quinta-feira, 14 de novembro de 2024
O Deus de Spinoza
Conta-se que o físico Albert Einstein, ( 1879/1955) em uma de suas conferências em várias universidades dos EUA, a pergunta recorrente que os alunos fizeram foi:
- Você acredita em Deus?
E ele sempre respondia:
- Eu acredito no Deus de Spinoza.
Quem não leu Spinoza não entendia a resposta.
Baruch De Spinoza foi um filósofo holandês considerado um dos três grandes racionalistas do século da filosofia, junto com o francês Descartes.
Este é o Deus, ou a natureza de Spinoza:
Deus teria dito:
“Pare de ficar rezando e batendo no peito! O que quero que faça é que saia pelo mundo e desfrute a vida. Quero que goze, cante, divirta-se e aproveite tudo o que fiz pra você.
Pare de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que você mesmo construiu e acredita ser a minha casa! Minha casa é as montanhas, os bosques, os rios, os lagos, as praias, onde vivo e expresso Amor por você.
Pare de me culpar pela sua vida miserável! Eu nunca disse que há algo mau em você, que é um pecador ou que sua sexualidade seja algo ruim. O sexo é um presente que lhe dei e com o qual você pode expressar amor, êxtase, alegria. Assim, não me culpe por tudo o que o fizeram crer.
Pare de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo! Se não pode me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de seus amigos, nos olhos de seu filhinho, não me encontrará em nenhum livro.
Confie em mim e deixe de me dirigir pedidos! Você vai me dizer como fazer meu trabalho?
Pare de ter medo de mim! Eu não o julgo, nem o critico, nem me irrito, nem o incomodo, nem o castigo. Eu sou puro Amor.
Pare de me pedir perdão! Não há nada a perdoar. Se eu o fiz, eu é que o enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso culpá-lo se responde a algo que eu pus em você? Como posso castigá-lo por ser como é, se eu o fiz?
Crê que eu poderia criar um lugar para queimar todos os meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que Deus faria isso? Esqueça qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei, que são artimanhas para manipulá-lo, para controlá-lo, que só geram culpa em você!
Respeite seu próximo e não faça ao outro o que não queira para você! Preste atenção na sua vida, que seu estado de alerta seja seu guia!
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é só o que há aqui e agora, e só de que você precisa.
Eu o fiz absolutamente livre. Não há prêmios, nem castigos. Não há pecados, nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Você é absolutamente livre para fazer da sua vida um céu ou um inferno.
Não lhe poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso lhe dar um conselho: Viva como se não o houvesse, como se esta fosse sua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não houver nada, você terá usufruído da oportunidade que lhe dei.
E, se houver, tenha certeza de que não vou perguntar se você foi comportado ou não. Vou perguntar se você gostou, se se divertiu, do que mais gostou, o que aprendeu.
Pare de crer em mim! Crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que você acredite em mim, quero que me sinta em você. Quero que me sinta em você quando beija sua amada, quando agasalha sua filhinha, quando acaricia seu cachorro, quando toma banho de mar.
Pare de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra você acredita que eu seja? Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que me agradeçam. Você se sente grato? Demonstre-o cuidando de você, da sua saúde, das suas relações, do mundo. Sente-se olhado, surpreendido? Expresse sua alegria! Esse é um jeito de me louvar.
Pare de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que o ensinaram sobre mim! A única certeza é que você está aqui, que está vivo e que este mundo está cheio de maravilhas.
Para que precisa de mais milagres? Para que tantas explicações? Não me procure fora. Não me achará. Procure-me dentro de você. É aí que estou, batendo em você.”
Esta passagem, se verídica, não esta constante na biografia do físico. Publicada pela Editora Zahar, em 2017.
domingo, 27 de outubro de 2024
O Senhor das Sombras
Prólogo:
Esta história fala sobre o Lado Sombrio da alma: o que não gostamos sobre nós mesmos. Segundo o psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Jung, (1875/1961), o lado sombra de cada um de nós, também chamado do “lado obscuro ou negro” é aquela parte do inconsciente que desprezamos, escondemos ou rejeitamos. A grande maioria de nós desconhece esse lado, mas quem o conhece, pode ter dificuldades para lidar com ele. E após despertado, pode trazer consequências irreparáveis. Nosso personagem principal, o escritor Lawford, visita seu amigo e psiquiatra, o dr. Frontin Lebranc, e a partir de sua chagada a Clínica San Antonio, onde o lado sombrio de cada paciente é levado ao extremo. Situações que beiram o inacreditável são vivenciadas por nosso escritor.
Primeiro Capítulo
A Viagem.
Estávamos no intenso inverno Londrino de 1857, após haver saído de Londres pela ferrovia National Rail, poucas horas depois desembarquei na estação Railway Station, no Condado de Doncaster, e dirigi-me até a estalagem Sauvage, que era a mais próxima da pequena estação local, onde tratei imediatamente de alugar um coche, pois meu destino era a pequena cidade de York, no vale que levava o mesmo nome. O trajeto de saída de Doncaster, passava pelo subúrbio de Balby, onde belas casas com seus telhados elevados e pontiagudos, e janelas retangulares, deixavam a região com um toque austríaco em suas construções.
Pelas informações que tinha coletado quando passei pela Aldeia Kirk Sandall, e com alguns amigos que conheciam a região, antes de chagar ao vale, eu seguiria meu curso ladeando o rio Cheswood, que acompanha por grande parte da estrada e depois de algum tempo, chegaria a vila de Ruchswick, já no Condado de Worcester, onde a peculiaridade são as casas perigosamente construídas a beira das falésias(escarpas), misturando beleza e perigo ao local.
Todas as informações a mim passadas estavam extremamente precisas e o coche e seu condutor me conduziam lentamente pela estrada Derwent Road, até York, uma cidade muralhada no nordeste de Inglaterra, e que foi fundada pelos antigos romanos. A enorme catedral gótica, YorkMinster, tem vitrais medievais e dois campanários funcionais, e uma beleza incomum em todos os detalhes. Chegando lá, deveria de imediato seguir ao encontro do meu amigo e prestigiado médico psicanalista francês, dr. Frontin Lebranc. Segundo o que o médico me havia relatado por carta, meu nobre amigo teria desenvolvido métodos revolucionários para controle da mente, entre eles a Psicastenia, que utilizava a hipnose individual para controle da histeria.
Durante o nosso vagaroso deslocamento, observei que quanto mais distante ficávamos dos vilarejos locais, mais a densa neblina envolvia nosso caminho, que agora já era através de uma estreita estrada entre os charcos e pântanos, que pelo seu péssimo estado, totalmente coberta pelo lodo.
Pela janela do coche, que balançava fortemente devido as condições inóspitas do trajeto, a visão dos charcos entre o intenso nevoeiro que a tudo cobria no cair da noite, era, sem dúvida, algo assustador.
Depois de atravessarmos os charcos e a névoa, que posteriormente descobri que permanecia dia e noite naquela região, e entre solavancos da carruagem, mesmo sendo já escuro devido ao adiantado da hora, pois a noite já havia chegado, não foi difícil ao cocheiro encontrar a estreita bifurcação que levava a cidade de York, no condado de Yorkshire, e a Clínica Psiquiátrica San Antonio, meu destino final.
Segundo Capítulo
Meu velho amigo
Meu velho amigo, agora com 65 anos, era diretor da clínica, e ali desenvolvia métodos não muito convencionais, e até mesmos contestados, para estudo da mente humana. Além de eletrochoques e imersões em água extremamente gelada, ainda incluíam seu conjunto de mecanismos de trabalho, incisões cirúrgicas para estudo da massa encefálica, e também o hipnotismo, motivo de minha visita, já que a muito tempo alentava relevante interesse pela metodologia do controle mental.
Durantes os últimos anos, Londres foi inundada por charlatões que afirmavam ter completo conhecimento para domínio da mente humana, mas que ao final, não passavam de ardilosos impostores, ludibriando a boa fé da sociedade. Frontin era uma das poucas exceções, pois após ler alguns artigos escritos por ele na revista da sociedade de psiquiatria londrina, escrevi a ele relatando meu interesse em escrever uma matéria sobre seu trabalho. Pedido este que foi aceito de imediato pelo médico.
Enfim, após transpor o gigantesco portão de ferro, que tinha em sua parte superior, distinta em letras grandes o nome da instituição, fui recebido pelo meu anfitrião.
---Sr. Lawford, estou lisonjeado pelo seu interesse em conhecer meu trabalho. Disse ele ao abrir a porta do coche para que pudesse descer.
Era um homem de estatura mediana, creio quem torno de 1,65 Mt de altura, e que se vestia muito bem, um fino traje em tweed preto e cinza, uma camisa em tons claros e uma gravata borboleta na cor vinho.
---Este é meu serviçal, Edgar. Ele vai levar sua bagagem enquanto entramos para tomar um chá e conversarmos.
Falou Frontin, apontando para um homem de meia idade que o acompanhou até o coche.
Antes mesmo que eu pudesse agradecer por ter aceito meu pedido, o médico colocou sua mão em meu ombro sinalizando que deveria acompanhá-lo para conhecer o incomum local.
Em uma breve oportunidade, assisti uma conferência do dr. Frontin em 1855, a dois anos, quando ele estive no Comitê de Psiquiatria Londrina. Naquela ocasião, eu pretendia escrever uma matéria sobre o mundo dos alienados e posteriormente publicá-la no London Gazette. Já naquele período o médico declarava seu interesse em abrir sua própria clínica, o que um ano depois acabou acontecendo, onde ele ficaria mais à vontade para trabalhar com seus métodos, longe do ceticismo dos críticos, que o chamavam de Lunático, e também da repulsa de muitos a respeito de sua metodologia.
Ao adentrar no saguão da clínica, já percebi que a construção era muito antiga, toda erguida em blocos de pedras escuras, um local extremamente grande, com pilares grossos espalhados pelas laterias, mesmo a instituição tendo uma ampla fachada, eram apenas dois andares, e sua ala principal ficava no térreo. Não haviam paredes separando os pacientes, apenas camas que ficavam paralelas as paredes laterais, pois como já mencionei, não haviam naquele gigantesco salão paredes divisórias.
Alguns pacientes, que creio eu, sempre estavam aos cuidados dos enfermeiros, ou de algumas freiras que também auxiliavam no local, permaneciam amarrados as bordas de ferro de seus leitos, certamente para sua própria segurança, e outros perambulavam desnorteados pelo corredor central, de um lado para outro, como sonâmbulos, talvez pelo efeito de algum sedativo.
Em uma primeira impressão, aquele local era uma imagem depressiva, muito distante do que eu havia imaginado. Apenas poucas janelas deixavam o ar fluir para dentro do degradante local, impregnado com o cheiro pestilento de excrementos humanos. Devo admitir ser aquilo um hórrido cenário.
A alienação humana exposta em seu grau mais assustador.
Mas era apenas o início de uma estarrecedora experiência, que eu jamais esqueceria.
Terceiro Capítulo
A Alienação Humana
Seguimos nossa caminhada um tanto espantosa para mim até o fundo da extensa ala onde uma escadaria nos levaria aos porões. Naquele local permanecia em condições sub-humanas e bestiais pacientes com elevado grau de demência, assassinos condenados a morte, todos encarcerados em minúsculas jaulas aguardando o momento em que eram levados a condição de cobaias humanas e assim cruelmente fornecerem sua contribuição, mesmo que não seja espontânea e consciente, para os experimentos de Frontin.
Ali tive consciência da total agonia que a mente humana pode chegar, o extremo da alienação incontrolável.
Gentilmente Frontin conduziu-me até onde seria meu quarto no andar superior da clínica, durante o trajeto dois pacientes despertaram minha atenção. Um deles já me era conhecido, tratava-se de Robert Roster, um jovem de Swuan Valey, que após matar a própria irmã Catarine Roster, afirma ser atormentado pelo espírito da falecida, o segundo caso é uma paciente chamada Charlott Dolms, uma jovem aparentando 25 anos, que segundo o médico, tem total liberdade para transitar pela clínica, Frontin disse que a jovem estava sempre a dançar, usando tão somente um retalhado figurino de bailarina.
Minhas parcas acomodações eram escassas, apenas uma cama de metal com um velho colchão, e uma mesa em madeira já bastante desgastada ao lado de uma cômoda. Sobre a cama haviam deixado alguns lençóis dobrados, um travesseiro e um cobertor. Uma caixinha com fósforos foi deixada sobre a mesa, o que possibilitou para eu ascender o lampião que estava sobre a cômoda, a arrumar meus pertences nas gavetas, que exalavam um fortíssimo odor de umidade.
Passado dois dias da minha chegada, Frontin já havia feito as apresentações aos enfermeiros e religiosas que o auxiliavam no local, mas minhas atenções eram concentradas na leitura das anotações sobre os experimentos em Psicastenia cedidas pelo médico, entretanto, outros episódios despertaram minha curiosidade. Um deles o fato de haver um cemitério em uma ribanceira bem próxima nos fundos do manicômio, e talvez por mera coincidência, durante minha primeira noite na clínica, pela janela de meu quarto percebi que um cadáver era arrastado para lá, pelos enfermeiros. Outra situação intrigante era a noite, quando de minha janela, no segundo andar da clínica, observava o dr. Frontin, iluminado apenas pela luminescência da lanterna que carregava em uma das mãos, abrir o pesado cadeado que
enclausurava todos que ali estavam, permitindo a saída do coche da instituição, onde Edgar e a jovem Charlott, com seu desgastado traje, desapareciam em meio a noite nebulosa. Os motivos daquelas saídas noturnas e para onde eles iriam ainda era um mistério para mim, pelo menos até aquele momento.
No decorrer dos dias, enquanto acompanhava o médico em suas visitas aos pacientes, percebi que alguns internos se negavam a falar, mas segundo Frontin, não eram desprovidos da voz.
---O não falar é a recusa da mente, é o não permitir que a outra personalidade se exprima, é o bem em confronto com o mal dentro da cada indivíduo.
Ele afirmava que todo indivíduo carregava dentro de si duas personalidades distintas.
---Todos os meus experimentos são para a libertação da criatura presa no íntimo de cada um dos pacientes. Em toda personalidade humana, duas criaturas lutam pela supremacia. Pelo domínio total da mente.
---Então devemos aceitar esta luta interior e priorizar o bem em nós. Comentei
Ele sorriu enquanto caminhávamos pelo corredor central.
---Bem ou mal, meros sofismas inúteis, meu amigo. O homem sempre soube que sua personalidade é uma instável e inadequada combinação de elementos conflitantes.
Frontin buscava libertar a sombra interior, oculta em cada subconsciente de seus pacientes. Segundo ele, a sombra é tudo o que foi negado, mas permanece oculto, ou seja, reprimido em seu inconsciente.
Outro paciente que me chamou a atenção era um jovem, creio não ter ele mais que 25 anos, e que durante a janta demonstrava grande habilidade ao tocar seu violino.
---Observe esta rapaz, meu caro Lawford. Disse Frontin
---Seu nome é Charles Peace, um exímio violinista, mas que ao libertar sua sombra interior, matou sua noiva Júlia Hofbrand, enforcada com uma corda de seu instrumento.
---Será que ele sabe realmente a diferença entre realidade e loucura? Indaguei, ao ver o homem sorrir a todos enquanto tocava.
---Talvez saiba, mas eu duvido, pois os olhos são inúteis, quando a mente é cega, perturbada. E continuou.
---A insegurança social carrega o custo de vestir uma máscara, de aprender a nos distanciar de nossa natureza única, de nossos desejos pessoais, necessidades e sentimentos; em vez disso, adotamos um personagem aceito socialmente. Peace foi uma das vitimas desta insegurança, pois ele nunca foi somente um músico, seu real instinto era de um assassino.
Respondeu o médico, ao mesmo tempo que levantava-se para sair.
Aos poucos fui compreendendo a natureza das pesquisas realizadas por Frontin, buscando alcançar o sigiloso, intrínseco na alma de cada paciente.
Quarto capítulo
O primeiro mistério
Recordo-me da primeira noite na clínica quando circulava pelos corredores do segundo andar para conhecer o local, e passando pelo gabinete de Frontin, notei que havia a fraca iluminação da lanterna que ficava em sua mesa, observando pelo vão da porta, que não estava totalmente fechada, percebi que uma enfermeira, Greta, estava lá, totalmente despida, dançava rodando por toda sala com uma taça de vinho nas mãos, enquanto o velho médico admirava a cena recostado em um divã.
Naquele momento tentei imaginar quem naquela sala seria mais insano?
Percebo agora que alguns favores tinham seu preço até mesmo no mundo irracional dos loucos.
Mas as saídas noturnas de Charlott e Edgar, e o cemitério nos fundos da clínica, eram situações inquietantes para mim, mas deveria ter cuidado, pois não poderia de maneira alguma me indispor com Frontin, afinal ele estava me dando toda oportunidade de estudar e observar o trabalho realizado por ele.
Ao completar a primeira semana no sanatório, achei-me com coragem para investigar, então aproveitei uma noite chuvosa e fria e avancei furtivamente pelo corredor até a cozinha, onde pela porta lateral tive acesso à ribanceira do campo santo, onde as inúmeras ossadas por mim descobertas em meio a lama que escorria com a forte chuva, eram uma imagem aterradora, mas meu objetivo era outro, queria saber onde se dirigia todas as noites a jovem paciente e o cocheiro.
Logo que a carruagem da clínica deixava os portões, Edgar fazia uma parada para Charlott descer, e em seguida seguia seu curso, ao mesmo tempo em que ela se embrenhava no nevoeiro, atravessando o pegajoso lamaçal.
Tentei por várias noites seguir a paciente bailarina do doutrinador de mentes, mas foram noites infrutíferas. O seu desregrado trajeto repetia-se a cada noite, sempre em frente a tavernas, e nas áreas mais movimentadas da cidade, até que entre os casebres e populaças, e encoberta pela odiosa névoa, eu a perdia noite após noite. Só a reencontrando na manhã seguinte na clínica.
Em umas das manhãs, após o café com o médico, em seu gabinete, ele solicitou-me que fosse até seus aposentos e apanhasse sua valise de instrumentos cirúrgicos, pois gostaria que o acompanhasse em um procedimento, que seria realizado na enfermaria da clínica.
Entrei nos aposentos de Frontin para buscar a valise de instrumentos solicitada pelo médico, e surpreendeu-me com comodidade encontrada ali, algo bem diferente do restante da clínica. Papel de parede em florais na cor verde claro embelezavam todo o ambiente, belíssimos mobiliário de madeira torneada, e no canto, um cama coberta de fino véu, certamente para evitar que insetos atrapalhassem o seu descanso, e sobre a cama, coberta por alvo lençol, estava Greta, a enfermeira. Uma jovem de cabelo loiros e compridos, olhos claros, e um belo sorriso.
---Em que posso ajudá-lo, sr. Lawford, ou será que se enganou de aposento? Disse ela, cobrindo-se ainda mais com o lençol, mas sem nenhuma vergonha com relação a minha entrada inesperada.
---Vejo que auxilia o doutor em todas as suas necessidades. Mas entrei para buscar a valise com seus instrumentos. Respondi
---Espero que ao me encontrar na cama de Frontin, não tire conclusões precipitadas. Disse a jovem sorrindo.
---Eu não insultaria um jovem tão bela, com pensamentos tão banais, prefiro pensar que tudo tem um propósito.
A jovem sentou-se na cama, ainda cobrindo o corpo com o lençol.
---Agradeço sua cortesia, vejo que o senhor é um homem culto. Mas por favor pegue a valise que está sobre a Eu poderia saber que é o seu cômoda e saia, preciso me vestir.
---Não quero impedi-la. Retornei.
---Como o senhor mesmo disse, tudo tem um propósito, e não posso esquecer-me do meu.
---Eu poderia perguntar que seria os seu propósito aqui na clínica? Indaguei
Ela sorriu novamente, enquanto levantou-se de leito, envolta no lençol.
---O senhor é impertinente, ou apenas muito curioso? Disse ela, enquanto caminhava até um biombo de bambu, no canto da sala.
---Sou apenas direto, minha jovem. Respondi.
---Parece-me que o senhor é um homem muito seguro.
---Pode um homem inseguro viajar tão longe, para conhecer a mente humana? Respondi.
--Creio que não, sr. Lawford.
Enquanto falava, a jovem recolheu suas vestes brancas de enfermeira, que havia deixado sobre o biombo, e colocou-as, saindo de trás painel já devidamente uniformizada.
---Seja qual for o seu propósito Greta, lembre-se que quem implora nada ganha, e quem paga, acaba pagando muito, por muito pouco.
Falei a jovem, enquanto pegava a valise sobre a cômoda e saia do quarto.
Quinto capítulo
A descoberta
Não sei dizer porque mas, aquilo se tornou, para mim, uma obsessão, era imperativo descobrir qual o motivo daquelas saídas noturnas, e porque ela voltava todas as noites, pois poderia fugir. Os dias foram se passando até que em uma sombria noite após seguir a jovem por logo tempo e novamente perdê-la de vista resolvi tomar outro percurso de retorno fazendo um trajeto em meio aos charcos. Certamente mais uma noite desperdiçada, naquele local o nevoeiro era ainda mais intenso, mas para minha profunda surpresa eu estava no caminho certo. Escutei ruídos vindos dos charcos e vultos a movimentar-se na escuridão, primeiramente senti um medo petrificante, depois me agachei e fui silenciosamente até onde os ruídos me levassem e encontrei Charlott em meio aos charcos e a neblina, uma cena digna da mais implausível lenda animalesca, vi a jovem ajoelhada ao lado do corpo de um corpo, entre um som que mais parecia um grunhir de um animal a vagante bailarina estrangulava ferozmente apertando o pescoço do homem, que certamente estaria embriagado. Após a vítima estar desfalecida, surgiu Edgar, que vasculhou os bolsos e retirou o relógio de bolso do agonizante cavalheiro. Tudo agora ficava um popuco mais claro para mim, os dois saiam a noite para praticarem furtos, porém suas vítimas, al´me de seus pertences, perdiam suas vidas. Eu estava vivenciando naquele mórbido e terrífico momento algo que jamais esqueceria. Tão demonicamente era a ação da dupla, que minha presença por detrás das árvores, e encoberta pela nefasta neblina que cobria aquele lugar infernal, não foi por eles notada. Depois de alguns segundos fugi apavorado e enquanto tentava correr desesperadamente por entre os pegadiços charcos não saia de minha mente a imagem da face de Charlott com suas mãos e sua veste cobertos de lama, asfixiando mortalmente sua presa.
Retornei aos meus aposentos com as roupas enlameadas e tremendo quase descontroladamente, não tanto pelo frio que era intenso naque noite, mas principalmente pelo pavor que tomava conta de mim. Não sabia ao certo o que fazer, se falasse o que presenciei ao dr. Frontin poderia na noite seguinte juntar-me aos inúmeros corpos jogados na ribanceira. Se aquela monstruosidade em forma de mulher desconfiar que sei seu segredo eu poderia ser sua próxima vítima. Eu não tinha dúvidas que a situação em que me encontrava naquele momento era deveras preocupante.
Após livrar-me das roupas enlameadas e tomar um banho tentei descansar em minha cama, mas isto não foi possível porque dormir naquele momento era algo improvável. Até que ao amanhecer alguém bateu a minha porta. Era Greta.
---Sr. Lawford, o dr. esta chamando para um café em seu escritório.
Normalmente o café era no refeitório juntamente com os seus colaboradores e com as freiras. Mas naquela manhã eu teria uma interpretação dos fatos pela ótica de Frontin.
Logo ao entrar em seu escritório fui recebido por Frontin, que com seu jaleco branco e sua camisa xadrez e a usual gravata borboleta na cor preta.
– Sente-se Lawford, você já esta há alguns dias conosco e ainda não tive o tempo necessário para expor por completo meus métodos e objetivos na clínica. Farei isto enquanto tomamos nosso desjejum mais reservadamente.
Sentei-me a frente de sua mesa, onde uma bandeja com biscoitos e um bule de café estava a nossa disposição.
---Como você sabe Lawford, os métodos convencionais nunca poderão entender o que se passa na mente de uma pessoa desajustadas, isto porque o seu objetivo e conter a crise e não identificar a causa. Aqui, como já pode observar trabalhamos do modo inverso, incentivamos o desequilíbrio para estudar sua origem.
---Mas isto não seria um ato desumano, levar ao sofrimento para estudar sua causa? Perguntei.
Frontin apenas sorriu enquanto tomava seu café.
– Veja bem Lawford, não identificar as causas e deixar que futuramente outras pessoas tenham os mesmos distúrbios sem uma possibilidade de cura apenas porque meu senso ético não permitiu que prosseguisse, isto sim seria uma desumanidade e uma covardia.
– Vendo desta maneira me parece que o sr. tem razão, mas existe algum limite para estas análises, creio eu.
O médico levantou-se calmamente o foi até o armário que estava em um canto da sala, retirando uma chave do bolso do jaleco, abriu a porta e retirou uma pasta de papel facha-o novamente depois. Retornou a sua mesa e colocou a pasta a minha frente.
– Com todo respeito amigo Lawford, eu tenho observado que tem um interesse especial por este caso, inclusive levando-o a se arriscar pela noite para investigar.
A pasta que o médico me passou as mãos era de Charlott Dolms. Ela já tinha conhecimento do que eu havia feito a noite passada, e em outras noites também.
Capítulo seis
A policia nos portões
Eu havia subestimado Frontin, ele tem olhos em toda parte.
---Sei que está surpreso com muita coisa que está vendo aqui, mas tudo tem seu propósito. Disse o médico.
--- esta jovem mulher sofre de um transtorno clínico chamado ´´ Síndrome da Cleptomania``, que os leigos chamam vulgarmente de larápio, mas é muito mais do que um simples nome, é um instinto, e devemos libertá-lo e estudá-lo.
– Peço que me desculpe se tomei alguma atitude que não lhe agradou doutor, mas minha ignorância quanto a estes detalhes me fizeram tomar atitudes precipitadas.
Frontin apenas sorriu levemente com meu pedido de desculpas, e fechou a pasta que estava sobre a mesa.
---Não se preocupe Lawford, em seu lugar eu também agiria da mesma forma. Mas agora que já esta a par de tudo , ou quase tudo, eu o convido para me ajudar nas pesquisas e quem sabe dar a ciência uma boa contribuição. E acrescentou.
---O que chamamos de sombra do inconsciente, consiste no lado obscuro da Psique, onde estão contidos nossos instintos primitivos. É a origem de tudo aquilo que há de melhor ou pior na raça humana. Para que o sujeito seja inserido na comunidade, é necessário que ele passe pelo processo de domesticação com relação aos ímpetos contidos na sua sombra interior. E pode ser doutrinado tanto para o bem, quanto para o mal.
– Certamente que entendo sua posição doutor, estou a sua disposição. Respondi.
Neste momento um enfermeiro entra na sala de Frontin.
---Desculpe interromper doutor, mas um coche da polícia está no portão.
---Então abra o portão, não vamos deixar a polícia esperando.
Respondeu o médico erguendo-se de sua poltrona, e enquanto caminhava até a saída da sala, completou sua observação.
--- Todos nós temos em nosso inconsciente uma sombra, algo que esta escondido de todos, até mesmo de nós mesmos. Nosso trabalho aqui é encontrar a sombra de cada um de nossos pacientes, liberá-la, e assim poder estudá-la. Mesmo que para isto, seja necessário alguns sacrifícios.
Não havia ficado muito claro o que Frontin queria dizer, quando se referiu a alguns sacrifícios. Mas certamente eu podia imaginar, tendo em vista o que já tinha presenciado na clínica.
Descemos de imediato até a porta de entrada da clínica, onde o coche da polícia de York já estava parado.
---Bom dia senhores. Disse um dos policias, enquanto o outro ficou no coche.
---Em que podemos ajudar oficial?
Perguntou Frontin, enquanto estendia a mão para cumprimentá-lo.
---Sou o tenente Wisbech, e ontem houve uma morte próximo a clínica, um homem foi morto por pilhantes. Disse o homem.
---É lamentável, mas não notamos nada de anormal fora de nossos portões. Retornou Frontin de imediato.
---Peço que desculpem o incomodo, apenas estamos preocupados com a segurança de seus pacientes. Retornou o policial enquanto subia novamente no coche.
---O senhor já sabe quem é o pobre homem que foi morto?Perguntei
---Peter White, farmacêutico da cidade, os ladrões deixaram os documentos da vítima.
Respondeu Wisbech, enquanto fechava a porta de seu transporte, encaminhando-se para o portão de saída.
---Venha Lawford, vamos visitar os pacientes.
Disse Frontin sorrindo, no mesmo momento em que retornava ao interior da clínica.
Eu preferia pensar que o médico não estava a par das atrocidades que Edgar e Charlott cometiam, em suas saídas noturnas.
Mas por outro lado, como poderia um médico com seu vasto conhecimento, não prever tal consequência?
Capítulo sete
O Penhasco
Após aquela conversa, fui vivenciando a cada dia uma realidade devastadora e de uma crueldade sem precedentes. Os métodos de Frontin não eram tão libertadores como ele afirmava, bem ao contrário, serviam apenas para seus experimentos bárbaros com a mente humana.
Em pouco tempo se desvirtuaram valores éticos e humanos, tornado-o mais um dos tiranos pesquisadores da alienação. Permitiu libertar-se a sua própria sombra maléfica aprisionada em seu subconsciente, tornando-se assim, o senhor das sombras. Manipulando seus internos como meros fantoches.
Dois dias se passaram da visita do tenente Wisbech, e as saídas noturnas haviam cessado.
Então ao final de tarde do segundo dia, Frontin convidou-me para sair em sua carruagem particular. Um coche em madeira escura e forrado com veludo marrom em seu interior.
--Vamos Lawford, creio que já está pronto para uma demonstração do que podemos fazer com a mente destas pobres criaturas. Disse ele ao fazer o convite.
Ao abrir a porta para eu entrasse, pude ver Charlott Dolms sentada em um dos assentos.
--Entre Lawford, não temos muito tempo, já esta anoitecendo.
Disse ele ao entrar e sentar ao lado de sua paciente, enquanto eu me coloquei no assento a frente dos dois.
--Vamos Edgar. Esta foi a ordem de Frontin ao cocheiro para partirmos, e por aproximadamente trinta minutos, adentrássemos ao vale de York até um penhasco, onde o vento era forte e o final de tarde já trazia a névoa, e um ar gelado. Após pararmos o coche a alguns metros de um gigantesco penhasco, o médico colocou as mãos sobre os ombros de Charlott e sussurrou algo pausadamente em seus ouvidos, depois mandou-a descer.
---Venha Edgar, preciso de sua ajuda. Disse ele ao cocheiro.
---O que quer que eu faça doutor? Perguntou Edgar.
---Apenas leve esta paciente até a borda do penhasco, e aguarde.
Eu e o médico permanecemos dentro do coche, enquanto o cocheiro e a jovem caminharam até a borda do imenso precipício.
---Observe Lawford, como a mente humana pode ser manipulada, basta saber como. Disse Frontin, apontando para os dois que se afastavam.
Por alguns segundos Edgar e Charlott permaneceram parados a borda do precipício, então, inesperadamente a jovem deu alguns passos para trás, indo de encontro a Edgar com seus pequenos braços estendidos, empurrou o cocheiro penhasco a baixo.
---Mas o que elas fez? Falei, já erguendo-me para descer.
---Sente-se Lawford, ainda não terminou. Disse o médico segurando-me pelo braço. E ele estava certo em sua afirmação.
Após empurrar Edgar a morte, Charlott virou-se para onde estava o coche, soltou um grito, como um animal ferido, e jogou-se ao mesmo destino do cocheiro, ao fundo do precipício.
Por alguns instantes eu permaneci sem saber o que fazer, ou o que dizer, pois a cena por mim presenciada deixou-me novamente vacilante quanto a aceitar os métodos usados por Frantin, que aproveitou minha tão grande estagnação, e assumiu as rédeas do coche iniciando o retorno a clínica.
Durante o retorno a clínica, pensamentos desconexos inundavam meu cérebro. Eu precisava tomar uma atitude, somente não sabia qual, e faltava-me coragem para isto.
Ao descermos do coche, já de retorno ao hospital psiquiátrico, Frontin levou-me até sua sala.
---Vamos beber um pouco, creio que deve estar ainda um pouco confuso com o que presenciou. Disse o médico, retirando uma garrafa de dentro de sua escrivaninha, e servido-me uma taça de vinho.
---Realmente, eu ainda estou perplexo. Respondi
Ele apenas sorriu brevemente.
---O homem em si, compreende dois seres, um que chama de homem como poderia ser, e em sua perfeição, este ser, no seu íntimo está além do bem e do mal. Mas limitado pela convenções sociais. Seu verdadeiro instinto esta aprisionado.
---E o outro homem? Perguntei
---Também está além do bem e do mal, mas livre de todas as restrições impostas pela sociedade, sujeito somente a sua própria vontade, sem escrúpulos e sem falsa moralidade. Livre para fazer o que deseja. Respondeu, e continuou.
---Sou um médico da mente, cabe a mim revelar, entender e controlar toda força que vem da natureza.
---O homem liberto e livre do bem e do mal, de que fala, certamente é o elemento mais fraco entre nós. Nossa luxúria e nossa violência alimenta o homem mais frágil. Comentei.
---Mas por eles que faço minha experiências, caro . Lawford. Respondeu Frontin
---Poderíamos extirpar o mal do íntimo de um ser humano usando apenas um bisturi? Retornei de imediato.
---Meu caro Lawford, você recai no modo convencional, do pensamento nobre e incorruptível. Mas não é a realidade que encontramos nas vielas de Londres, nos cortiços impregnados de miséria.
---Como assim doutor? Indaguei
---Eu não me preocupo com uma avaliação moral, mas com o controle de todos os recursos da personalidade humana. Isto é ciência meu amigo. Disse ele.
---Mas não só de insensíveis e perversos é formada a sociedade. Retornei.
---Quanto mais justo e ingênuo for um indivíduo, mais sua alma viverá atormentada por conceitos sociais e desejos reprimidos. Diz Frontin
Capítulo oito
O propósito
Alguns dias após o terrível episódio por mim presenciado, encontrei Greta sozinha na sala de cirurgia, enquanto ela preparava um paciente para mais uma experiência de Frontin. Incisões no lóbulo frontal, que segundo o médico, este procedimento, mesmo sendo de uma crueldade sem precedentes, poderia fazer uma mudança considerável na personalidade do paciente. Segundo Frontin, desde o século XVI, criminosos confessos passam por este processo, e tem suas personalidades totalmente modificadas.
---Parece que a crueldade não tem limites, não é mesmo? Comentei enquanto auxiliava a enfermeira a colocar o paciente em uma pequena mesa de metal.
---Espero não ter causado uma má impressão em nosso primeiro contato? Disse ela.
---Não diga isto Greta, deve ser bem difícil servir aos caprichos de um médico, principalmente se ele vive recluso em uma casa de loucos. Argumentei.
---O senhor estava certo quando disse que tudo tem um propósito, é por isto que estou aqui. Afirmou, ao mesmo tempo em que amarrava o homem a mesa, usando grossas tiras de couro.
---E eu poderia saber qual seria este propósito? Interpelei.
Mas antes que houvesse tempo para a resposta da jovem, Frontin adentrou na sala com Edgar, que além de cocheiro, auxiliava nas interações com pacientes, e sabe-se lá o que mais.
---Espero que esteja tudo pronto. Vamos começar o procedimento. Disse o médico.
Eu certamente participei de tudo que se passou naquela sala, e entendi porque os membros do comitê de psiquiatria de Londres reprovavam os métodos usados na clínica. Frontin não buscava a aprovação de ninguém para seus experimentos, e quem pensa desta forma não esta preocupado com o que é certo ou errado. O importante para ele era alcançar seus objetivos, mesmo que para isto, muitas vidas seriam sacrificadas em nome da ciência. No dia seguinte ao procedimento, o paciente não apresentava qualquer sinal de consciência. Foi diagnostica como inconsciência involuntária, e jogado em uma jaula imunda, para morrer de inanição.
Eu estava em mais uma das noites em que não conseguia dormir, talvez por me sentir também culpado pelas atrocidades que ali aconteciam, ou por ouvir os gritos de desespero daqueles que ainda sobreviviam, mesmo que encarcerados como feras. Até que uma leve batida a porta me fez levantar. Ao abrir, alguém empurrou a porta e entrou rapidamente. Era Greta.
---Preciso falar-lhe. Disse ela.
--Mas é claro, sente-se a diga o que te faz vir a meu quarto no meio da noite. Falei de imediato.
Ela passou-me as mãos uma pasta de paciente, que trazia escondida sobre o avental do uniforme.
---O médico sabia de tudo, ele tinha conhecimento de quem eram eles.
A pasta continha as fichas de pacientes de Edgar e Charlott, eles eram irmãos, e estavam na clínica com pacientes alienados. Segundo os registros, os dois irmãos haviam assassinado a proprietária de uma hospedaria em Noting Hill.
---Só agora me mostra isto, eles já estão mortos!
Exclamei, meio confuso.
---O senhor disse que eu deveria ter um propósito para estar aqui. É sobre isto que quero falar-lhe.
A luz fraca da lua, encoberta pela forte neblina, deixava o quarto quase as escuras, por isto ascendi o lampião que havia sobre a comoda, e pedi a Greta que continuasse.
---Meu nome é Greta Moureau, sou filha de Michel Moureau. Meu pai era empresário naval, e foi morto por assaltantes dentro de um armazém no cais de Londres, ele foi estrangula e seus pertences roubados.
---E os assassinos?
---Nunca foram localizados. Respondeu ela.
---E se você trouxe esta pasta para mim, pensa ser eles os assassinos de seu pai. Conclui.
---É bem mais do que isto senhor Lawford. Disse ela, e continuou sua narrativa.
---Eu era enfermeira do Hospital Geral de York, na Wiginton Road, e durante meu turno, em uma noite, Edgar e Frontin levaram ao hospital uma freira que havia sofrido uma queda e fraturado algumas costelas. Foi quando percebi no pulso de Frontin, o relógio que havia sido roubado de meu pai.
---Você tem absoluta certeza disto? Perguntei.
---Sim. Na época eu procurei o tenente Wisbeck, e contei a ele.
---E como veio parar aqui? Inquiri.
---Quando soube que precisavam de enfermeiras, fui voluntária.
---E o que pretende fazer? Indaguei
---Pretendo fazer com que Frontin pague pelos crimes que estas pessoas cometeram, manipulados pelo seu controle mental.
---Mas nenhum tribunal vai acatar este argumento como prova, ele vai sair ileso disto tudo. Retruquei.
Ela sorriu brevemente enquanto levantava para sair.
---O tribunal que irá condená-lo está dentro desta casa de loucos. Disse ela, e saiu rapidamente.
Capítulo nove
Enlouquecendo
Cada vez mais, eu tinha e certeza que tudo que se passava naquele local, era hediondo. Mas precisava manter minha mente lúcida, e isto era quase impossível. A insanidade, o desespero, a fúria incontrolável, a loucura violenta que deteriora a mente, a deformação do ser humano. O fogo que lacera a carne, a lama que congela os pés, a fuga de uma lucidez sem rumo.
O abandono absoluto da realidade, os trapos encardidos que cobrem as minúsculas janelas, a angustia e a agonia incontida da alma. A luz precária, a chama trêmula, o ruído amedrontador das correntes, o odor ferruginoso das grades. Deus chora por todos, pelos desequilibrados, pelos alienistas, por onde o cavaleiro das sombras cavalga, onde a espada do inferno nos ataca barbaramente. O maligno infiltrando-se em nossa alma, e a constante inconsciência que nos atormenta. Transborda o cálice do malévolo escorrendo seu néctar de terror pelas fétidas paredes de pedras.
O caos extremo do espírito, a degradação humana, a razão refém da bestialidade, a alienação devastadora da alma.
A revelar-se o animal adormecido dentro de cada ser humano, delirante, enfurecido, bizarro. A cruz que não alimenta a fé, a luz que não dissipa as trevas, a crença que desmorona como as pilastras de um templo em ruínas.
E o mal se propaga promiscuo e voraz a dominar as criaturas que a debilidade recrutou.
Convulsões, histeria, gritos, tudo para ser estudado em uma ciência animalesca, experimentos vão ao limiar da inconsciência.
Na sombra tirânica da cruz a violência está a brotar pelos escuros e sujos corredores, pelas celas úmidas, nos colchões esfarrapados onde ficam aqueles que a irmandade chama de escória. O cheiro de éter se espalha pelo mórbido ambiente. A cabeça a bater na parede, mostrando a violência do instinto incontrolável, é mais um delirante a escorrer seu sangue pela parede pútrida da cela.
O lunático com o olhar estático como se pudesse atravessar paredes, ver o infinito, as mãos trêmulas, os pulsos esqueléticos, as cicatrizes na alma, uma fuga da vida, em vão, sem propósito. Do outro lado das grades estão as freiras, o hábito, o rosário, mas também o chicote, o ferro em brasa a transpor a carne, o castigo divino em forma de fogo.
O tilintar dos cascos dos cavalos, é o carroção fechado, o cadeado a bater na grossa porta de ferro, alguém a espreitar pela ventana, é mais uma remessa de miseráveis indesejados pela confraria mesquinha.
Somente Deus pode lançar uma praga como punição por nossos possíveis pecados, mas nem toda praga é obra de Deus, existem homens que acreditam terem o imenso poder de Deus.
Já é noite, pelos sujos e pequenos vidros da minha janela a luz da lua invade o acanhado cômodo realçando a precariedade do mobiliário, ouço gritos de desespero e gemidos vindos das imensas alas do manicômio.
Tento não sucumbir naquele mar de insanidade e tortura, meus princípios de decência e moralidade eram postos a prova todos os dias.
Mas eu não sabia que em breve tudo tomaria um rumo imprevisível e trágico.
Capítulo dez
A noite do Terror
Já passava das 23 horas, quando Frontin me convidou para descer aos porões da clínica, chegando lá, encontramos, já amarrado em um dos leitos da enfermaria, que mais se aproxima de uma masmorra, um de seus condenados pacientes, ou devemos chamá-lo de cobaia. O médico pega uma seringa já prepara com um líquido de cor esverdeada, e colocada dentro de uma bandeja de metal, e aproxima-se da cama do enfermo. Greta, que estava ao lado do leito, apenas observava, e nem ao menos me direcionou um olhar. A náusea causada pelo fétido local, fez-me cobrir a boca e o nariz com uma das mãos.
---Observe. Diz o médico.
Segurando o braço quase esquelético do paciente, Frontin introduz o líquido esverdeado diretamente na veia.
---Para que este medicamento doutor? Perguntei , mas não foi necessário uma resposta, pois em segundos o cadavérico paciente começou a contorcer-se, suas amarras quase não o seguravam mais, e seus gritos, como uma fera enjaulada, ecoavam por todo o corredor. Provocando uma gritaria quase insuportável vinda das celas. Eram os outros internos, compartilhando sua alienação.
---Desde os mais primitivos ancestrais do homem, existe uma energia descontrolada em seu inconsciente, basta apenas libertá-la. Disse Frontin.
---Ele parece uma fera. Comentei
---Este é o verdadeiro homem, que está preso dentro desta moribunda criatura. Uma força que até ele mesmo desconhece. Completou ele.
Após assistir mais uma desumana e condenável demonstração de Frontin, recolhi-me aos meus aposentos. Creio que horas se passaram, sem que eu conseguisse a tranquilidade interior, para assim poder descansar. Até uma batida forte na porta me fez saltar da cama, assustado. E em seguida alguém gritou.
---Senhor Lawford, acorde.
Levantei-me rapidamente, e ao abrir a porta passaram correndo por mim algumas religiosas, que tinham seus quartos próximos ao meu.
---O que houve? Indaguei assustado.
---Um incêndio no piso de baixo, não conseguimos controlar. Respondeu uma freira que passava também a correr.
Não exitei nem por um momento e corri até as escadas, e pude observar a correria, o desespero de enfermeiros na tentativa de salvar os pacientes, desci as escadas e as chamas estavam por toda parte, auxiliei na soltura dos pacientes que estavam amarrados aos leitos e também sai daquele inferno de fogo e fumaça. Na parte externa do prédio, alguns pacientes estavam todos agrupados, outros já tentavam sair pelo portão, que já estava aberto. A visão da Clínica San Antonio sendo consumida pelo fogo, era assustador. Caminhei por entre pacientes e enfermeiros, a procura de Greta, até encontrá-la ajoelhada ao solo, tentando amenizar o nervosismo de um dos pacientes.
---O que aconteceu, de onde veio todo este fogo? Perguntei, ainda atônito.
---Todos os pacientes foram retirados, isto é o que importa. Respondeu ela.
---Não podemos ficar aqui, temos que buscar ajuda. Falei.
---Vamos pela estrada, talvez possamos encontrar alguém. Disse ela erguendo-se e saindo em direção ao portão.
---Vamos buscar ajuda. Gritei aos enfermeiros, e saí acompanhado de Greta pela estrada.
---Eu não encontrei Frontin, você o viu?Perguntei enquanto caminhávamos.
---Creio que ele não conseguiu sair a tempo. Respondeu ela.
---Como assim, não conseguiu sair? Indaguei novamente.
Mas antes que ela pudesse responder, a luz da lanterna de um coche foi avistado, a aos poucos se aproximou. Era o coche da polícia de York, e o tenente Wisbech.
---Entrem, vamos retornar a cidade, vou providenciar para que todos sejam recolhidos. Disse ele abrindo a porta do coche para que pudéssemos subir.
Já no distrito policial, eu e Greta aguardávamos em uma sala, enquanto os carroções da polícia de York transportava os pacientes, enfermeiros e freiras até o Hospital Geral.
Wisbech adentrou a sala com duas canecas com café.
---Tomem um café, creio que estão precisando.
---Foi muita sorte nossa ter encontrado seu coche justamente quando estávamos buscando ajuda. Comentei.
---Na verdade não foi sorte, eu havia investigado as denúncias de Greta, a respeito de Frontin, e estava me dirigindo para falar com ele. O médico pode ter participação indireta em vários roubos seguidos de morte, que aconteceram no vale.
---E vocês o encontraram. Perguntei.
O tenente ficou pensativo por alguns instantes, para depois dar a resposta.
---Sim, nós o encontramos. Estava amarrado com correntes em sua própria cama. Morreu queimado em seu quarto.
---Amarrado? Como alguém faria isto? Interpelei ainda surpreso com o que ouvira.
---Talvez alguém o tenho dopado, colocado alguma droga em sua bebida. Mas agora nunca saberemos, seu corpo foi carbonizado. Respondeu Wisbech.
Ainda permaneci dois dias em York, e depois regressei a Londres. Greta retornou ao seu antigo trabalho, como enfermeira do Hospital Geral. E a vida no vale de York seguiu seu curso, e em breve ninguém mais lembraria do trágico incêndio que destruiu o Sanatório San Antonio.
terça-feira, 1 de outubro de 2024
Falando de Mitologia.
É bem provável que você já tenha ouvido falar de Hércules, Afrodite e Minotauro, ou da Guerra de Troia, entre outras figuras e situações mitológicas, não é mesmo? Afinal, a mitologia é um tema que versa por conteúdos em diversas mídias, como filmes, séries, desenhos animados, jogos de videogame etc. Mas o que a mitologia tem a ver com quem está prestando vestibular? Tem tudo a ver! Isso porque existe uma área da História Antiga que é especializada no estudo da mitologia. Além disso, as figuras mitológicas também podem aparecer em obras literárias, cuja leitura é cobrada. Dessa forma, conhecer um pouco sobre as mitologias é importante para quem pretende se dar bem no vestibular e conquistar uma vaga na universidade que tanto deseja. Continue a leitura e veja o resumo que preparamos sobre esse assunto!
O que é mitologia
A mitologia pode ser definida como o estudo de um conjunto de mitos, geralmente colocados sob a alçada de uma cultura em comum. A mitologia grega, portanto, estuda os mitos da Grécia; a mitologia egípcia, os mitos do Egito e assim por diante. Como curiosidade, assim como a mitologia, a Filosofia também teve origem na Grécia.
Mito X Mitologia
Para compreender a mitologia, no entanto, é preciso conhecer o conceito de mito. No senso comum, é normal que se associe esse termo a algo que não seja verdadeiro, como uma história falsa. Porém, para os estudos acadêmicos, o mito tem outro significado. Nesse caso, o mito envolve forças sobrenaturais e divindades, presentes na cultura dos povos. Além disso, a maioria dos mitos está associada ao folclore e às religiões. No caso do Brasil, personagens folclóricos, como o Negrinho do Pastoreio, o Saci-Pererê e a Mula Sem Cabeça, podem ser classificados como mitos, por exemplo.
Mitologia grega
A mitologia grega é uma das mais populares em todo mundo, tendo em vista que ela já foi abordada diversas vezes em obras literárias, cinematográficas e em outros tipos de mídia, conforme explicamos.
Surgida na Grécia Antiga, a mitologia grega fala sobre os deuses imortais, musas e criaturas semidivinas que explicam os fenômenos naturais, a origem da vida e os problemas de nossa existência. Todos os deuses dessa mitologia têm características similares às humanas.
Deuses da mitologia grega
A mitologia grega tem ao total 44 deuses. Porém, alguns deles são mais conhecidos do que os demais. Os mais famosos pelo grande público são os listados a seguir. Veja!
• Afrodite: deusa do amor, da beleza e dos pecados da carne;
• Apolo: deus da música, da poesia e do Sol;
• Ares: deus da violência, da discórdia e da guerra;
• Ártemis: deusa dos animais e da lua;
• Atena: deusa da sabedoria e da inteligência;
• Deméter: deusa da agricultura;
• Dionísio: deus do vinho;
• Hades: deus do mundo dos mortos;
• Hefesto: deus do fogo e da metalurgia;
• Hermes: deus do comércio e dos ladrões, além de ser o mensageiro dos deuses;
• Poseidon: deus dos rios, mares e oceanos;
• Zeus: o deus dos deuses, do céu, do trovão.
Mitologia romana
A mitologia romana se baseia em relatos sobre a origem de Roma e está fortemente relacionada às questões religiosas. Isso porque, antes do surgimento do cristianismo, o povo da localidade era politeísta, ou seja, acreditava em vários deuses. Além dos deuses, a mitologia romana também engloba outros seres que eram cultuados, como as ninfas, os bacantes e os faunos.
Deuses da mitologia romana
Ao contrário da mitologia grega, os deuses da mitologia romana não têm contato com as pessoas. Os mais conhecidos são os seguintes:
• Saturno: deus do tempo e das sementeiras;
• Júpiter: pais dos deuses;
• Juno: a deusa dos deuses;
• Marte: deus da colheita e das guerras;
• Vênus: deusa da beleza e do amor;
• Vulcano: deus do fogo;
• Cupido: deus do amor e da paixão;
• Diana: deusa da lua, da caça e da castidade;
• Apolo: deus da música, da poesia, dos oráculos e do Sol;
• Baco: deus das festas e do vinho;
• Fauno: deus da fertilidade dos campos;
• Mercúrio: deus do comércio, das estradas e mensageiro;
• Flora: deusa das flores;
• Minerva: deusa das artes e da sabedoria;
• Ceres: deusa dos frutos;
• Netuno: deus dos mares e das tempestades;
• Plutão: deus dos infernos.
Mitologia nórdica
Surgida na Islândia, a mitologia nórdica é baseada em contos e sagas que louvam heróis. Além disso, há a crença de que Terra é formada por um grande disco liso. No meio desse disco se localiza Asgard, local onde os deuses vivem. Ao atravessar um longo arco-íris, chamado de ponte de Bifrost, se chega a Casa dos Gigantes. Já a parte chamada de Helheim é onde se acredita que vivam os mortos. Alguns dos deuses nórdicos mais conhecidos são os seguintes:
• Odim;
• Thor;
• Tir;
• Niordo;
• Freia;
• Freir;
• Balder;
• Heiimdall;
• Lóqui;
• Frigg.
Outras mitologias
As mitologias grega, romana e nórdica são as mais conhecidas. Porém, existem outras que também são interessantes de ser estudadas. Saiba mais sobre algumas delas, a seguir.
Mitologia egípcia
A mitologia egípcia tem como fonte para seus estudos os templos, pirâmides, estátuas, túmulos e textos antigos. Entre os deuses mais conhecidos estão Rá-Atum, Osíris, Ísis, Anúbis, Thoth, Bastet, entre outros.
Mitologia japonesa
Na mitologia japonesa, é explicada a origem do mundo, o surgimento dos deuses e o surgimento dos imperadores japoneses. Nessa crença, os deuses Izanagi e Izanami foram os primeiros a surgir e deram origem a todos os demais.
Mitologia brasileira
Nós também temos a nossa própria mitologia. Ela surgiu nas antigas tribos indígenas que habitavam as nossas terras e, assim como as demais, explica os fenômenos naturais e sobrenaturais por meio de deuses. Entre os principais deuses brasileiros e que ainda são cultuados por alguns povos indígenas são os seguintes:
• Tupã: o criador da natureza e dos seres humanos;
• Jaci: deus a da lua e da noite;
• Guaraci: deus do Sol;
• Yorixiriamori: deus do encanto das mulheres e do ódio dos homens.
segunda-feira, 23 de setembro de 2024
O Crime do Chalé
A Inglaterra em 1876, assim como hoje, era cheia de lugares com histórias que nos fazem pensar, mas poucas se comparam ao singular bairro de Holloway, ao norte de Londres. Este aparentemente pacífico local possuí histórias tão ricas quanto um tesouro, mas muitas destas histórias escondem terríveis segredos. Mesmo sendo um bairro de atividades rurais, ele mantinha em seus prédios uma legítima arquitetura vitoriana, e seus nobres residentes deliciavam-se com o surgimento da cinemateca Odeon, localizada no Park Tufnell. Era também onde residia seu cidadão mais ilustre, o escritor e poeta Eduard Lear. Um local de muitos atrativos, mas também de muitos mistérios.
Henrick Dupra era um jovem americano, que mantinha uma clínica nos fundos de sua casa na Thotman 1023, uma charmosa rua, com chalés brancos e belos jardins. O sr. Dupra era um morador bastante conhecido na comunidade, um conceituado médico homeopata, que parece ter levado muito a sério quando ouviu a frase: até que a morte nos separe. Pois segundo a polícia local, o jovem médico feriu mortalmente sua esposa Edna Dupra, golpeando-a na cabeça com um separador de brasas de sua lareira. Edna era uma cantora lírica que se apresentava como Edna Bella, que apesar de bastante talentosa, carregava consigo o vício da bebida, e um encantamento por jogos de cartas. E infelizmente o” felizes para sempre, infelizmente não aconteceu para este casal.
Alguns casamentos são longos e outros nem tanto, mas todos repletos de promessas. O problema é que aqueles em quem confiamos, podem
ser as piores companhias, acreditar na pessoa errada pode ser o último e fatal erro.
O inspetor Thormann foi acionado e dirigiu-se imediatamente, acompanha de dois policiais, ao local, mais dois policiais aguardavam na frente da residencia dos Dupra, e a partir daquele momento, eu e o inspetor daríamos inicio as investigações.
---Vigiem de perto até a carruagem chegar, não deixe ninguém em nada, vou fazer um exame preliminar, e depois levem imediatamente o corpo para o legista. Disse o inspetor a um dos soldados.
---E afaste os curiosos, não queremos uma multidão enfrene a casa. Completou.
Thormann liberou o corpo da Vitima para ser levado, e desceu as escadas, parando sala principal..
---O que ouve inspetor? Alguma pista? Indaguei
---Mulher sozinha, com ferimento na cabeça, talvez um assalto que deu errado. Respondeu.
---Mas e o sumiço do marido? é uma prova. Argumentei
Thormann olhou fixamente para a lareira, e em seguida para a escada.
---Por que o assassino levaria uma ferramenta da lareira, se havia facas na cozinha, e garrafas vazias no quarto? Questionou ele.
---Mas isto faz alguma diferença agora? Inquiri.
---Faz toda diferença Lawford, pois talvez o assassino não sabia como chegar a cozinha. E isto abre um leque de possibilidades. Respondeu ele.
Após o cruel assassinato, o médico teria colocado o corpo da vítima, despido sobre a cama, no quarto do casal, único lugar onde havia vestígios de sangue, ao lado do corpo, o objeto usado para o golpe, e desaparecido. Gavetas ficaram reviradas, e garrafas de bebidas foram encontradas ao lado da cama.
Conforme o que os policiais conseguiram coletar de informações, ele foi visto por vizinhos, saindo de sua casa na mesma noite do crime.
Segundo os boatos, que correm mais rápido que o rio que corta Londres ao meio, ele teria uma amante, Rose de Levingne, que era garçonete em uma taverna nos arredores da cidade. Para a Polícia, que já conhecia o passado da jovem garçonete, aquela senhorita Levingne era semelhante a uma maçã envenenada, linda por fora mas com um conteúdo mortal.
Haviam e passado dois dias, quando os vizinhos estranharam as janelas sempre fechadas, e chamaram a Polícia local, e o corpo foi encontrado. Após as investigações preliminares feitas pelo inspetor Thormann, da Scotland Yard, uma testemunha afirmou ver o médico nas proximidades do cais londrino na noite em que, supostamente, ocorreu o assassinato. Apesar de ser uma informação ainda muito vaga, o inspetor responsável pela investigação do caso, tomou as providências necessárias, pedindo as autoridades portuárias que verificassem a procedência de cada tripulante que estivessem em navios atracados, e assim, os dois amantes foram capturados, quando a embarcação em que estavam aportou no porto de Quebec, no Canadá.
Henrick foi levado a prisão estadual de Cameron, no condado americano de Moure, Carolina do Norte, sua cidade natal, onde aguardaria julgamento.
Sua encantadora amante Rose, foi enviada de volta a Inglaterra onde
seria julgada pela corte inglesa. Mas ainda não havia provas do seu envolvimento no assassinato de Edna, pois ela era apenas a amante do suposto assassino.
Eu e o inspetor Thormann decidimos ir até Cameron para interrogar Henrick, e saber o motivo do brutal assassinato de sua mulher, e até onde a garçonete estava envolvida.
Thormann estava em seu último ano de trabalho na Scotland Yard, pois sua aposentadoria estava por chegar a qualquer momento, e convidou-me para acompanhar as investigações, convite este, que não poderia recusar vindo de um amigo tão chegado como o inspetor. Então partimos para aquele que poderia ser um simples interrogatório. Mas o mistério estaria apenas começando.
Depois de uma longa viagem, chegamos já ao entardecer, e a escura noite adensava rapidamente. Fomos diretamente a Goodmann Street 1007, onde ficava o pequeno hotel Dewberry, pois se fazia necessário um descaço, e um bom banho quente. Dewberry era um hotel simples, mas com conforto suficiente para passarmos a noite depois de uma fatigante viagem. Pretendíamos sair pela manhã até a distante Burke Prision, na estrada Carthage Roout, para o interrogatório com o sr. Dupra.
E a partir daquela manhã, fomos levados por um caminho bizarro e bastante confuso, pois surgiram dúvidas e muitas especulações, mas como nem tudo na vida tem uma explicação, em nosso primeiro contato, pouca coisa foi realmente esclarecida.
Já estava amanhecendo quando saímos no dia seguinte, e após algum tempo viajando em um coche cedido pelo hotel, desviamo-nos por alguns quilômetros da estrada principal e adentramos em um estreito caminho secundário, que ao fim de uma meia hora, se embrenhava através de um bosque espesso, que cobria toda área onde os olhos alcançavam. Percorremos certamente cerca de duas milhas através dos atalhos que já se tornavam bastante úmidos e por vezes escuros, e encobertos por imensas árvores, com seus troncos repletos de uma ramagem verde, e durante o trajeto, podíamos sentir a fétida lama pisoteada pelos cavalos.
Após algum tempo, surgiu ao longe a penitenciária, estava situada em uma clareira, e demonstrava ser uma construção muito antiga, muito prejudicada pela ação do tempo, e a julgar pela sua aparência de vetustez e abandono, a muito tempo não recebia nenhum reparo em sua estrutura. Não havia fazendas no entorno, nenhum tipo de plantio, nem sequer o menor sinal de alguma atividade ao redor, tampouco o latido de um cão sugerindo que aquele disforme local era habitado por humanos.
Mesmo sendo ainda dia, creio eu, que era próximo de meio dia, aquele fétido local tinha uma bruma escura, como se uma sombra nimbosa encobrisse tudo. Um sentimento aflitivo e angustiante se apossava rapidamente de nós. Thormann usou o chicote para apressar a marcha dos cavalos, era imperativo sairmos daquele terrífico caminho.
Ao chegarmos ao nosso destino, o espanto não foi menor, era um local dantesco e medonho ao extremo. As celas tinham suas pesadas portas de ferro diretamente voltadas para o pátio, e somente uma pequena abertura com grades, permitia a entrada de um minúsculo facho de luz.
Toda a construção era com enormes blocos de pedras, e no interior das celas, o mau cheiro era quase insuportável, além de ratos que circulavam livremente por toda parte. No centro do imenso pátio havia uma enorme guilhotina montada, era a visão mórbida e assustadora da justiça dos homens.
Dentro de uma cela fétida, o assassino de Chalé, como os jornais chamavam o sr. Dupra, já estava a nossa espera. Fiquei surpreso ao ver que que o médico era um homem franzino, muito magro, e imediatamente questionei com Thormann se teria ele realmente força suficiente para desferir tão pesado golpe, que levou sua esposa a morte.
O rosto extremamente pálido, os cabelos grisalhos e longos totalmente desalinhados. Seus olhos circundados por profundas olheiras deixavam evidente que pensamentos terríveis lhe haviam tirado o sono. Dupra afirmava nada ter nada a ver com a morte de Edna, e somente queria deixá-la devido a pouca atenção que ela dedicava a ele, e por brigarem diariamente por ela não abandonar o vício com a bebida e jogos de azar, afirmou que jamais a mataria. Ele realmente pretendia partir com sua nova companheira, e dois dias antes da morte de sua esposa, havia passado todos os seus bens para o nome de Rose de Levigne.
Afirmou ainda não ter motivos para querer a morte de sua esposa pois nada mais pertencia a ela, a não ser a casa onde moravam, e que ele
deixara no nome da falecida esposa, para que ela pudesse vender, a pagar as dívidas que a cantora havia contraído durante as noites que passava em mesas de jogos.
O jovem Dupra era o exemplo mais concreto de que a paixão frequentemente nos faz acreditar que algumas coisas são muito melhores, e mais desejáveis, do que realmente são, então após termos muito trabalho para adquiri-la, e no caminho tivermos perdido a oportunidade de possuir bens mais genuínos, sua posse nos mostra seus defeitos e daí vem a
insatisfação, o arrependimento e remorso.
E creio eu, este pensamento tem muito a ver com o que está acontecendo com o médico, que entregou seu coração e seus bens a jovem garçonete, após ter percebido que Edna não era a esposa que ele pensava ser.
Mas aquele foi o primeiro passo na investigação, era necessário voltar ao local do crime, pois precisávamos de indícios que pudessem auxiliar na elucidação deste caso, que a princípio parecia tão lógico, e agora já era um completo mistério.
---Qual a sua primeira impressão? Perguntei a Thormann, durante o jantar no saguão do hotel.
---A evidência física pode mostrar uma versão muito clara, mas, no fundo, talvez escoda uma mentira. Respondeu o experiente inspetor.
---Certamente existem detalhes que ainda desconhecemos. Completei
---Sim, e o desconhecido é sempre mais assustador. Reafirmou ele.
---Lembro-me de ver, a alguns meses, o cartaz do espetáculo de Edna Bella, na fachada do Royal Opera House, em Londres. Comentei, enquanto degustava uma taça de vinho de uvas Moscath Blanc, fabricados na região.
---O sr. Dupra procurava aventura. E muitas vezes, o que procuramos tem um preço muito alto. Disse Thormann.
---No caso do médico, a sua própria liberdade. Completei.
---Ele foi precipitado, nunca abra portas se não tiver a certeza que poderá fechá-las depois. Argumentou o inspetor, ao mesmo tempo em que levantava-se para dirigir-se as escadas que davam acesso aos quartos.
Retornamos a Londres no dia seguinte, e após passarmos rapidamente no distrito policial, para pegarmos as chaves da residencia dos Dupra, saímos em busca de respostas. Ao chegarmos ao belíssimo chalé dos Dupra, já era quase noite, uma fina neblina e um vento gelado já estavam presentes, típicos do final de tarde londrino. Após abrirmos cautelosamente a porta principal, fomos de imediato a sala de jantar, onde Thormann tratou de acender as velas do suntuoso lustre dourado, que pendia majestoso sobre a pesada mesa de madeira escura, inúmeras tapeçarias ornamentavam as paredes, e suavemente ondulavam ao sopro de uma leve brisa de final de tarde vindas dos estreitos e altos corredores do chalé. As velas tremeluziam e esfumavam ao serem tocadas pelo vento. Todos os cantos do belíssimo chalé foram vasculhados, mas na verdade não tínhamos a certeza do que estávamos procurando, e nada que pudesse despertar uma maior atenção foi encontrado. A casa estava toda organizada, sem desordem, sem sinais de luta ou abjetos quebrado. nem tampouco rastros, ou qualquer coisa que pudesse levar a algum ponto de investigação. Quem cometeu o crime foi minucioso, para não deixar pistas.
Nossa infrutífera busca não nos levou a lugar algum, o Sr. Dupra ainda era o principal suspeito.
Talvez pela experiência adquirida em outros casos, não estávamos totalmente convencidos da culpa do médico na morte da esposa, e surgiam em nossa mente uma série de medidas, que ao final eram, confusas, irrelevantes aos nossos objetivos, e afastavam-nos cada vez mais da solução do mistério.
Seria o homeopata realmente inocente?
E se fosse inocente, tudo seria ainda mais complicado, pois quem seria então o culpado por um crime tão brutal?
E qual o benefício disso para o assassino?
Rapidamente o caso tornou-se público, e todos queriam respostas, mas apesar de todo nosso empenho, também só tínhamos perguntas.
Em uma tarde, ao sairmos do distrito policial, fomos abordados por um homem velho, que empurrava uma carroça de quinquilharias. Era um mercador de nome Abdul, que circulava pela cidade vendendo tapetes, caixas de ébano, bolas de vidro colorido, imagens das mais variadas origens e uma infinidade de outras extravagâncias. Segundo o que disse o velho mercador, um homem de cabelos claros, bastante forte com aproximadamente 1,80 de altura, e usando longas botas de borracha, como as botas usadas em pesqueiros e embarcações, saiu rapidamente da casa dos Dupra no dia do crime.
Abdul disse que o homem estava muito apressado e subiu em um coche que estava a sua espera, um pouco mais abaixo na mesma rua e foi em direção as docas.
Imediatamente o inspetor ordenou aos policias que rumassem para o porto para buscar mais informações sobre o navio Braduck, onde Dupra e sua amante foram pegos. Porém, como era de se esperar, os marinheiros pouco sabiam, ou não queriam falar. Mas uma informação que nos chegou através do dono de um bar da zona portuária caiu como uma luz na nossa ainda nebulosa investigação. O capitão do navio Braduck, Tyler, quando estava no porto, procurava uma dana da alta sociedade londrina, que dava-lhe dinheiro e joias. Ainda comentou que Tyler tinha uma irmã, e para nossa surpresa, ela trabalhava em uma taverna fora da cidade.
Não foi necessário muito esforço para ligarmos os pontos, era um quase perfeito crime, para livrar-se de Edna, a esposa indesejada e também do amante, sr. Dupra, que seria considerado culpado e condenado a morte, ou na melhor das hipóteses, uma prisão perpétua, se é que dá para considerar uma prisão perpétua como melhor hipótese. Enquanto o capitão mantinha um relacionamento em segredo com Edna, Rose de Levingne aproximava-se do jovem médico, para assim executarem seu plano diabólico.
Considerando que esta suposição fosse o que de real aconteceu, parece que o mortal triangulo amoroso transformou-se em um surpreendente quadrado. O nome do capitão do Braduck foi facilmente reconhecido pela policia Londrina, devido a diversas vezes em que participou de confusões no cais, devido ao consumo exagerado de bebida.
Thormann estava entusiasmado com o resultado das investigações, já tínhamos um ponto de partida para buscar respostas. E não por coincidência, tinha Tyler o mesmo sobrenome de Rose Levigne. Isto ficou ainda mais claro tão logo o sr. Dupra contou-nos, quando de nossa visita a prisão, que foi sua namorada que providenciou tudo para a fuga, e que após esperar por quase uma hora no cais, enfim ela chegou acompanhada do capitão.
Tudo parecia sair como planejado, porém os planos de Rose e de seu irmão não incluíam o jovem médico, era preciso livrarem-se dele.
Novamente me veio a mente a mesma pergunta:
Porque o médico mataria sua esposa, se já estava decidido a partir?
Entretanto, sei também que nem tudo tem explicação, mesmo que estejamos sempre a prucura de chaves, para as portas trancadas da mente humana.
Mas tudo era apenas suposições, e não havia provas, a descrição feita por Abdul batia com dezenas de marinheiros do porto de Londres. E o fato de ter Edna um amante, não tornava ele um assassino. Poderia ser apenas uma infeliz coincidência.
E os dias foram passando, semanas, o caso não era mais o principal assunto dos moradores de Holloway.
Henrick estava por ser condenado por um crime, que segundo ele, não havia cometido. E naquele momento, eu e Thormann também tínhamos dúvidas quanto a autoria do assassinato.
---Algum detalhe deixamos passar. Ao final, somos também culpados, pela justiça que deixamos de fazer. Disse Thormann, enquanto examinava sua caderneta de anotações, no distrito policial.
---Mas o que podemos fazer? Indaguei.
---Vamos trazer Hendrick a cena do crime, vamos ver qual será sua reação.
Respondeu o inspetor, em um tom bastante otimista.
E assim foi feito. Passado dois dias, o coche da Penitenciária trazia o sr. Dupra ao distrito. Acompanhado de quatro policiais.
---O que deseja de mim inspetor? Perguntou o preso.
---Quero que vá comigo a sua casa, e prove-me que é inocente. Respondeu Thormann, em voz alta e clara. Após alguns minutos, o coche da Scotland Yard, comigo e com Thorann, acompanhado do cohe que transportava o sr. Dupra, paramos no Thotman 1023, local do assassinato de Edna.
---O senhor está pronto para entrar na casa onde sua esposa foi assassinada? Perguntou o inspetor a Hendrick.
E o homem apenas acenou positivamente com a cabeça, sem nada falar.
Adentramos na sala principal, onde pequenos tapetes arredondados ornamentavam o chão.
---Por favor Hendrick, detenha-se nos detalhes. Veja se tem alguma coisa faltando. Disse Thormann ao médico, que permanecia em silencio.
Após uma demorada vistoria a todas as dependências do primeiro andar, subimos ao comodo onde encontraram o corpo. O médico observou o sangue sobre os lençóis, e as garrafas que ainda estavam jogadas ao chão.
---Eu já não alimentava nenhum sentimento por ela, mas não queria vê-la morta. Disse ele, dirigindo-se ao inspetor.
---Se você não é o assassino, ajude-me a provar. Disse o inspetor indicando com a mão para que Hendrick recomeçasse a procura por indícios. E após alguns minutos, tivemos uma resposta.
---Falta um vestido de cetin na cor rosa, ela o deixava sempre na cadeira, ao lado da penteadeira, na noite em que estive aqui, ela o estava usando. E também um espelho oval em prata, foi presente de casamento de sua mãe.
Neste momento Thormann ajoelha-se próximo a cama, passando a mão suavemente sobre o fino tapete indiano, que cobria boa parte do aposento.
---Como eu deixei passar isto na primeira vez? Disse ele, questionando a si mesmo, e mostrando alguns farelos em sua mão.
---Mas o que é isto inspetor. Indaguei.
---É casca de arroz Lawford, casca de arroz. Afirmou ele, ao mesmo tempo em que erguia-se.
---Vamos falar com o legista, nossa diligência esta concluída.
Ao mesmo tempo em que subiamos no coche para uma visita ao dr. Guliê, legista do Hospital Geral de Londres, o sr. Dupra rumava em outra direção, de retorno a Burk Prision. Mas antes que partíssemos, um policial veio a porta do coche.
---Inspetor, tem um homem no distrito esperando pelo senhor, disse que é sobre o crimes dos Dupra.
Desnecessário perguntar a Thormann se iriamos passar no distrito policial antes de falar com o legista, pois ele imediatamente após receber a informação, sinalizou ao cocheiro que seguisse para a Scotland Yard.
Saltamos do coche rapidamente e transpomos a porta de entrada do distrito quase a correr. E vimos sentado, ao lado da mesa de Thormann, um homem alto, cabelos loiros longos, idade entre 25 e 30 anos, usando botas longas, no estilo usado por marinheiros.
---Estou falando com o inspetor Thormann? Indagou ele.
O inspetor apenas balançou a cabeça afirmativamente, ao mesmo tempo em que sentava em sua poltrona, no lado oposto da mesa. Eu permaneci de pé, ao lado da porta.
---Meu Nome é Tyler Levigne, creio que o senhor esta me procurando. Afirmou ele.
---Sem dúvida que estou, mas não esperava encontrá-lo aqui. Replicou o inspetor.
---Se sou um dos suspeitos pela morte de Edna, quero deixar claro que nada tenho a ver com a morte dela. Declarou o marinheiro.
---Então eu vou dizer-lhe o mesmo que disse ao sr. Dupra, hoje pela manhã. Prove-me sua inocência. Você era amante da mulher assassinada, foi visto na cena do crime na mesma noite. Eu tenho todos os motivos para enfiá-lo em uma cela. Reiterou Thormann.
O homem silenciou por alguns segundos, e continuou.
---Eu estive na casa de Edna na noite de sua morte, mas ela estava totalmente embriagada, estava despida sobre a cama e rodeada de garrafas com licores. Então disse a ela que não iria mais procurá-la, e fui embora.
Thormann levanta-se e se posiciona enfrente a Tyler.
---O senhor poderia tirar uma de suas botas, por favor? Solicitou o inspetor.
A surpresa com o pedido não foi somente do marinheiro, pois eu também não havia percebido a qual conclusão queria o policial chegar.
Após atender ao pedido de Thormann, não foi possível segurar a curiosidade.
---Mas por que quer ver minhas botas, inspetor. Indagou Tyler.
---Para ver se não existe vestígios de casca de arroz, mas parece que não tem nada. Respondeu o inspetor, devolvendo-a para o marinheiro e retornando a sua poltrona.
---Se o senhor encontrou cascas de arroz na cena do crime, posso afirmar que não é do lado do cais que eu frequento, é mais ao fundo, atrás dos armazéns. Mencionou ele, enquanto calçava novamente o objeto da análise.
---E quem circula por lá, sr. Tyler. Perguntei, me antepondo ao inspetor.
---O cais é como uma ostra, fechado, com segredos. Mas posso abrir esta ostra, se acreditarem em mim.
Thormann observou demoradamente aquele, que até o momento, ainda era um dos suspeitos do assassinato de Edna Dupra.
--- Vou dar-lhe a oportunidade de abrir esta ostra e provar sua inocência, Abra-a por inteiro, espalhe suas pérolas, e quem sabe não saia livre, no final. Respondeu Thormann, erguendo-se.
---Entre no coche, temos que passar no Hospital Geral, e depois vamos ver até onde o senhor conhece o cais. Ordenou Thormann a Tyler, e saímos, juntamente com dois policias em suas montarias, em direção ao legista.
Logo ao pararmos nosso coche a frente do Hospital Geral de Londres, notamos o dr. Guliê no saguão de entrada, Cabelos ralos e grisalhos, um fino bigode, tradicional nos cavalheiros de origem inglesa, e uma camisa cinza manga loga, arremangada até meio braço, e um avental em couro branco. Conversava com o psicanalista Sigmund Freud, eu e Thormann já conhecíamos Freud, pois a algum tempo atrás, o médico havia colaborado com a Scotland Yard, na solução de uma série de crimes em Londres.
Logo que reparou em nossa chegada, Guliê despediu-se de Freud e encaminhou-se para o corredor de acesso a sala de autópsia.
---Fique aqui Tyler, já retornaremos. Disse o inspetor ao marinheiro, e solicitou aos guardas que não o deixassem sair do coche.
Prontamente seguimos o mesmo caminho, e ao empurrar a porta da sala de entrada do necrotério, o odor de cânfora invadiu minha narina, e a náusea veio imediatamente. Sem falar no ar congelante que havia lé dentro. Algumas lanternas, fixadas nas paredes, todas em tijolos pintados de branco, traziam uma fraca iluminação, queimando a citronela e cobrindo como uma leve fumaça o local.
---Quer esperar aqui fora? Perguntou Thormann, ao ver-me deter-me por alguns instantes, e tapar o nariz com uma das mãos.
--Claro que não inspetor, vamos entrar. Retornei, ao mesmo tempo em que transpunha a porta. O legista estava ao lado de uma maca, e o corpo de Edna, sobre ela, com seu torax aberto, devido a autópsia que já havia acontecido. Ao lado da maca, uma pequena mesa de metal com bisturís, tesouras, um cutelo, e sangue pelo chão. Talvez eu estivesse exagerando no comparativo, mas pouca coisa o diferenciava de um balcão de açougue.
---O que o corpo de Edna tem a nós dizer doutor? Falei a Guliê, referindo-me a expressão usada por ele, ao dizer que um corpo sobre a mesa de um legista, tinha muito a contar.
---Com certeza ele nos algo, mas por favor Lawford, não use eufemismos ao se referir a morte. Devolveu ele, em tom de desaprovação ao meu comentário. E continuou.
---Bem senhores, o corpo de Edna revelou-nos detalhes que na cena do crime não foi possível detectar. Disse o médico.
---Vamos lá doutor, diga o que encontrou. Falou Thormann, mostrando impaciência.
--- golpe sofrido na cabeça foi forte, mas não foi a cauda da morte.
---Como assim doutor? Indaguei, mesmo sabendo que ele iria continuar.
---Antes do golpe ser desferido, a senhora Dupra sofreu uma parada cardíaca, umas de suas artérias rompeu-se, causando morte imediata. Além do fato de ter a jovem senhora, uma cirrose bastante evoluída, seu tempo de vida não seria muito longo.
Thormann afastou-se da mesa onde estava o corpo, transparecendo que a revelação do médico, também o deixara perplexo.
---Talvez o assassino pensou que ela estivesse apenas dormindo, ou embriagada, e por isto a golpeou na cabeça. Completou o inspetor, após alguns segundos em silêncio.
---Então, possivelmente o assassino é alguém que não poderia permanecer muito tempo na casa, por isto a pressa de silenciá-la. Deduzi.
---Isto descartaria o jovem sr. Dupra, pois a causa da morte de sua esposa, pode-se afirmar que foi por levar uma vida desregrada. Guliê cobre o corpo da cantora, e comenta enquanto empurra a maca para próximo da parede.
---Obrigado Doutor. Agradece Thromann, ao mesmo tempo em que saía em direção ao saguão do Hospital.
---Vamos Lawford, as coisas parecem tomarem um rumo diferente a cada minuto.
Embarcamos outra vez no coche, e seguimos para a área portuária, em busca de alguma pista. Apesar de ainda ser dia, estava encoberto, e um fino nevoeiro cobria Londres por inteiro. Existia no ar um cheiro de umidade, uma fetidez que emergia dos esgotos da velha cidade, e ao fundo, o som das badalas vindas da torre do Big Bem, lembrava-nos que corríamos contra o tempo, tínhamos que encontrar o verdadeiro assassino, antes que ele desaparecesse.
---Vamos a caça do nosso assassino sombra. Disse Tyler, com um sorriso cínico, ao retornarmos ao coche.
---Não diga bobagens Tyler, Sombras são almas que ficam presas neste mundo. Corrigi de imediato.
---Isto é crendice sr. Lawford, aqui em Londres existem pessoas que vivem nas sombras. Devolveu ele, ainda com o sorriso irônico na face.
Thormann retira do bolso um exemplar da revista Penny Dreadful, com data do dia anterior, jogando-a sobre o banco estofado do coche.
---O povo adora estas novelas de crimes bárbaros, talvez o assassino seja um destes psicopatas. Disse ele.
---Mas existe algo obscuro em todos nós, somente esperando o momento certo para descarregar a violência que mantemos contida. Afirmei, ao mesmo tempo em que folheava a revista.
Tyler pega a revista de minha mãos, mostrando-a ao inspetor.
---Isto são apenas histórias. A morte de Edna é real, mas não faz de mim um assassino, somente por ser seu amante. Garantiu o marinheiro, agora em tom mais severo, sem o sorriso debochado no rosto.
O coche aproxima-se da entrada principal do porto.
---Por esta entrada não inspetor, o que o sr. procura está nos fundos dos armazéns. Disse Tyler, indicando que deveríamos fazer a volta e entrar pela parte traseira dos armazéns de carga. Sendo assim, nosso transporte percorreu toda extensão da área portuária, frenteando os enormes portões de descarga, até chegarmos a um velho portão de ferro, nos fundos do porto.
---Veja inspetor, ali esta o que procura. Indicou o marinheiro, mostrando uma grande quantidade de casca de arroz acumulada na beira do cais, e mais adiante alguns casebres, construídos com pedaços de estrados e chapas de madeira.
---Um dos soldados fica aqui com Tyler, o outro vem comigo e com Lawford. Vamos ver o que encontramos. Ordenou Thormann, descendo do coche, e se dirigindo ao velho portão, a partir dali iriamos a pé, pois o portão estava com uma corrente, que mesmo entreaberto, impossibilitava a entrada do nosso transporte.
Forçamos as correntes e adentramos ao fundo do cais, ali já não ´possuía calçamento com pedras, era terra e muito barro, pedaço de madeiras soltas espalhados por toda parte, e restos de arroz e cascas misturando-se ao lodo.
Thormann se dirigia para o local onde estavam os barracos, quando parou repentinamente me segurando pelo braço.
---Olha só o que encontramos aqui. Disse ele, apontando para um carroção que estava parcialmente coberto por uma lona, semelhante as usadas em barcos pesqueiros.
---O que seria isto Inspetor ?
---Você precisa repara os detalhes Lawford, esta é a carroça do vendedor de bugigangas, que viu Tyler sair da casa de Edna. Respondeu ele.
Não houve tempo para mais nenhum comentário, pois o inspetor saiu quase a correr em direção as pequenas casas, seguido por mim e por um dos policias. Na primeira, das três moradias que haviam no local, um homem bastante velho estava para a porta.
---Onde mora Abdul? Perguntou Thormann ao velho, sem fazer rodeios.
Apenas um gesto com a mão indicou ao inspetor que era a última casa que ele procurava.
---Minha intuição me diz que o sr. Abdul, não falou tudo que sabia. Murmurou Thormann, ao mesmo tempo que se dirigia a ultima casa, que se localizava no final do enlameado corredor, cercado e telas por todos os lados.
Aproximamo-nos da porta de entrada.
---Abdul, é a Scotland Yard, preciso falar-lhe. Disse Thormann, em voz alta e clara.
---Ele não esta inspetor. Respondeu uma senhora qua saiu a porta,
---Mas sua carroça esta no pátio, onde ele foi? Perguntei
Porém não houve tempo para a resposta, pois o policial que nos acompanhou, interrompeu a conversa com uma advertência.
---Pare, é a policia, pare agora. Bradou ele, no mesmo momento em que correu, pois um homem tentava evadir-se, pulando a tela lateral.
Não era preciso ser um gênio, para supor que aquele que tentava fugir, era certamente Abdul.
---Leve-o até o cohe e cuide para que não fuja. Disse o inspetor ao policial, após a captura. E adentramos na casa, que mais parecia um depósito de algum antiquário, devido a imensidão de quinquilharias amontoadas pelos cantos. Mas nenhuma despertou tanto a atenção do inspetor, quanto um espelho oval, todo em prata, semelhante ao desaparecido da casa dos Dupra. Uma busca mais minuciosa encontrou o vestido de Edna, que também havia desaparecido, dentro de um baú, ao lado da cama de Abdul.
Pensávamos ter o caso por resolvido. O verdadeiro assassino da sra. Dupra estava preso, Henrick seria solto e Tyler poderia seguir sua carreira como capitão de embarcação. Mas ainda tinha uma surpresa.
--- Veja esta cartaz de procurado. Disse o inspetor passando-me as mãos um panfleto da policia de Whitchapel.
---Mas esta foto é de Abdul. Falei, meio surpreso.
---Sim, mas seu nome verdadeiro é Jonathan Wild, é procurado por cometer diversos roubos em residências. Usava o nome Abdul para tentar ludibriar a policia.
Passado três dias da prisão do assassino da sra. Dupra, recebemos no distrito a visita de Henrick, que juntamente com rose, vieram agradecer pelo empenho na investigação, e por acreditarmos na inocência do médico. Eles venderam o chalé, e estavam de mudança para o Canadá.
---Mais uma vez, chegamos a conclusão de um crime, e colocamos o assassino atrás das grades. Comentei com satisfação ao inspetor.
---Certamente Lwford, Pois quando não solucionamos um crime, somos tão culpados, quanto aquele que o cometeu.
quarta-feira, 10 de julho de 2024
O Legado de Epicuro
Epicuro de Samos foi um filósofo grego (271 a. C / 323 a. C) do período helenista, após a morte de Alexandre Grande em 322.a.C. O filósofo pregava uma vida simples mas feliz, não uma vida de recolhimento ou isolamento do mundo exterior. Segundo ele, devemos buscar uma vida tranquila e agradável, e para isto bastaria conhecermos exatamente aquilo que nos deixaria felizes e identificarmos quais as nossas reais necessidades, o restante seria frívolo e inútil. Para o filósofo toda a capacidade de sermos felizes está dentro de nós mesmos, basta encontrá-la e saber exatamente como lidar com ela. Epicuro afirmava que precisamos dedicar nossos dias e nossa atenção a cada minuto de nossa vida, não vivermos em uma vida vazia e contemplativa, mas uma vida de momentos felizes. No livro ´´Epicuro, cartas para a felicidade` (editora Unesp. 2002) percebemos que em sua filosofia de vida, as pessoas felizes veem o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo. Gratidão com o passado porque ele é nossa trajetória de vida, viver o presente com otimismo e confiança e não temer o futuro porque não sabemos o que está por vir, e se não sabemos logicamente não podemos temer aquilo que não conhecemos. Ele dizia que as preocupações em excesso nos fastavam imensamente da felicidade.
Dentre as inúmeras reflexões que Epicuro nos deixou encontramos referencias a;
Justiça, quando ele diz que ´O mais belo fruto da justiça é a paz da alma`.
Bondade; quando diz que o prazer de fazer o bem é imensamente maior do que o de recebê-lo.
Ambição; Nada é suficiente para quem o suficiente é pouco.
Ética: caráter é aquilo que você é até quando ninguém está olhando.
Motivação; O impossível reside nas mãos inertes daqueles que tem medo de tentar.
O filósofo que defendia a liberdade dos homens e a busca pela felicidade interior, sustentava que os deuses não devem ser temidos, a morte não deve amedrontar, o bem é fácil de ser obtido e o mal é possível de ser suportado.
segunda-feira, 10 de junho de 2024
Pensar fora da caixa.
Pensar fora da caixa.
Muitos livros e artigos refletem muito bem o significado do termo ´pensar fora da caixa`, mas creio que poucos tiveram a felicidade de interpretar este conceito como Platão (347 A.C/428 A.C) filósofo e matemático da Grécia antiga. No texto Platão imagina um grupo de pessoas presas e acorrentadas em uma caverna de forma que só conseguissem ver projeções de sombras nas paredes ao redor, e consequentemente eles julgavam que tais projeções eram as suas realidades. Porem uma destas pessoas conseguiu fugir e conhecer a vida fora da caverna, e resolveu voltar e compartilhar com seus companheiros tudo que havia encontrado no mundo exterior. Mas para seu espanto aqueles que ficaram na caverna não acreditaram em absolutamente nada que ele disse, desacreditaram suas afirmações e o mataram para que sua influência não incentivasse outros a tentar a mesma façanha.
Para Platão, e acredito que também para muitos filósofos nos dias de hoje, a caverna simbolizava o mundo onde todos os seres humanos vivem. As sombras projetadas no interior da caverna representavam a falsidade dos sentidos, a hipocrisia e dissimulação das pessoas, enquanto as correntes simbolizavam os preconceitos, a ignorância e a soberba.
Para os dias atuais, viver na caverna representaria o mundo sugestionável, aquele mundo que traz o conhecimento a partir de como sentimos as coisas ao nosso redor, nossas sombras, mas com uma cômoda e falsa percepção de realidade. por outro lado a saída da caverna mostra a busca pela verdade, pelo verdadeiro `eu´, a busca pelo mundo inteligível encontrado somente quando se usa a razão.
sexta-feira, 10 de maio de 2024
O Homem e seu tempo
Lúcio Aneu Séneca, um dos mais célebres filósofos estoicos do Império Romano, escreveu em sua obra ``A brevidade da vida´´ que o homem deveria ter uma visão mais racional da maneira como utiliza seu tempo de vida. Ele alerta que não devemos pensar que um homem viveu muito, passou por experiências positivas apenas porque tem cabelos brancos e rugas no rosto, pois ele pode não ter vivido muito mas apenas existiu muito, na maior parte de sua vida viveu de maneira medíocre. Segundo ele, Algumas pessoas realmente vivem uma pequena parte de suas vidas, o restante não podemos chamar de vida na sua essência, mas apenas de uma passagem de tempo.
Segundo Séneca, o homem descuida seu presente preocupando-se com seu futuro, não devemos negar a nós mesmos a oportunidade única de viver o presente tentando organizar o futuro. A ansiedade daquilo que esta por vir depende do amanhã, e nos afasta cada vez mais do presente, e se não o vivermos hoje, amanhã ele já será passado. Não devemos protelar a realização de nossos sonhos pelo receio do futuro, agimos como mortais em tudo que tememos, mas como imortais em tudo que deixamos para fazer amanhã. O homem procura respostas sobre seu destino mas se as tivesse certamente não saberia o que fazer com elas, pois se cada um de nós pudesse ter em suas mãos a contagem exata de seus últimos dias, da mesma maneira como podemos fazer com nosso passado, inquietos ficariam aqueles que vissem apenas alguns anos a sua frente, outros nem tanto. Mas o importante é saber como usariam seus últimos anos, será que se revelaria a sombra obscura que até então estava escondida no fundo de suas almas, ou seus princípios morais, éticos e religiosos os fariam proclamadores de palavras e atitudes de bondade e esperança entre os menos favorecidos da sociedade. Talvez por esta incerteza o futuro ainda nos é uma incógnita, a vida segue seu curso e não se alongará pela ordem de um magistrado ou pelos clamores de uma nação. Da mesma maneira que tornou-se vida no primeiro segundo de sua existência, ela seguirá percorrendo pelo tempo, não se detendo nem tampouco desviando seu curso por motivo algum, e assim passamos uns pelos outros sem nos darmos conta de que carregamos algo valioso, único em cada um de nós, algo chamado vida, que seguirá obstinadamente até chagar em seu destino final. Infelizmente perdemos tempo precioso discutindo eventos que estão sob o controle do destino, no futuro, e negligenciamos o presente, aquilo que está sob nosso controle. A maneira imatura como alguns homens usam seu tempo gera uma carga de ansiedade muito grande, tornando-os perturbados pelos seus medos do que esta por vir, aflorando seus traumas mais íntimos, e até mesmo em seus momentos de lazer, com suas famílias ou em completa solidão continuam atormentados, mesmo quando estão totalmente sozinhos são a sua pior companhia.
quarta-feira, 10 de abril de 2024
Liberdade ou solidão
Sabe aquele momento em sua vida quando ninguém te acorda de manhã, e ninguém espera por você a noite, quando você pode fazer da sua vida o que quiser sem precisar dar satisfações. Alguns chamam isto de liberdade, outros chamam de solidão.
quarta-feira, 13 de março de 2024
Provérbio chinês
Existe um antigo provérbio chinês que diz que quando duas pessoas vem andando por um caminho, cada uma delas carregando um pão, quando elas se encontrarem, se elas trocarem os pães, cada uma delas vai embora levando um pão. Mas quando duas pessoas vem andando pelo mesmo caminho, cada uma delas carregando uma ideia, quando se encontrarem, se trocarem as ideias, cada uma delas vai embora levando duas ideias.
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024
A comodidade do pessimismo
O pessimismo tem um duplo sentido negativo, o primeiro é embaçar a perspectiva de futuro, o segundo e retardar a motivação, ou seja, destruir a ação quase por completa. O pessimismo é cômodo pois desobriga a nós de pensar no dia de amanhã. Apenas esperamos acontecer, e se não der certo diremos: eu já sabia.
quarta-feira, 10 de janeiro de 2024
Bons ou Maus
O escritor suíço Jean-Jacques Russeau (1712/1778), um dos principais filósofos do Iluminismo, em seu livro ``O contrato Social´´ escreveu que: O homem é bom por natureza, é a sociedade que o corrompe. Este é um assunto que muitos pesquisadores, filósofos e escritores já expuseram suas teorias mas ainda nada podemos afirmar como definitivo. Segundo oque o Filósofo e matemático inglês Thomas Hobbes escreveu em sua obra `` Leviatã´´, O Absolutismo tornava a sociedade mais organizada e segura, era necessário um estado soberano e forte para manter a paz do cidadão e educá-lo e que não necessariamente o indivíduo seria corrompido pela sociedade, mas é bem possível ele corromper a sociedade com a mal que trazia consigo. Para Hobbes o homem nasce mau e com instintos selvagens e cabe a sociedade humanizá-lo, excluindo qualquer preceito ou doutrina religiosa. Já o pensamento de Russeau era de que o homem bom em contato com a sociedade má era contaminado pela maldade ao seu redor. Seria a mesma teoria que afirma que as crianças nascem puras e tornam-se pecadores quando entram em contato com os males que estão a sua volta. Para Jean-Jacques Russeau o primeiro passo para para deixar o bem agir é não fazer o mal, temos que ser fiéis aos nossos princípios, oque não significa que sejamos preconceituosos ou orgulhosos. Russeau afirmava que devemos sempre agir com prudencia, pois a ideia de que temos razão pode nos enganar, mas a nossa consciência nunca. O filósofo pregava que devemos agir sempre com cautela e direcionados para o bem, nunca deixar que a opinião de terceiros possa influenciar em nossa concepção do bem e do mal, pois aquele que tem o grito mais forte nem sempre tem a competência para liderara o grupo. Russeau era um incentivador da cultura ao alcance de toda sociedade, segundo ele o cidadão é respeitado em proporção a sua cultura.
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