, no Vale de Yorkshire, Inglaterra, devo eu, transporta-me para a pessoa a qual me refiro nesta narrativa, o novelista, poeta e grande amigo,Thomas H. homem que dedicou boa parte de sua vida a restauração de velhas igrejas, e somente depois de uma idade já avançada deixou fluir seu talento literário. O estilo um tanto prosaico e bastante objetivo da sua linguagem, cuja temática sempre voltava-se para as agruras da velhice, o amor e irremediavelmente a morte, influiu na reação anti-romântica daquele período. Por tudo isso, foi considerado  pelos críticos como " o último dos grandes vitorianos". Segue um trecho de sua última escrita, encontrada em sua cabana, onde passou seus derradeiros dias. Eu,Thomas H. Por muito tempo permaneci recluso neste chalé, na parte mais distante do vale, talvez tomado pela angustiante saudade de minha falecida esposa Emma, ou quem sabe pela impiedosa velhice que enfraquece-me a cada interminável dia, tirando-me  o que havia de mais pertinente em meu cérebro, a imaginação, a capacidade de escrever e colocar em meus poemas os sentimentos mais puros e verdadeiros de minha alma. Amargurado, vejo, mesmo que com muita dificuldade, pela janela deste solitário refúgio, o passar fantasmagórico de uma vida, e a neblina que envolve a imensidão esverdeada das montanhas, parece invadir este fúnebre local, trazendo consigo um ar de desalento e inércia. Já sem forças e entregue a mercê do meu  algoz destino, em meu leito, percebo que a doença leva-me a um desfecho inevitável, desfecho este, que a algum tempo aguardo ansiosamente, pois estaria a livrar-me de meus tormentos, dos fantasmas do passado que me assombram a cada noite, fazendo-me penar a cada dia em um tormento sem fim.  Ouço o ruído dos passos que se aproximam de meu leito, não posso saber quem chega a minha velha cabana, tento identificar o vulto que de mim se aproxima, mas é em vão, maldita visão, que diminuiu demasiadamente  com o tempo, e me deixa  impotente, sem saber o que esta a acontecer. Seria a própria morte, que diabolicamente estava a bater a minha porta? Seria um anjo, que veio buscar-me, e conduzir-me sei lá pra onde? Ou talvez, Henry, o filho que com 14 anos, partiu logo após o enterro de sua mãe? Mas agora já não faz a menor diferença quem esteja a rodear meu leito de morte, meus cansados olhos, como a névoa mais profunda das florestas, já não distinguem com facilidade a fisionomia de quem quer que seja, nada tenho de valor, que possa interessar a qualquer pessoa. Mas os passos ficam mais próximos, até não acreditar nas palavras ,que pronunciadas em voz baixa e lentamente, chegaram aos meus ouvidos. ---Papai, sou eu....Henry! Pronunciou o visitante. Não sei dizer ao certo, se fui tomado pela alegria do retorno de meu filho, ou pela imensa tristeza pelo tempo em que por ele fui abandonado, pelas marcas que este abandono deixou em minha alma, mas agora isto já não importa, de meus velhos olhos deixam precipitarem-se algumas lágrimas, pois o passado me era desagradável. No momento final de minha existência, Henry estava ali, no meu lado. Pude perceber quando sentou-se ao lado do meu debilitado corpo, segurou carinhosamente minha mão entre as suas. Era o momento da redenção de todos os infindáveis dias de tristeza. – Sei que estás muito doente, meu pai! Sussurrou ele. – E quero ficar contigo neste momento! Completou.   Naquele anoitecer no Vale de Yorkshire, a névoa cobria a terra, sobre as águas flutuavam, ondas fluentes e o esplendor do intenso inverno, o fundo branco do gelo na relva, era como um arco-íris caído do firmamento, mas trazendo também uma tristeza, que é a mais duradoura das impressões, tão duradoura quanto o fardo desta melancolia que vem amargamente me perseguindo pela vida toda. As horas da minha felicidade com certeza a muito já se foram, e o prazer não se colhe duas vezes na mesma vida, como as rosas de Possidônio, que não brotam duas vezes por ano. Quando vemos a vida se esvair de nós, como fino líquido por entre os dedos, tentamos esquecer aquilo que nos faz mal, porem,esquecer é um ato involuntário, pois quanto mais se quer deixar algo para trás, mais isso nos persegue. É quase débil crer que Deus possa dar a alguém um toque de talento, mas completar o restante de sua vida com sofrimento e miséria. Uma terrível sombra caía sobre a minha alma naquele momento, fazendo-a empalidecer e estremecer mortalmente a cada minuto que passava, justamente agora, quando eu mais queria ficar ao lado daquele que foi fruto de um amor divinal, que traz em seus mais simples traços a imagem encantadora de sua mãe.  Mas o cavaleiro da morte se aproximava a galope, podia sentir o vento gélido e aterrador tocar todo meu corpo, o momento de deixar este horrendo mundo estava por chegar. Juntando todas as forças em um último e derradeiro esforço, balbuciei em tom muito baixo…. – Tens então, meu amado filho...Disse eu,em um sopro de voz... – Que registrar em tua memória este último momento comigo. Meu olhar direcionou-se para o lado, como se a procurar algo, ou alguém, as lágrimas escorreram sem controle pelo meu pálido rosto. O medo vem causar-me arrepios, juntamente com a paz que a morte irremediavelmente traz, o limbo das trevas já toma conta de minhas mãos, dos meus braços, minhas pernas, de todo o  interior do meu gélido corpo. Um silêncio tomou conta da velha cabana, que envolveu-se em uma nebulosa escuridão. E inexplicavelmente, meus olhos puderam ver, ao lado daquele leito mortal, a figura linda, divinal, de Emma, mãe de Henry, sorrindo docemente, com o mesmo manto lilás com o qual a cobri seu caixão no dia de sua morte. Como um triunfo final aos meus miseráveis dias.  Então, não mais ouço, nada mais vejo, creio eu, já estar morto.

O Homem e seu tempo

Lúcio Aneu Séneca, um dos mais célebres filósofos estoicos do Império Romano, escreveu em sua obra ``A brevidade da vida´´ que o homem de...